Assaltos reacendem questão da PM

A recente onda de assaltos em ônibus que circulam na cidade universitária vem assustando estudantes e trabalhadores da USP. É cada dia mais fácil ouvir, dentro dos próprios coletivos, histórias de pessoas que já foram surpreendidas por arrastões e até agressões enquanto se deslocava pelo campus.
“Eles me batiam e me jogavam no chão. Me jogaram com a boca na guia. Eu me erguia, me segurava na barra, batia, tentava entrar no ônibus”, diz B.S., aluna da FEA que teve de trocar socos e empurrões para se livrar de dois assaltantes que tentaram roubar sua mochila enquanto subia no Circular no ponto próximo ao Portão 3, às 18:30 de uma quinta-feira.
“As pessoas não podem andar sozinhas em canto algum da USP. Para nós que somos meninas é ainda mais difícil, porque também temos medo de estupros. É terror psicológico full time”, queixou-se a jovem, lembrando da violência sexual que é marca antiga das escuras ruas da USP.
Questionada sobre alguma mudança sentida acerca da frequência de roubos nos ônibus circulares em relação ao ano passado, a fiscalização da linha assegurou haver um explícito aumento. Um dos funcionários, que não quis se identificar, ainda alertou para o fato de grande parte dos criminosos anunciar os assaltos na região do Hospital Universitário (HU).

Polícia no campus
Em decorrência da falta de segurança, os olhares das vítimas acabam indo de imediato em busca daqueles que deveriam fazer sua proteção. Polícia Militar e Guarda Universitária, entretanto, parecem não conseguir lidar com as ocorrências originadas dentro do campus.
“Paramos em uma delegacia próxima da USP, mas não tinha delegado. Então tivemos de ir para outro distrito. Lá acabou demorando mais de uma hora para fazer o B.O.”, lamenta A.L., aluna da ECA que sofreu arrastão na altura do HU enquanto voltava de ônibus para sua casa após aula no período noturno. O coletivo não faz parte da linha de circulares – era o Pq. D. Pedro II -, mas tem itinerário semelhante dentro da cidade universitária.
A estudante, que relatou dificuldades para conseguir atendimento policial, falou sobre a presença da Polícia Militar na USP. Nas ruas do campus desde o fim de 2011, ela é inadequada para defender os estudantes, segundo A.L.. “Não sou a favor da PM aqui dentro, porque é uma polícia que não tem nada a ver com o tipo de gente com quem ela vai lidar. Ela é muito autoritária, agressiva”, reclama.
B.S., a aluna da FEA, também deu sua opinião. Segundo ela, “o problema não vai ser resolvido com soluções materiais, como viaturas, PM e catracas. É preciso planejamento, como colocar os pontos de ônibus em locais mais iluminados”.
Em resposta ao quadro de falta de segurança, uma média levantada pela 93ª DP mostra que 20% de suas ocorrências vêm da USP – número considerado baixo se for levado em conta o fato de o campus ocupar metade do território abrangido pela unidade policial. Funcionários da delegacia, contudo, alertam para o fato de parte dos assaltos, sobretudo os sofridos em ônibus, acabarem sendo registrados pelas vítimas em outros distritos, o que altera significativamente as estatísticas.
A Superintendente de Prevenção e Proteção Universitária, responsável pela Guarda Universitária, não atendeu às ligações da reportagem do JC.