Alunos da EEL reclamam de violência em Lorena

Além do crescente aumento de casos de roubos a alunos, repercutiu na faculdade uma denuncia de abuso sexual envolvendo estudantes da EEL
Protesto por segurança foi realizado pelos estudantes no dia 1º de maio. Foto: Diretório Acadêmico.
Protesto por segurança foi realizado pelos estudantes no dia 1º de maio. Foto: Diretório Acadêmico.

O feriado do 1º de maio, no Campus da USP de Lorena, foi marcado por um ato contra a violência na cidade. O protesto foi motivado por dezenas de assaltos e roubos a estudantes da Escola de Engenharia de Lorena (EEL) que já foram registrados. O caso mais recente aconteceu no dia 9 deste mês, quando um caixa eletrônico do banco Santander, localizado dentro do campus, foi destruído por uma bomba.

Um dos apoiadores da manifestação foi o professor Humberto Felipe da Silva que comentou a respeito do panorama atual dos alunos de Lorena. “No caso específico da cidade, os alunos da USP tem se tornado alvo freqüente de roubos, geralmente por possuírem um nível econômico mais elevado que a maioria dos cidadãos e portarem notebook e celulares.

Outros fatores são as repúblicas que ficam boa parte do tempo sem vigilância tornando-se fáceis de serem violadas, além dos ônibus circulares que também se tornaram alvo dos ladrões.”

Para o professor, o problema inclusive tem influenciado o rendimento acadêmico dos estudantes, principalmente pela sensação de insegurança. “Constantemente alunos tem que faltar às aulas porque foram vitimas de ladrões. Muitos estão receosos também de levar para a escola notebooks, hoje instrumentos importantes no processo de aprendizagem”. Diante dessa situação, os estudantes, organizados pelo Diretório Acadêmico, resolveram chamar a atenção da prefeitura e da sociedade para o problema.

De acordo com o Diretório Acadêmico da EEL, participaram do evento além de alunos da USP, moradores da cidade que acabaram tomando maior consciência da questão. Até o momento, poucas medidas efetivas foram vistas para melhorar a segurança local.

A direção do campus alegou que a Escola tem mantido relações estreitas com a Prefeitura no sentido de elaborar medidas que combatam o problema. Segundo a assesoria de imprensa da EEL, o responsável pela Segurança no Campus, Laércio Siqueira, informou que a unidade da USP de Lorena está providenciando um sistema de câmeras monitoradas 24h como medida de segurança. “Haverá guardas monitorando, em tempo integral, as imagens externas dos dois campi da USP da cidade, em uma sala blindada. A implantação do sistema já está sendo providenciada e deverá estar funcionando em breve”.

Violência contra a mulher

Outro acontecimento de violência local, desta vez ocasionado por alunos da própria EEL, também chocou estudantes e cidadãos de Lorena. Se a edição 407 do Jornal do Campus noticiou diferentes casos de violência física e psicológica ocorridos com alunas do Campus Butantã da USP, o relato de uma estudante do campus de Lorena mostrou que não se trata de um assunto exclusivo da capital. No Boletim de Ocorrência feito no dia 29 de abril, constou que a jovem sofreu violação a dignidade sexual e estupro em uma república da cidade. Os acusados ainda estão sendo julgados.

A versão da história da estudante é de que fora convidada por um garoto com quem já havia ficado anteriormente, para ir a uma festa em sua república. Chegando lá, por volta das 20h30, estava o garoto que a convidou, um amigo dele que não é da faculdade e uma garota da faculdade e moradora do prédio. A segunda garota teve que ir embora e ficaram apenas os três no apartamento. Após ingerir bebida alcoólica com os rapazes, sem desconfiar de nada, a estudante disse ter sentido um sono repentino. Foi quando os dois rapazes chegaram por trás e tentaram beijá-la. A vítima começou a chorar e os repreendeu, pedindo a chave para ir embora, o que foi negado. Para se resguardar a estudante foi para um quarto e por lá permaneceu por algum tempo. Com o forçar da porta, que estava trancada, os dois rapazes que já estavam no apartamento e mais outro morador, também da faculdade, entraram no quarto e começaram a conversar com a vítima. De repente todos partiram para cima dela e arrancaram suas roupas. Eles a beijaram e a agarravam à força. Um dos garotos deixou de prosseguir com o ato e ficou assistindo tudo, enquanto os outros dois continuaram. A estudante gritava e batia neles, enquanto o abuso sexual era cometido.

