Casa da Cultura Negra luta por institucionalização

Para o atual coordenador do Núcleo de Consciência Negra e o diretor da FFLCH, a estrutura precisa ser reconhecida pela universidade

Nas próximas semanas, um passo importante será dado em direção à construção da Casa de Cultura Negra. O Núcleo de Consciência Negra (NCN), em busca da confirmação de seu espaço na universidade, pretende lançar uma campanha no dia 17 de maio para arrecadar assinaturas de apoiadores da construção da casa, com um manifesto. A criação da casa já recebeu o apoio da direção da FFLCH.

Apesar do Núcleo ter sido fundado em 1987 – neste mês de maio será comemorado o seu 26º aniversário -, sua relação perante a USP nunca foi formalizada. Tentativas de acordo entre as duas partes já haviam sido realizadas anteriormente, mas sem resultado positivo.

Para a reitoria, o núcleo continua não tendo qualquer vínculo com a USP.

A construção da casa vem no sentido de tornar essa relação entre o NCN e a USP institucional, na forma da Casa de Cultura Negra. “A partir do momento que nos institucionalizarmos, viraremos o NACE, o Núcleo de Apoio a Cultura e Extensão”, diz o coordenador do núcleo Leandro Salvatico. “Nós passaremos, assim, a ter direito a um espaço na USP, como sendo uma parte da universidade.”

O núcleo pretende manter sua autonomia, mas a institucionalização trará uma série de benefícios. “Poderemos, por exemplo, elaborar um curso de “História da Arte Africana” e ele não será um curso do NCN, mas um curso da USP”, explica. O objetivo é integrar todos os cursos e frentes de estudo que tratem das questões étnico-raciais e das implicações do racismo na sociedade contemporânea.

Para tanto, o projeto precisa do respaldo jurídico de uma unidade, que virá na figura da FFLCH. “Acho importante a criação da Casa de Cultura Negra, a FFLCH apoia a iniciativa do Núcleo. Estamos apenas aguardando a formalização do pedido junto à Universidade”, diz o diretor da faculdade, Sérgio França Adorno de Abreu.

A maior incógnita se encontra no espaço físico que o novo núcleo ocupará. “O único problema que eu vejo é a questão espacial, talvez a USP não tenha disponível o espaço dentro das reivindicações do NCN”, explica Sérgio Adorno. Entretanto, a direção do NCN alega que a necessidade de suporte da unidade é apenas jurídica e que as novas acomodações não precisam se encontrar necessariamente na FFLCH. “Escolhemos estar ligados à FFLCH porque é uma escola com um histórico de acúmulo de estudos étnico-raciais, mas o novo local não será necessariamente lá dentro”, diz Salvatico.

A FFLCH atualmente conta com um Centro de Estudos Africanos (CEA) que, de acordo com o professor Sergio Adorno, também apoia a causa do Núcleo. “Apesar da reivindicação não poder partir deles, já que se trata de um departamento muito bem consolidado na universidade – o CEA foi criado em 1965 -, alguns professores estão envolvidos no processo.”

A campanha pelo recolhimento de assinaturas será uma tentativa de pressão política. “As assinaturas são necessárias do ponto de vista político. Virando o NACE a gente passa a ter direito a um espaço, mas isso não significa que a USP vai fornecê-lo. Ela pode alegar que não tem esse espaço hoje e ficaremos sem”, explica o coordenador. “Queremos criar um ambiente que a obrigue a ver a necessidade desse espaço. É vital que a gente reconheça a importância da cultura negra dentro da nossa sociedade”, completa.

Estrutura atual

A casa é uma requisição antiga do núcleo, que enfrenta problemas estruturais desde que foram iniciadas as obras para o Centro de Difusão Internacional e a Nova ECA, localizadas próximas à atual sede. “Nós estávamos fazendo uma reforma, mas na época em que os barracões começaram a ser demolidos [julho de 2012], tivemos que parar, porque eles derrubaram e deixaram a bagunça toda aqui do lado, e nós tivemos nosso material de aula roubado. Ficou bem complicado, mas nós estamos resistindo”, afirma Éder Martins, membro do Núcleo.

As obras continuam prejudicando e ameaçando o NCN, que tem seu acesso e sua visibilidade seriamente danificados, gerando reclamações principalmente dos frequentadores do período norturno do cursinho pré-vestibular, oferecido pelo NCN. O barracão do núcleo encontra-se ilhado em meio a tapumes e entulhos espalhados pelo calçamento. Os frequentadores do Núcleo precisam passar por algumas áreas perigosas – é possível notar pedaços de vidro, galhos de plantas e outros materiais espalhados pelo caminho que dá acesso ao local.

De acordo com o NCN, a intenção da Reitoria é construir o estacionamento do Centro de Difusão Internacional no espaço onde hoje eles se encontram, e a prioridade às obras acaba comprometendo o andamento dos projetos. “É frequente nós ficarmos sem água ou luz, porque eles cortam a luz dessa área por causa das obras, e nosso fornecimento fica prejudicado”, explica Eder.

Durante as próximas semanas, reuniões acontecerão na FFLCH para discutir a questão. Em seguida, as deliberações serão levadas para a Pró-Reitoria de Cultura e Extensão, que dará encaminhamento à institucionalização. O objetivo é que o manifesto seja protocolado no próximo dia 7 de maio.

No dia 17 do mesmo mês, inicia-se a campanha pelo recolhimento de assinaturas e apoiadores para a construção da Casa.