Quem ganha com programas de extensão?

Silvio Caccia Bava
scbava@diplomatique.org.br

 

Numa visão elitista do papel da Universidade, os programas de extensão servem para levar para a sociedade um pouco daquilo que a Universidade produz. Nesta visão os programas de extensão não se integram com o ensino e a pesquisa, eles são algo como um apêndice, ou “bônus” que a universidade oferece ao seu “em torno”. Generosidade? Filantropia? Um pouco de cultura, música? Seja qual for o entendimento, certamente estes programas têm um lugar bastante secundário nas atividades e compromissos da universidade. Basta ver a parcela do orçamento que consomem. A universidade reafirma desta perspectiva seu isolamento da sociedade na qual se inscreve. Uma ilha de excelência que ignora os problemas sociais e políticos que, em principio, deveriam ser seu principal objeto de atenção. O ensino e a pesquisa, cada vez mais orientados para atender as necessidades do mercado, vão formando técnicos e ignorando que estas pessoas são cidadãos e cidadãs que, como tal, vivem em sociedade e deveriam abordar as questões coletivas, trazer para a agenda da produção do conhecimento, para a formação de seus alunos, os desafios da realidade cotidiana.

Faz muito bem o JC ao trazer para suas páginas o tema dos programas de extensão. Essa iniciativa abre a possibilidade de buscar aprofundar o significado da extensão, os benefícios que seus programas podem trazer para a Universidade. Como, por exemplo, as incubadoras de cooperativas populares, uma das iniciativas da extensão, impacta – ou poderia impactar – os cursos de economia, sua grade curricular? Como transformar, a partir da vivencia de seus alunos, a produção do conhecimento em uma ferramenta de transformação social?

Segurança alimentar, controle da poluição e sustentabilidade ambiental, mobilidade nas cidades, utilização de materiais construtivos, planejamento urbano, prevenção de doenças endêmicas, segurança pública, discriminações de todo tipo, são apenas exemplos de uma agenda que a sociedade pode oferecer a uma Universidade que se abra democraticamente para ouvir o que a cidade aponta como prioritário.