Peça do Tusp disputa prêmio

A peça As estrelas cadentes do meu céu são feitas de bombas do inimigo despertou a atenção do público com as indicações que recebeu ao Prêmio Shell 2013 e deixou a plateia do Teatro da USP (TUSP) lotada durante sua temporada de apresentações, que se encerrou no dia 18 de agosto. Com produção dos artistas da Cia. Provisório-Definitivo, formada por ex-alunos da Universidade, o espetáculo se baseia em relatos retirados de diários de crianças e adolescentes que presenciaram conflitos emblemáticos, como as duas grandes guerras, a Revolução Russa e a Intifada Palestina.

A “peça-documentário” opõe rostos iluminados às máscaras dos bonecos. Foto: Débora Gonçalves

Contudo, mais do que uma retratação fiel desses relatos, o diretor Nelson Baskerville e o conjunto de artistas da companhia construíram, nos palcos, um ambiente fantástico que mistura os rostos mascarados e iluminados das personagens com as figuras de manequins, bonecas, braços de plástico e caixas de papelão. A produção foi indicada ao Prêmio Shell 2013 em duas categorias, a de direção, a Baskerville, e a de iluminação, a ele e a Aline Santini.

As indicações ao Prêmio foram inesperadas para o grupo, que, além da empolgação natural pelo reconhecimento de seu trabalho, atenta para o interesse despertado pela peça sobre o público depois que elas ocorreram. O ator Pedro Guilherme afirma que, no início das apresentações, o espetáculo contava com plateias escassas, o que desmotivava o trabalho da equipe. Porém, esta situação se reverteu e possibilitou o reconhecimento da relevância artística e cultural da peça.

Produzida em um processo colaborativo entre Baskerville e a Cia. Provisório-Definitivo, que costuma trabalhar com diferentes diretores de acordo com os objetivos de seus projetos, a peça compõe-se por meio de elementos reais e ficcionais que se complementam, embora seja apresentada pelo grupo como uma “peça-documentário”. O diretor Nelson Baskerville afirma que a linha existente entre ficção e verdade no teatro é muito tênue, pois, logo que se leva uma realidade aos palcos, ela já passaria ao irreal.

Afora os relatos dos diários – retirados dos livros Vozes Roubadas: Diários de Guerra, de Zlata Filipovic e Melanie Challenger, e do Diário de Anne Frank – a guerra do tráfico das periferias de São Paulo também ocupou um lugar na encenação, além de o grupo acrescentar outras cenas de próprio punho. “As ideias de colocarmos algumas cenas que não estavam nos livros possibilita que vejamos a linha que existe entre algo que realmente aconteceu e algo que poderia acontecer”, declara o diretor.

Existe uma certeza que permeia a encenação, a de que toda guerra é motivada pela ambição humana. A partir disto, Baskerville diz que a intenção com a peça é fazer as pessoas se perguntarem qual guerra estaria em andamento “neste exato momento”, visto que o homem viveria em conflito constante. Conforme o diretor, o espetáculo é um “provocador de reflexão”, que, ao apresentar as perspectivas de crianças e adolescentes, mostraria de forma “pura” como a guerra se reflete no cotidiano.