Apenas após este fato permitiram que ela fosse embora, por volta das 23 horas. Na hora ligou para seus amigos mais próximos, pra que fossem buscá-la. Também ligou para a mãe que lhe disse para ir a delegacia, no dia seguinte, denunciar o ocorrido. Os amigos foram com ela à delegacia, e deram muito apoio. Lá, questionaram porque ela foi sozinha à festa. A garota chegou a ler nas redes sociais o comentário “Se ela foi sozinha, escolheu passar por isso”. Para ela, no entanto, uma atitude como a desses estudantes não é certa. “Um deles era do Diretório Acadêmico. Eu pensava que no meio político as pessoas tinham mais cabeça, mais conhecimento. Muitas ficariam quietas, mas eu quero quebrar isso, expor o caso, tentar alguma justiça”.

O resultado, de acordo com ela, já tem aparecido, uma estudante denunciou o namorado que havia lhe agredido. “De inicio eu disse que não precisava de psicólogo, que estava bem, mas estava chorando dez vezes por dia. Agora, após atendimento, já estou muito melhor, choro bem menos. Às vezes me pergunto se tive culpa. Muitos perguntam, por que fui sozinha, que não deveria. Porém, para mim era algo normal, já havia ido a festas em repúblicas sozinha com um número maior de homens inclusive. Porém, você não deixa de ir a lugares onde existem pessoas em quem confia”.

A estudante aproveita a repercussão que o caso tomou para incentivar mais mulheres que passaram por isso a denunciarem. “Não está certo deixar passar. Porém, dentro da minha própria família me disseram que seria vergonhoso passar pelo exame de corpo de delito e lidar com toda a repercussão. Mas a maior humilhação, para mim, é a que se passa no momento. Nada supera isso”. A reportagem tentou contato com os demais estudantes envolvidos no caso para ouvi-los, mas não obteve resposta.

O Professor Nei Fernandes de Oliveira Junior, diretor da EEL disse que a Universidade repudia veementemente atos de violência de qualquer natureza e que a Escola, em particular, não tem registro de atos de violência (sexual ou não) cometidos dentro dos seus dois campi desde que ela existe. Enquanto a policia segue apurando os fatos, a Escola acionou uma profissional para auxiliar a estudante que segue em atendimneto pscicológico, já tendo retornado as aulas para realizar as provas do período.

Um outro lado

Para a estudante do campus da USP de Lorena, Bárbara Freitas, a EEL não deve ser conhecida apenas pelos acontecimentos locais mais polêmicos. “Apoio que casos de abusos sexuais sejam sim denunciados, mas me entristece pensar quanta gente só teve conhecimento desse campus que tem seis cursos de Engenharia e quase dois mil alunos, só por conta desse caso”. Para ela também deve ser noticiado o quanto estudantes de lá trabalham para promover uma comunidade mais igualitária, lutando contra a violência a partir da promoção de Projetos Sociais.

Um dos exemplos citados por ela, é o Projeto Criança Feliz, do qual faz parte e que foca em melhorar a qualidade de vida e dar perspectiva a jovens e crianças de bairros carentes da cidade. Além deste projeto, disse que há outros com causas ambientais, cursinhos da comunidade, além de diversas pesquisas desenvolvidas pelos alunos da EEL. “A solução da violência não virá apenas da prefeitura ou da universidade, mas também da conscientização do que cada um pode fazer para ter uma sociedade melhor”.