Comissão da Verdade da USP não foi implementada até hoje

A Comissão da Verdade da USP (CV-USP) ainda não foi implementada, após meses de movimentações, devido a discordâncias entre a reitoria e entidades. Segundo Renan Quinalha, membro da Comissão da Verdade do Estado de São Paulo e indicado para representar a pós-graduação na futura comissão da USP, ”os representantes da reitoria se comprometeram formalmente de que a comissão vai sair, mas nós não queríamos algo nos moldes que foram propostos, apenas com uma instauração por uma portaria da reitoria”.

A proposta da comissão é liderada pelo Fórum Aberto pela Democratização da USP, que reúne, entre outras entidades, Adusp, Sintusp, DCE e APG (Associação de Pósgraduandos da USP). No entanto, segundo Quinalha, a ideia não é fazer uma comissão “das entidades”, ou seja, com caráter extraoficial. “Queremos uma comissão com participação das entidades, mas formalizada, pois a CV-USP deve fazer recomendações ao final das atividades. Queremos, inclusive, que a proposta passe pelo Conselho Universitário”. Ele avalia: “Se fosse para a comissão sair apenas com uma portaria do reitor, já teria saído, mas não queremos algo com base frágil”.

Segundo Quinalha, uma proposta formal foi entregue à USP e agora está no gabinete do reitor. Ele também afirma que no último 25 de abril haveria uma reunião com os representantes da reitoria, mas foi desmarcada devido à problemas de agenda dos representantes da reitoria e ainda não há uma nova data. No encontro, seria feita a entrega dos nomes indicados para representar cada entidade na comissão, sendo três membros e três suplentes por entidade.

Para Quinalha, essa reunião também seria uma forma de pressão para apressar os trabalhos. Ele ainda diz: “Acredito que a CV-USP deve sair ainda esse semestre, ou ficará descolada das comissões da verdade do Estado de São Paulo e a Nacional”.

Para Artur Scavone, que foi aluno do Instituto de Física no início da década de 1970, “o clima (na Universidade) era extremamente pesado”. Ele conta: “Havia uma instalação do exército dentro do campus, perto do Crusp. Lembro de uma vez em que um jipe com militares chegou à nossa área de lazer e revistaram todos. Não viram nada no meu fichário, mas encontraram um livro marxista com uma menina e a levaram para o interrogatório”..

Artur, que hoje é aluno da graduação em filosofia na USP, conta: “Me envolvi com o movimento estudantil e na luta armada, primeiro na Ação Libertadora Nacional e depois em outro grupo. Fiquei anos preso”. Ele afirma: “Há sim um resquício de autoritarismo fortíssimo (na USP). Há na burocracia uspiana pessoas que agiam como informantes na época da ditadura. Além disso, a eleição para reitor é completamente indireta”.

Cela de presos da ditadura do antigo Deops reconstituída no Memorial da Resistência. Foto:  Gabriela Stocco
Cela de presos da ditadura do antigo Deops reconstituída no Memorial da Resistência. Foto: Gabriela Stocco