Acesso livre pode ter facilitado assalto na EACH

Criminosos armados invadiram o campus, renderam vigilantes e esvaziaram terminais bancários, contrariando sensação de segurança de frequentadores

Na madrugada do último dia 22, cerca de 15 homens armados invadiram o campus da USP na Zona Leste, renderam 29 vigilantes e um guarda e arrombaram 2 caixas eletrônicos instalados no 1º andar do prédio do Ciclo Básico da EACH. Todo o dinheiro disponível nos equipamentos foi levado, mas a quantia não foi divulgada pela polícia.

As informações preliminares apontam que os criminosos utilizaram maçaricos para cortar a lateral dos dispositivos e retirar o dinheiro. “Só a placa que eles retiraram [e que revestia o terminal] pesa no mínimo 300kg”, afirma Gabriel, membro da administração da unidade.

Não há câmeras ao redor dos caixas eletrônicos. A mais próxima fica dentro de uma agência bancária ao lado do local, que foi interditado.

Segundo informações da Polícia Militar, a ação do bando durou cerca de duas horas e ninguém ficou ferido. Um membro da equipe de vigilância que atende o campus USP Leste, e que preferiu não ter seu nome revelado, participou da troca de turnos com a equipe que estava no local no momento do crime e falou sobre a situação encontrada. “Eles estavam apavorados, tinham ficado amarrados e presos no Auditório Vermelho. Disseram que [os bandidos] seguravam metralhadoras, mas que não agrediram ninguém, que foram até educados com eles, os tranquilizaram”.

De acordo com o vigilante, os colegas rendidos pelos ladrões agiram corretamente ao não reagir à invasão. “O nosso trabalho aqui é proteger o patrimônio, e não colocar as nossas vidas a frente da arma”. Para o vigilante, muitas mortes poderiam ser evitadas em situações similares. “Nós passamos por treinamento para esse tipo de coisa, a vítima precisa manter a calma e fazer o que é mandado na hora. Às vezes, acontece o óbito do vigilante por erro dele”.

Dentre as pessoas ouvidas pela reportagem, houve consenso de que o campus pode ser considerado seguro. Everton Ribeiro, que trabalha na unidade desde o início do ano, aponta que o local é tranquilo. “Aparentemente, pelo menos, é um lugar calmo, apesar de os seguranças andarem desarmados. O que a gente ouve dizer é de furto de bolsas no bandejão, esse tipo de coisa”. Everton concorda com a hipótese levantada pela polícia de que pode haver envolvimento de funcionários no assalto. “Os ladrões sabiam de tudo que ia acontecer. Quem sabe seria melhor fazer um rodízio na equipe de seguranças a cada 6 meses, para evitar de alguém conhecer muito aqui e passar informações para outros lá fora”.

Sem controle de acesso

Uma hipótese considerada por um funcionário da administração que preferiu não se identificar é de que o bando já estava no campus desde antes do horário da ação. “Eles devem ter chegado mais cedo no dia, se escondido, esperado todos irem embora e, quando o campus ficou sem alunos, eles agiram”. Rádios, telefones celulares, coturnos e anotações sobre placas de veículo que acessaram o campus naquele dia foram roubados dos seguranças. De acordo com o vigia entrevistado, os vigilantes da P3 também foram rendidos.

O estudante Marcelo Gondo aponta que o acesso ao campus nem sempre é controlado, como anuncia a placa na entrada da unidade vindo da estação USP Leste da CPTM. “Às vezes pedem carteirinha aos pedestres. Quando entram carros, só pedem a identificação do motorista, mas os demais ocupantes do carro ninguém sabe quem são”. Apesar disso, ele afirma se sentir seguro. “Sei que há furtos no bandejão, mas acho tranquilo, de um modo geral. Roubo de carro aqui, por exemplo, nunca ouvi falar”.

Projetos de segurança

Os planos de melhoria na segurança dos campi da USP, desenvolvidos desde o assassinato de um aluno da FEA, em 2011, enfrentam demora e burocracia para a implantação. A ideia é acelerar o desenvolvimento de programas até o segundo semestre desse ano.

A administração da EACH não se pronunciou oficialmente sobre o acompanhamento do caso, alegando que deve aguardar a conclusão do inquérito policial.

Durante a visita da reportagem do JC ao local, no dia 24, entre as 15 e 16 horas, o acesso vindo da CPTM estava liberado, sem qualquer tipo de controle, tanto no horário de chegada, quanto na saída. Foi solicitada uma cópia do Boletim de Ocorrência policial, mas não houve retorno até o fechamento desta edição.

Durante arrombamento dos caixas, vigilantes da EACH foram mantidos presos