Abertura de sindicâncias na EACH é criticada por docentes

A EACH é uma unidade nova se comparada a outras tantas existentes na universidade. Além de sua produção acadêmica e de seus novos cursos, tem chamado a atenção o alto número de sindicâncias instauradas com participação de docentes. De 2009 a 2013 foram 16 processos, oito deles apenas em 2012. Segundo informe da Associação de Docentes da USP (Adusp), a maioria das unidades não abriu sindicâncias nos últimos quatro anos.

Questionada sobre o tema, a direção da EACH se defendeu: “Não é um número elevado considerando-se que a escola possui aproximadamente cinco mil alunos, 266 professores, 200 funcionários, dez cursos de graduação, sete programas de pós-graduação e é gerida sem departamentos”. Segundo o diretor Jorge Boueri, a atual gestão, que assumiu em 2010, mantém o número médio de quatro sindicâncias por ano.

Em relato da reunião do Conselho Universitário (Co), Adrián Fanjul, representante titular de doutores do Co, questiona os procedimentos empregados pela direção: “Sabe-se que a sindicância visa apurar autorias. Como explicar, então, sindicâncias sobre assuntos nos quais os responsáveis estão, de início, auto-identificados e não negam responsabilidade?”.

O representante ilustra a situação ao citar o caso de sindicância envolvendo Adriana Tufaile, professora de Ciências da Natureza e representante dos docentes no Conselho Técnico Administrativo (CTA) da unidade: “Um caso que considero gravíssimo é a sindicância aberta contra Adriana Tufaile por criticar, em uma lista de e-mails dos docentes, aspectos do funcionamento do CTA que tem a ver com as autoridades da Escola. Por que uma sindicância, se a autoria é dada de início?”.

Adriana Tufaile também critica o modo com que a direção tem tratado certas situações. “O maior problema não é o número alto de sindicâncias, algumas delas são até necessárias. Porém, a questão é como elas estão sendo encaminhadas e quais os motivos geradores”.

Intimidação

Ainda em seu relato, Fanjul expõe seu ponto de vista sobre a situação: “Quando a autoria dos fatos é absolutamente clara, a sindicância aparece como resposta da autoridade, na falta de outro recurso, contra algo que parece ter incomodado como crítica”.

A professora revela os desdobramentos dessa questão. “Tive uma conversa em particular com o diretor no dia primeiro de abril. Ele falou que a sindicância não era contra mim, ao que respondi que na portaria que abriu a sindicância está bem claro que ela seria para levantar as minhas responsabilidades em relação à mensagem na lista de e-mail”, explica.
Segundo ela, em reunião posterior, Boueri declarou que irá evitar a abertura de sindicâncias como primeiro instrumento de resolução de problemas administrativos e acrescentou que “o diretor também afirmou que a sindicância não era contra mim e que eu sou a culpada pelo clima de animosidade com a direção”.

A professora expõe seu lado: “Depois de me opor abertamente à administração no caso da carreira dos funcionários, eu me sinto perseguida pela direção da escola, pois sofri uma sindicância. Meu marido professor Alberto Tufaile já estava sofrendo uma sindicância que virou processo administrativo e a secretária que trabalhava comigo sofreu uma sindicância”.

Ao fim de seu relato, Fanjul questiona: “quando nada menos que uma representante docente está sendo “sindicada” por opinar em uma lista de e-mail, não há o risco de que essa mensagem seja avaliada como intimidação?”. Segundo ele, “a preocupação e a sensação de temor instalada entre docentes com os quais conversei impõe que este conselho acompanhe com atenção o desenvolvimento dos fatos nessa unidade e promova ações tendentes a um efetivo diálogo entre as partes envolvidas”, concluiu.

Para o diretor da EACH, a administração só vem cumprindo o seu papel: “A instauração de uma sindicância administrativa não é uma opção agradável para a direção, mas um dever de ofício para a apuração de possíveis irregularidades cometidas no âmbito da administração pública”.