Campeonato da FFLCH alia reflexão ao esporte

Copa “Fora Rodas” teve início no curso de Letras, em 2012, com a proposta de fazer atraentes as discussões políticas e sociais no ambiente universitário

Um torneio de futsal criado por alunos do curso de Letras da FFLCH propõe, além da disputa esportiva, um espaço para reflexão e debate. O campeonato, nomeado de Copa “Fora Rodas”, acontece desde 2012 com o objetivo de tornar o futebol universitário um ambiente para discussão dos assuntos pertinentes ao papel social da USP.

“Os campeonatos da USP são uma overdose de atividades ausentes de reflexão”, diz Caio Greve, um dos organizadores do evento, aluno do segundo ano do curso de Letras. Com a criação de eventos esportivos politizados, nos quais se discutem as ações dos professores, dos administradores e outras pessoas envolvidas com a instituição, o espaço e o alcance da mobilização se ampliam. “Percebemos que dá pra fazer protesto e esporte juntos” conta. As discussões a respeito dos problemas da Universidade acontecem nas reuniões de organização dos eventos.

Na época da sua criação, a Copa Fora Rodas teve seis times inscritos, quase todos formados por alunos apenas do curso de Letras da FFLCH. O campeonato tem a duração de um semestre e as chaves são organizadas de acordo com o número de interessados. Para este ano, dez times se inscreveram. “A ideia é criar a terceira edição da Copa já no segundo semestre deste ano” diz Caio.

As equipes são nomeadas de forma bem-humorada – existem nomes como Time dos Presos e Arrocha os Gambé. No entanto, o campeonato é bem disputado e a proposta é séria. Alguns times são mistos, com homens e mulheres na mesma equipe. “Quase todos os times têm meninas também. Isso é uma forma de se colocar contra o machismo” explica o organizador.
Uma das jogadoras do Arrocha os Gambé, Jacqueline, diz que não vê problema na formação dos times com mulheres e homens. “O ritmo pode ser um pouco diferente, mas dá pra jogar”, diz ela, que foi autora do gol da partida contra os Jihad, realizada no CEPEUSP dia 27 de abril.

Nesta partida, o embate entre as equipes Jihad dos Brothers e Arrocha os Gambé terminou em três gols dos Jihad contra um da outra equipe. A tabela do campeonato, atualizada neste sábado, mostra que na frente, com seis pontos, está o time Inferno Coral, seguido pelo empate do Malibu e do Arrocha os Gambé, com quatro pontos. No entanto, esses dois times têm um jogo a mais que as outras equipes, e podem ser ultrapassados ainda nesta rodada.

Com homens e mulheres, times mistos conferem singularidade à competição. Foto: Mariana Melo
Com homens e mulheres, times mistos conferem singularidade à competição. Foto: Mariana Melo
Mobilização popular

O professor Marco Bettine, do Núcleo Interdisciplinar de Estudos sobre Futebol e Modalidades Lúdicas (Ludens) da USP, explica que a utilização do futebol como plataforma para mobilização popular não é recente. Grupos de operários já formavam clubes de futebol em fábricas na primeira metade do século XX. Apesar de terem finalidades recreativas, acabavam servindo como espaço para discussão sobre suas condições trabalhistas, já que as atividades políticas eram inibidas e vigiadas.

Na década de 80, a chamada Democracia Corinthiana ilustrou bem como o futebol pode ser uma cenário para manifestação de demandas populares. Nesta época, o clube tomava suas decisões de acordo com as votações entre todos os seus funcionários, garantindo títulos e mostrando ao Brasil que um ambiente democrático poderia ser positivo ao pais.

Para Bettine, o esporte pode se tornar um ambiente convidativo para o debate porque ele permite uma sociabilidade espontânea. Com a integração criada durante a atividade, as pessoas se colocam de forma mais receptiva. Este tipo de abordagem ganha da retórica tradicional porque tem um apelo maior às pessoas, aliando suas atividades recreativas e esportivas à sua condição de cidadão. “Futebol não tem ideologia, é uma expressão da massa importante e, com isso, se torna espaço para mobilização” aponta o professor.

Caio diz que os planos são de manter o campeonato, mesmo com nomes diferentes. “O próprio nome ‘Fora Rodas’ não vai continuar. É mais para caracterizar o evento como um protesto”.

O coletivo que organiza a Copa, o Grupo “Saussure for Agora”, também está organizando um torneio de sinuca.