Poluição de solo na EACH causa greve e diretor cai

Alunos, professores e funcionários entram em greve em meio a problemas ambientais e ampliam seu protesto ao pedir a democratização da Escola

A situação ambiental do campus da USP Leste, onde se localiza a Escola de Artes e Ciências Humanas (EACH), causou reação dos professores no dia 10 de setembro. Em assembleia, a categoria decidiu entrar em greve. No entanto, o que teve início com a preocupação dos docentes pela saúde dos que frequentam o campus, acabou envolvendo os alunos e funcionários e culminou na queda do diretor Jorge Boueri.

A professora Beth Franco falou das condições para o fim da greve: “nós permaneceremos paralisados até que a USP crie condições para o trabalho, apresente a documentação a respeito da situação ambiental da EACH e as responsabilidades por essa situação sejam apuradas.”

Deste modo, foi realizada uma Assembleia dos Estudantes, que chegou à questão da democratização da EACH. Ficou, então, decidido o apoio à greve dos professores, e outras duas pautas foram acrescentadas: a renúncia dos professores Jorge Boueri e Edson Leite, diretor e vice-diretor da escola, e o estabelecimento de uma comissão tripartite e paritária para avaliar o regimento de escolha da diretoria.

Ocorreu, depois disso, uma congregação aberta, na qual os alunos compareceram em massa. Ficou definido que professores, funcionários e estudantes teriam poder de voto e que o que fosse decidido por eles seria referendado pela Congregação.

Boueri abordou os problemas ambientais do campus. Ele leu os resultados de uma Sindicância feita em 2011 pela Reitoria e pela Superintendência do Espaço Físico (SEF) da USP, documento desconhecido pelos docentes até então. Nele constava que a concentração de compostos orgânicos no solo do local estava acima da média apenas em algumas amostras retiradas do terreno próximo à chaminé da EACH, contrariando uma advertência que a Escola recebeu no mês de julho.

Outro ponto de discussão sobre a situação ambiental da Escola é a terra depositada em seu terreno ao longo de 2011. Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo na época, o diretor admitiu que não tinha um registro formal da doação e que um funcionário seu havia lhe dito que a terra tinha vindo do Parque do Ibirapuera – o que foi negado pelos responsáveis pelo Parque. Ainda em junho de 2011, Boueri, em nome da EACH, recebeu uma notificação do Diretor do Parque Ecológico do Tietê, do qual ela faz parte, para que “qualquer tipo de movimentação de terra ou entulho na área de concessão” fosse paralisada. Contudo, ela foi concluída e o solo ainda é de origem desconhecida.

A maior parte das manifestações dos professores se focou no problema ambiental. No entanto, o debate pela democracia acabou se tornando o centro da discussão. Além das acusações sobre a falta de responsabilidade quanto aos problemas ambientais, Boueri e Leite também foram acusados de perseguir funcionários e docentes por meio de sindicâncias – apenas no ano passado ocorreram oito.

Assim, os estudantes propuseram a demissão dos dois, apoiados no artigo 39 do Regimento Geral da USP, que dá à congregação o poder de “deliberar sobre a aplicação da pena de demissão de membros do corpo docente, assegurado a este amplo direito de defesa, encaminhando o processo ao Reitor para execução”. A diretoria da EACH passaria ao professor de mais alta categoria e mais tempo de docência, como estabelecido no Regimento. Ele ficaria responsável por organizar, junto com uma comissão tripartite composta por representantes dos docentes, estudantes e funcionários, uma nova eleição em outubro.

As três categorias votaram pelo aceitamento da proposta dos alunos. O professor Luís Menna assumiu a direção da EACH interinamente, e declarou: “Vamos lutar juntos por uma EACH mais democrática, mais aberta e mais transparente”. Falta agora a aprovação da Reitoria.

tilizando máscaras higiênicas, grevistas pedem democracia. Foto: Odhara Caroline Rodrigues