Estudantes divergem sobre uso de intercâmbio

Estudantes da USP partem ao exterior para realizarem o intercâmbio todos os anos. Ao se depararem com o atual sistema de ensino universitário europeu, começado com a Declaração de Bolonha, brasileiros têm diferentes opiniões e questionam o modelo de ensino adotado nos países desenvolvidos.

A Declaração de Bolonha data de 1999 e teve duração prevista de 10 anos. Segundo a Comissão Europeia para Educação, seu objetivo principal foi “fazer o Ensino Superior Europeu mais compatível e comparável, mais competitivo e atrativo para europeus e estudantes de outros continentes.” Ainda segundo o site oficial, “a reforma é necessária para a Europa competir em desempenho com os melhores sistemas de ensino do mundo”. Para atingir essa excelência, a ideia básica foi padronizar o sistema universitário dos países que assinaram a declaração a fim de permitir que qualquer europeu estude nas melhores universidades do continente. A padronização foi feita ao estilo norte-americano, instituindo em grande parte da Europa os títulos de bacharel, mestre e doutor.

Paulo Geovane, “P.S”, cursou Letras e hoje faz doutorado na Universidade de Coimbra, Portugal. Comparando o modelo de ensino superior europeu com o brasileiro, P.S diz que em Coimbra “os professores exigem trabalho e dedicação por parte dos alunos, e o curso superior é, de fato, visto como um trabalho, tanto que, ao iniciarem a rotina de estudos, o estudante não diz que vai estudar, mas sim que vai trabalhar. Por isso, o ensino superior na Europa é visto por outro prisma: o trabalho.

Jonathas Neves Facre Ferreira, que também estudou Universidade de Coimbra, aponta outra diferença no modelo de ensino: “Alguns professores da Universidade de Coimbra seguem um modelo mais conservador de ensino, no qual se percebe um certo distanciamento.” Quanto ao lado acadêmico da experiência ele acredita que “espera-se que o aluno argumente e, de forma crítica e coerente, procure fazer um texto aprofundado sobre o que é exigido na avaliação.”

Entretanto, o estilo técnico percebido por Facre e P.S não é unanimemente positivo.  Mariana Lopes, aluna de Letras que estudou na França em 2012, relembra: “pensei que o curso seria fácil, parecido com o que estava acostumada na USP. Por isso, resolvi me preocupar em ter uma experiência cultural mais ampla, viajar para vários lugares e ter novas experiências.” Mas, “quando chegou a metade do semestre, recebi uma enxurrada de trabalhos que necessitavam de bastante dedicação, mas nenhuma reflexão. Como já tinha passagens compradas para visitar diversos países, acabei não conseguindo fazê-los da maneira adequada.”

Avaliando as experiências e dificuldades do intercâmbio e o modo de ensinar adotado na Europa, Mariana acredita que lá “pensa-se mais nas empresas e no mercado de trabalho do que em formar mentes”. Já P.S conclui que “Aqui [em Portugal], eu vi que a aula é, na verdade, apenas um complemento de um curso que começa da porta pra fora, na rotina diária, no pouco a pouco dos dias de estudo extra sala de aula.