Alunos ocupam a reitoria por diretas

A não abertura do Conselho Universitário (CO) foi o estopim para que alunos da Universidade de São Paulo (USP) ocupassem a reitoria na terça-feira, 1° de outubro. As reivindicações principais dos estudantes são as eleições diretas com paridade entre professores, funcionários e alunos, o fim da lista tríplice e uma Estatuinte livre e soberana. Além dessas, mais imediatas, segundo Raul Santiago, membro do DCE (Diretório Central dos Estudantes) há também uma resolução recente, “que é do horizonte de termos uma universidade governada pelas 3 categorias, que constitui o modelo de governo tripartite”.
No dia da reunião do Conselho Universitário, que decidiu como será escolhido o próximo reitor, foi convocada uma paralisação das três categorias, com o objetivo de pressionar para que o encontro do CO fosse aberto e que a escolha para reitor levasse em conta toda a Universidade. Segundo Raul Santiago e Rafael dos Santos, representantes discentes da graduação no Conselho Universitário e membros do DCE, a questão de abrir a reunião foi encaminhada logo no início, porém o reitor disse que seria preciso suspender a sessão caso fosse votado para que o CO fosse aberto. Após a votação desfavorável, os estudantes decidiram ocupar a reitoria. Mais tarde, em assembleia geral estudantil, foi estabelecida greve.
Depois dessa decisão, assembleias foram realizadas em toda a Universidade e mais de 20 cursos entraram em greve, entre eles Letras, Ciências Sociais, Educação Física, Audiovisual, Relações Internacionais. A falta de diálogo, segundo Raul, tem sido um dos grandes problemas da gestão. “É importante ressaltar que a reitoria negou dialogar com os estudantes antes, durante e depois da ocupação”, diz ele.
Magno de Carvalho, diretor do Sintusp (Sindicato dos Trabalhadores da USP), afirma que a entidade apoia os estudantes. “Nós damos total apoio à ocupação: não havia outra saída além de uma medida mais forte e energética como essa. Estamos acompanhando, sabemos que o movimento está crescendo”, afirma. A categoria já determinou indicativo de greve e se reunirão em assembleia na quinta (10).
A Adusp também é simpática às exigências dos estudantes. “A reivindicação deles é legítima, histórica e comum. A eleição direta e paritária é uma proposta que defendemos há tempos, assim como a estatuinte livre, soberana e democrática”, disse Francisco Miraglia, primeiro-secretário da Associação. “Não faz parte dos métodos da Adusp”, ele esclareceu sobre as ocupações. “Mas não vamos discutir [o mérito da atitude]”.

Reintegração de posse
Um dia após a ocupação, a reitoria entrou com pedido de reintegração de posse do prédio da administração. No documento, DCE, Adusp (Associação dos Docentes da Universidade de São Paulo) e Sintusp são citados como ocupantes do local. Entretanto, as duas últimas entidades afirmaram não participar da ocupação. “Nós estranhamos, como a Adusp, que tenhamos sido intimados para uma audiência sobre a conciliação. Nós já ocupamos a reitoria enquanto sindicato, por decisão de assembleia. Mas, apesar de darmos total apoio, inclusive logístico, nós não estamos ocupando”, afirma Magno de Carvalho.
Na sexta-feira, 4, a administração da Universidade cortou a água e luz do prédio da reitoria. “Isso é uma irresponsabilidade tremenda, que compromete a segurança tanto das pessoas que estão lá, como a do espaço físico”, afirma Santiago.
Sem considerar a situação um caso convencional de reintegração, o juiz Marcos Pimentel Tamassia, da 12ª Vara da Fazenda Pública de São Paulo, determinou que as partes envolvidas se reunissem para uma tentativa de conciliação, na terça-feira, 8, no Tribunal de Justiça. Porém não houve acordo entre as partes.
Para resolver o caso da ocupação, a Adusp se manifesta contra a interferência da justiça e o uso da violência. “Nós somos a favor de saídas completamente negociadas, não judiciais e não violentas. Não deve haver polícia, repressão, e nem a criminalização de pessoas que estão lutando pela democratização da Universidade”, Miraglia articula. “Esse tipo de providência judicial não ajuda”, conclui.
Segundo Raul, a posição do juiz Tamassia já é algo positivo. “A justiça já se posicionou dizendo que o nosso caso não se enquadra em reintegração comum, reconhecendo o nosso movimento como político. É uma vitória contra a criminalização dos movimentos sociais”, afirma Raul. “Estamos dispostos a dialogar em torno das pautas da greve, que não devem ser escamoteadas pelo método de distração que o Rodas tenta emplacar em relação à ocupação. Ele mesmo fala de diálogo, mas não está aberto para tal”, ele completa.

 
Fotos por Filipe Delia