Direito, Medicina e Poli buscam modernizar currículo

Vistas como tradicionais, grandes faculdades questionam a necessidade de reformular seus currículos e incentivam debates entre alunos e professores

A constante necessidade de transformação, modernização, profissionais  multidisciplinares e a presença de tecnologias cada vez mais avançadas têm feito com que tradicionais faculdades da USP busquem aprimorar suas grades curriculares. É o que está acontecendo na Escola Politécnica (Poli-USP), na Faculdade de Medicina e na Faculdade de Direito São Francisco, que passam por intensos debates a fim de modificar e modernizar seus currículos.

O aluno egresso é que sentirá os principais impactos das mudanças propostas para os cursos de Engenharia. Segundo o professor e pesquisador Paul Jean Jeszensky, um dos responsáveis por coordenar o projeto dos povos currículos, o perfil atual do aluno é de um engenheiro generalista, mas com alguma especialidade numa área específica, que depende do curso ou ênfase que optou. O que se espera alcançar é a formação de um profissional mais plural e menos especialista. Jeszensky ressalta que a especialização não deve ser encarada como um termo pejorativo, mas que ela deve ser buscada no exercício da profissão e não durante a construção do engenheiro recém-formado. “A formação dos alunos  diferenciará os nossos egressos em relação aos demais por uma bagagem muito sólida nos fundamentos da engenharia aliada a uma grande capacidade para adaptação e atualização”, explica.

No curso de Direito da Faculdade São Francisco, a maior crítica recai sobre um curso atualmente muito engessado, o que faz com que o aluno transite pouco por outras áreas que a própria universidade oferece e amplie seu conhecimento. O mesmo acontece na Medicina, que percebe a necessidade de mais integração entre disciplinas básicas.

Mudanças Profundas

Entre as principais mudanças para o curso de Engenharia, está a maior flexibilização da formação, permitindo que o aluno trace seu caminho e o adapte constantemente. Jeszensky dá como exemplo a curta vida das tecnologias: “A maioria das profissões de hoje não existia a poucos anos atrás. Assim, é muito importante se adaptar e aprender a aprender sempre”.

Alexandre Ferreira, aluno de Direito da Faculdade São Francisco e presidente do Centro Acadêmico XI de Agosto, conta que as mudanças são vistas com bons olhos pela maioria dos estudantes. Segundo ele, diversos debates têm acontecido entre alunos, professores e representantes os departamentos do curso. A expectativa é que até 2015 as mudanças já estejam implementadas.

“Foi formada uma subcomissão dentro da graduação da faculdade e estão sendo feitas consultas com alunos e docentes e estudos comparativos com outras faculdades de Direito no Brasil e no mundo para entender como podemos fazer a reforma da melhor maneira possível”. Alexandre explica que a maior necessidade está em enxugar o grande número de matérias obrigatórias e permitir que o aluno tenha mais liberdade em aulas optativas. Dessa forma, o aluno poderá direcionar mais a sua formação.

Além disso, atividades mais práticas também estão entre os pedidos dos alunos. “É importante sair um pouco da sala de aula, conhecer o dia-a-dia do Direito, porém ainda há pouco incentivo para atividades complementares e de extensão. Boa parte dessas iniciativas é hoje organizada pelos próprios alunos”, explica o presidente do Centro Acadêmico. Já no curso de Engenharia, o professor Jeszensky explica que pesquisa, extensão e intercâmbio são atividades ao alcance dos alunos e que, mesmo com uma reformulação curricular, esses projetos continuarão tendo importância.

Murilo Germano, Diretor de Educação Médica do Centro Acadêmico Oswaldo Cruz, da faculdade de Medicina da USP, conta que o assunto também está sendo debatido no campus. As conversas, ainda em fase inicial, têm como objetivo entender as primeiras necessidades do curso. “Alguns pontos já foram levantados, por exemplo, a necessidade de mais integração entre as disciplinas do ciclo básico e maior tempo livre para estudos além das atividades obrigatórias”,explica Murilo.

Recentemente, a Faculdade de Medicina recebeu workshops, nos quais foram apresentadas novas tecnologias que podem impactar os estudos, modelos didáticos e estruturas de aula, alavancando mais reflexões sobre futuras mudanças. “São ainda sugestões, propostas, para criar a conversa entre alunos e professores e então entender o que pode trazer mais benefícios ao curso”.

Vistos como cursos tradicionais, alunos e professores já esperam por resistências daqueles que mantêm visões conservadoras sobre os currículos. “A unanimidade nunca foi a nossa meta, até porque se aprende bastante com opiniões divergentes”, conta Jeszensky. “Até mesmo a resistência pode ser benéfica para que tenhamos visões de todos os lados e possamos encontrar propostas em conjunto”, conclui o aluno de Medicina.