Vigilantes denunciam condições de trabalho

Funcionários criticam ausência de itens básicos como água, produtos de limpeza e cadeiras, e alegam sofrer pressão dos agentes da PPUSP, antiga Guarda Universitária.

Responsáveis pela segurança dos bolsões de estacionamentos da Cidade Universitária e arredores das faculdades, os vigilantes terceirizados da USP se veem cada dia mais obrigados a trabalhar em condições precárias. Escalados para fazer a vigília em guaritas de pouco mais de 1,5 metro quadrado de área, anexas a lavabos extremamente compactos, eles afirmam acumular funções que vão muito além de seus contratos, caso queiram manter um ambiente “minimamente habitável”.

“Quando o banheiro fica sujo, a gente mesmo limpa. Não tem faxina. Até aí tudo bem. O problema é que também temos que trazer de casa os produtos de limpeza”, conta Renato*, que trabalha em uma guarita na avenida Professor Luciano Gualberto. Questionado sobre a presença de insetos no local de trabalho, ele ironiza. “Isso aí é normal. O que pega é ficar sem água, como hoje”. Segundo o segurança, a guarita deixou de ser abastecida por conta de um cano que foi rompido nas redondezas. “Pela minha experiência, vamos ficar sem água por mais alguns dias”.

Para o vigilante Ricardo*, que trabalha próximo à raia olímpica, não falta apenas manutenção para que as guaritas tenham condições dignas, mas também mais espaço. “Isso aqui já foi construído errado. Mal há lugar para uma pessoa sozinha, muito menos para ela guardar uma mochila ou algo para comer”. Ele aponta estantes improvisadas próximas ao teto do banheiro, onde os vigilantes guardam suas coisas. E questiona: “E se eu quiser guardar uma marmita? Deixo no banheiro também?”.

Claudio*, colega de Ricardo, também reclama das dificuldades para almoçar. “Mesmo quando o almocista [substituto durante o horário de almoço] está aqui, eu vou comer onde? Não tem geladeira e não tem microondas para nós por perto. Algumas unidades não deixam nem utilizar suas copas”, protesta.

As guaritas também pecam, segundo Claudio, pela falta de itens simples, como filtro de água, cadeiras e até espelhos de segurança. Quem resolve estas carências, assim como no caso dos produtos de limpeza, são os próprios vigilantes. “É tudo improvisado, mas necessário. Sem esse espelho a gente pode ser pego desprevenido”, explica, apontando para um retrovisor quebrado de bicicleta amarrado à janela.

Relação com a PPUSP

Embora sejam funcionários terceirizados, os vigilantes dizem sofrer assédio dos agentes de Prevenção e Proteção Universitária (PPUSP) – a antiga Guarda Universitária. Segundo Wilson*, que trabalha na avenida Lineu Prestes, há uma “marcação cerrada” por parte destes funcionários. “Se saímos para beber água e deixamos a guarita fechada por alguns minutos, eles nos acusam de dar pelé [enrolar]”, afirma. “E se eles assinam um relatório falando qualquer coisa da gente, no dia seguinte a gente é remanejado, sem aviso prévio”. Segundo o vigilante, há colegas que são instruídos pelas PPUSP a trabalhar nas redondezas da USP. “Nossa função é fazer a segurança interna. Acho que é completamente irregular trabalhar fora dos muros da USP, onde não tem nem guaritas”.

Legislação

A presidente Dilma Rousseff sancionou em dezembro do ano passado a lei 12.740/2012, que estendeu a aplicação do adicional de periculosidade de 30% a trabalhadores expostos de forma permanente a risco acentuado de roubos ou outras espécies de violência física. No entanto, a demora do Ministério do Trabalho para regulamentar a norma, segundo o SEEVISSP, sindicato da categoria, fez com que as empresas mantivessem o adicional de apenas 18%, conquistado anteriormente em todo o Estado.

O maior receio dos vigilantes é de que o novo texto exclua funcionários que não trabalham armados. “Só porque não trabalhamos armados, não corremos risco de morte? Só de eu estar uniformizado, já sou um alvo fácil”, afirma Gabriel Monteiro, vigilante que trabalha próximo à Portaria 1 da USP.

Procuradas seguidas vezes pelo Jornal do Campus para explicar as condições dos vigilantes e das guaritas, a reitoria e a Evik, empresa que contrata os vigilantes terceirizados, não se manifestaram até o fechamento desta edição.