Produção audiovisual da USP ganha o mundo

Curtas-metragens da ECA e documentários da FFLCH encontram espaço fora dos limites acadêmicos em mostras, festivais e na TV Universitária

Entre a ficção e a vida real, a produção audiovisual da USP tem conseguido ultrapassar as barreiras acadêmicas e alcançam cada vez mais espectadores em diferentes países. Entre as produções, o curta-metragem “O Fim do Filme” já ganhou prêmios em parte dos 34 festivais em que já concorreu, e o “ O Caçador de Marcéu” será exibido no 8° Festival de Cinema Latino-Americano em São Paulo. Além disso, a produção de documentários etnográficos do Lisa (Laboratório de Imagem e Som em Antropologia), fruto de mais de duas décadas de pesquisas, começará a ser exibido a partir de agosto na programação do Canal Universitário.

O curta-metragem “O Fim do Filme” retrata o encontro entre João, que trabalha em uma videolocadora, e uma cliente da loja. Ele tem a mania de contar o final dos filmes aos clientes. Ela, a de assistir sempre o mesmo filme. Gravado inteiramente em película, com imagens em branco e preto gravadas na França e cenas de western gravada com filme vencido, para dar o aspecto desejado, o filme põe em discussão o quanto o final de uma história é realmente importante quando comparada à narrativa. “Na verdade, o final não é o mais importante e sim o processo”, analisa André Dib, diretor da produção.

(Imagem: Gabriely Araujo / Reprodução)
(Imagem: Gabriely Araujo / Reprodução)

O curta ainda irá concorrer a outros festivais até o final do ano. Para Dib, que no CINE-PE, Festival de Cinema de Pernambuco, ganhou a categoria Melhor Diretor, um dos pontos mais importantes de viajar com o filme pelos festivais é, além de obter reconhecimento, conhecer pessoas da área de diversos lugares e fazer contatos. “Além de estar em contato frequente com esse mundo e assistir a tantos outros curtas e longas metragens que dificilmente vemos fora do circuito de festivais, é uma experiência inspiradora”.

Da trama romântica para o fundo do mar, a animação “O Pescador de Marcéu”, de Pedro Moscalcoff, conta a história de um pescador que fisga um peixe encantado que o carrega ao fundo do mar, onde outros pescadores estão na mesma situação. Novamente tocados pelo peixe mágico, sobem até a superfície e começam a pescar gaivotas, quando então os dois mundos separados pela superfície da água se fundem.

Para Moscalcoff, a mentira bem contada pode ser a fantasia de um sentimento verdadeiro. “Não é atingindo somente o cérebro do espectador que um filme cumpre a sua função enquanto obra de arte. Temos que agir sobre o irracional, sobre o coração”.

A primeira exibição de “O Pescador de Marcéu” foi feita no Museu de Imagem e Som (MIS). O filme foi exibido também em Stuttgard, na Alemanha, no festival chamado “Film Sharing” e será exibido em Sandander, na Espanha, no festival “5 Picknic Film Festival” que ocorrere de 24 a 30 de Junho. “A partir de agora a intenção é exibi-lo no maior número de festivais possíveis. Esgotadas suas possibilidades em festivais, pretendo colocá-lo na internet com o intuito de alcançar outro público”, afirma o diretor.

Saindo do mundo da ficção para a realidade, o Lisa, Laboratório de Antropologia Visual da FFLCH, com reconhecida contribuição acadêmica na área, começará a exibir suas produções de mais de 20 anos no Canal Universitário. Os documentários serão exibidos dentro da grade da TV USP, em programas de 30 e 60 minutos, a partir do dia 05 de agosto. Os filmes “Vende-se pequi” (2013) e “A Arte e a Rua” (2011) serão os primeiros a serem exibidos.

A Arte e a Rua é um retrato etnográfico das práticas artísticas em Cidade Tiradentes, no extremo Leste de São Paulo, onde vivem cerca de 220 mil pessoas. O filme já foi exibido em festivais como o Pierre Verge, de cinema etnográfico, sem ganhar prêmios. Vera Hikiji, vice-coordenadora do Lisa e diretora do documentário, também já o apresentou para professores de escolas estaduais da Zona Leste. “Nossa ideia é que o filme seja apropriado pelos alunos e professores. Chegar no público onde ele foi feito, na periferia.”

O filme e a fotografia são ferramentas da pesquisa antropológica, mas não só, afirma Vera. Desde o final dos anos 90, com o início dos projetos temáticos apoiados pela Fapesp, o laboratório tem feito uso desta ferramenta não só como registro, mas também pensando em um produto que possa ser exibido para um publico geral. “Difundir um produto feito na academia para um público mais amplo, seja para festivais ou para exibição na televisão, principalmente TVs públicas”.

Para Vera, é importante que o produto da pesquisa não fique restrito ao meio acadêmico. Além da transmissão na TV Universitária, o laboratório conta também com um canal no portal de vídeos Vimeo, inclusive alguns com legendas para deficientes auditivos. Mais uma forma de disseminar a produção audiovisual para fora dos portões da universidade.