A USP e sua relação com a sociedade

scbava@diplomatique.org.br

Novamente vem à tona a discussão sobre a relação que a USP tem com a sociedade na qual está presente, a discussão do que deve ser público ou privado, o papel de uma universidade pública na relação com a sua cidade. Este tema aparece nas tensões quanto ao projeto de instalação do MAC – Museu de Arte Contemporânea, se dentro do Campus ou no parque Ibirapuera.  Penso ser um avanço democrático oferecer à população da cidade a possibilidade de conhecer e apreciar as obras de arte do MAC, ao invés de guarda-las no campus. Mas esta busca de integração com a sociedade traz também suas contradições: o ensino deve se configurar como uma formação técnica, buscar uma especialização ajustada às demandas do mercado de trabalho? Ou deve buscar uma formação mais ampla, onde a principal preocupação seja de combinar o desenvolvimento de capacidades técnicas com uma visão mais ampla da sociedade, com uma formação para a cidadania? Informar, mas mais do que isso, aprender a pensar, a questionar a realidade, a tornar-se sujeito ativo no meio em que vive. Certamente a grade curricular será diferente, dependendo das respostas á esta pergunta.

Os cuidados com as instalações e o ambiente da USP estão novamente em foco: laboratórios precários, falta de iluminação adequada, violência e insegurança no campus, falta de planos adequados de carreira para seus funcionários. Enquanto medidas concretas como uma melhor iluminação não são tomadas, esta discussão se arrastará sem enfrentar estes impasses. E quem cuida de tudo isso? Da mesma forma, é importante o questionamento da gestão centralizada e autoritária da administração, que poderia contar com a colaboração dos estudantes na solução, ou ao menos no encaminhamento de soluções, para problemas como os de segurança.  A criação da nova politica de segurança é exemplo disso. Como são tratadas as mulheres, em especial as jovens estudantes, nesta nova política? O Jornal do Campus está correto ao continuar demandando das autoridades universitárias a participação dos funcionários e estudantes nas decisões de como deve ser a vida no campus.

Mas nesta edição, o que mais chama a atenção é a seção “Em pauta”, escolhendo tratar da situação da Coréia do Norte e do tratado internacional sobre o comércio de armas. Aliás, teria sido interessante apresentar os números de exportação de armas da indústria brasileira…  Mas a questão é: por que a escolha destes temas? De novo está em questão a relação da USP com a sociedade na qual se inscreve. Por que não aprofundar os argumentos a favor da internacionalização da USP? Ou tratar das formas de cooperação internacional, especialmente as cooperações Sul-Sul, nas quais o Brasil está envolvido? Os trabalhos da Embrapa nos países da África são hoje uma referencia internacional de cooperação. Os agrônomos brasileiros estão fazendo sucesso por aí graças a grandes esforços de pesquisas que envolveram também as universidades. Os intercâmbios e trocas de experiências entre gestores públicos nos temas de segurança pública estão na ordem do dia. Não se poderia comparar políticas de segurança pública para universidades, adotadas em outros países, com as políticas de segurança da USP? Ou em apresentar outros programas de intercambio internacional de estudantes, aprofundando seu conteúdo?

É muito bom mostrar a criatividade e as iniciativas que surgem dos estudantes, como a roda de chorinho da ECA, que mostra outra face, mais alegre, humana e solidária, da convivência universitária.  Os anúncios das exposições no Paço das Artes, das atividades no TUSP, vão nesta mesma linha.  Também são positivas as iniciativas que vem da Superintendência de Cultura e Extensão, como o Pedala USP, de São Carlos, que tem uma pretensão pedagógica de sensibilizar a população da cidade para alternativas de mobilidade sustentável e para a necessidade de ciclovias. Aí a relação da universidade com a sociedade ganha uma perspectiva construtiva e promissora.