Trote violento gera reação extrema de ex-aluno

Após episódio de bullying durante sua recepção na USP São Carlos, ex-estudante invade alojamento e atira contra moradores presentes no local

Recentemente, a imprensa deu bastante destaque ao caso do ex-aluno da USP Alexandre José Coutinho da Rocha Lima, de 23 anos, que, no dia 28 de agosto, invadiu o alojamento do campus de São Carlos e atirou contra os moradores que estavam presentes no local, sem, entretanto, fazer nenhuma vítima. Segundo os estudantes, antes de disparar por cinco vezes, Alexandre perguntou: “Vocês acham que é brincadeira?”.

O ex-aluno ficou foragido até o último dia 11, quando se entregou à polícia de São Carlos. Ele havia se escondido em São Paulo, onde mora sua família, mas teria decidido se apresentar ao descobrir que era procurado na capital do estado.

O motivo para a ação, de acordo com Alexandre, é vingança pelo trote violento e pelo bullying que alega ter sofrido desde que começou a frequentar a Universidade. De acordo com a professora do Instituto de Psicologia da USP Maria Isabel Leme, entretanto, o comportamento vingativo não é comum na pessoa que sofre bullying. “Nesses casos, a depressão é o mais comum, além da somatização, como dor de barriga, de cabeça, gastrite, que são doenças psicossomáticas”, afirmou, acrescentando que é justamente a certeza de que não haverá uma retaliação que incentiva o agressor.

Maria Isabel disse ainda que o trote da faculdade pode ser considerado um tipo de bullying, porque “parte de uma ação que é praticada numa situação de assimetria de poder, que é o calouro com os veteranos, em geral em maior quantidade”. No entanto, ela ressaltou que só a ocorrência desses episódios não basta para desencadear uma reação violenta como a de Alexandre. “Muita gente sofre bullying e não tem essa reação violenta. Não acho normal, não acho que seja automática”, afirmou. Tanto Alexandre quanto o delegado Aldo Donisete, responsável pelo caso, não quiseram comentar sobre os acontecimentos.

Para a psicóloga, nos campi do interior o trote e o bullying tendem a ser mais violentos porque “é mais fácil segregar pessoas”. De acordo com ela, “na capital, o anonimato é maior, a pessoa tem contato social muito mais diversificado”.

A Universidade afirma que “repudia qualquer forma de agressão” e “imediatamente após o caso [de Alexandre], abriu uma sindicância para apurar os fatos”, a qual resultou em um processo administrativo que atualmente está em trâmite. De acordo com a instituição, foram oferecidos ao ex-aluno atendimentos psicológico e psiquiátrico, mas ele não aceitou e optou por trancar o curso.

Quando questionada sobre o fato de um ex-aluno ter conseguido entrar armado no alojamento estudantil, a Universidade declarou que aconselha seus moradores para que estes observem atitudes suspeitas a fim de garantir a segurança de todos, uma vez que a Moradia Estudantil não é cercada.

Em relação a melhoras na segurança do ambiente, a Universidade respondeu apenas que “estudos estão sendo feitos por uma comissão de segurança do campus”.

Ilustração: Mariane Roccelo