Pouco procurada, bolsa de intercâmbio financia projetos de alunos no exterior

Termina no próximo dia 6 de setembro o prazo para que estudantes de graduação se inscrevam na bolsa Empreendedorismo. O programa, promovido pela reitoria e sob responsabilidade da Agência USP de Inovação, busca selecionar alunos com perfil empreendedor para participar de estágios em instituições do exterior.

No total, 150 bolsas são oferecidas para estudantes de qualquer unidade da USP desenvolverem projetos fora do país. Para se inscrever, é necessário elaborar um plano de atividades a ser realizado durante o intercâmbio e conseguir uma carta de aceitação da instituição escolhida.

“Essa é a diferença. As bolsas de mérito acadêmico propiciam ao aluno experiência apenas em universidades com as quais a USP tenha convênio estabelecido, onde ele pode cursar disciplinas que complementem sua formação. Na bolsa Empreendedorismo, o estudante realiza o estágio em qualquer universidade, laboratório, instituição de pesquisa ou até em empresas, mesmo que não exista convênio. É responsabilidade do estudante a busca pelo aceite na instituição onde realizará seu projeto”, diz Selma Shibuya, responsável pela Gestão de Projetos na Agência USP de Inovação.

Se selecionado, o estudante recebe um auxílio mensal que pode chegar a mais de R$ 3.800, auxílio para passagens aéreas e seguro-saúde. Mesmo assim, não é fácil encontrar pessoas dispostas a pleitear uma vaga. Ano passado, o prazo para inscrições foi adiado pela baixa procura. Este ano, ainda restam 80 bolsas sem dono.

A justificativa para a baixa concorrência pode ser o perfil específico de aluno que é procurado. “Buscamos um empreendedor que tenha projetos inovadores e que busque locais onde possa exercer atividades inovadoras, em qualquer área de conhecimento”, conta Selma.

Sem rotina

Caio Martins, 22, é estudante da Faculdade de Direito e recebeu a bolsa no início deste ano. Durante seis meses, ele estagiou em uma incubadora que fazia parte da prefeitura de Florença, na Itália.

“Por ser um pesquisador independente, eu não tinha rotina. Desenvolvia minha pesquisa sobre incubadoras com razoável liberdade, sem precisar ‘bater cartão’. Mas tive que aprender a ter disciplina e melhorar minha organização. Você acaba criando um senso de responsabilidade que é diferente do intercâmbio tradicional”, acredita o estudante, que voltou ao Brasil em agosto.

Caio Martins (segundo da esq. para a dir.) no evento “Startup Weekend”, em Bruxelas, Bélgica. Foto: Arquivo Pessoal

Ao contrário de outras bolsas para alunos de graduação, Caio não conviveu com jovens intercambistas. “Isso foi bem diferente. Geralmente me relacionava com empreendedores, consultores e empresários. Na hora de me divertir, o jeito era viajar e encontrar amigos que estavam em diferentes países da Europa.”

Os colegas de Gustavo Toshio Yasunaka, 21, aluno de Administração da FEA que está em Cingapura há um mês, também são mais velhos. “Há duas semanas estou trabalhando com PhDs, doutores e alunos de MBA. Acredito que eu seja a única pessoa de graduação. Tem sido uma experiência e tanto”, diz.

O estudante foi aprovado para participar de uma equipe da National University of Singapore que aproveita tecnologias desenvolvidas na universidade para usá-las com um fim comercial. “Não foi nada fácil conseguir a carta de aceitação. Por causa do fuso-horário de 11 horas, era bastante comum eu ter de acordar de madrugada para liquidar minha caixa de entrada do e-mail e fazer videoconferências, por exemplo.”

Na hora de se divertir, Gustavo procura sair com intercambistas da sua idade que estejam cursando graduação na faculdade. “Mas nossa diferença de rotina é nítida. Enquanto estou bastante focado no meu projeto, os outros buscam fazer poucas disciplinas para sobrar mais tempo para se divertir. Consigo modelar meus horários do jeito que quero e negociar minha agenda de trabalho com meu supervisor. Não tenho tanta rotina como eles.”

Essa falta de agenda pode ser benéfica às habilidades que a bolsa Empreendedorismo procura despertar nos estudantes. Em maio, Caio passou três dias na Bélgica para participar de um evento chamado “Startup Weekend”. Nele, uma equipe monta uma empresa em um final de semana e, no fim, apresenta o protótipo a alguns investidores e pessoas do ramo.

“A experiência foi parte do meu intercâmbio. Tinha um pouco de preconceito com coisas desse tipo, mas fiquei impressionado positivamente. Nossa equipe criou um produto para o mercado gastronômico e tivemos um bom sucesso no evento.” No encerramento, funcionários do Ministério da Economia belga parabenizaram o grupo que o estudante integrou pelo projeto.

Para Selma Shibuya, essa é justamente a intenção da bolsa. “Queremos propiciar aos estudantes de graduação experiências no exterior, mas também ampliar a reputação da USP