Graduação será prioridade para Zago

Marco Antônio Zago é Pró-Reitor de Pesquisa da Universidade de São Paulo e professor doutor pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto. Ele já foi presidente do CNPq (Conselho Nacional do Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e membro da Academia Brasileira de Ciências.

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Continuidade e rupturas
“Eu não creio que seja conveniente falar nem em continuidade e nem em ruptura. Nós temos ações administrativas de recomposição e reordenamento da Universidade que precisam ser continuadas. Envolvem desde obras físicas, aspectos relativos à estrutura administrativa e operação da Universidade. Por outro lado nós temos que considerar que a característica da pessoa do reitor varia de acordo com quem ocupa a reitoria. Portanto, eu tenho certeza que imprimiria à reitoria aquilo que é característica minha em outras situações em que ocupei cargos de gestor. Essa característica se baseia no diálogo e, mais que isso, na construção coletiva daquilo que precisa ser realizado.”

EACH
“A greve no campus da EACH tem como foco uma questão ambiental. Se aqueles prédios tem algum problema de segurança, as exigências ambientais tem que ser atendidas plenamente.
Então eu não vejo aqui um problema político importante, eu vejo essencialmente um problema técnico. Pode não ser tão simples, direto ou ingênuo, quanto eu estou apresentando, mas eu partiria desse princípio que é o mais simples possível. Nós não podemos ter um campus funcionando num local onde haja qualquer tipo de risco.”

Cursos pagos
“A nossa universidade, por definição, é pública e gratuita. Por outro lado, nós temos que entender que a USP está razoavelmente limitada quanto a expansão que ela consegue fazer para atendimento da demanda a cursos universitários.
Nós já somos uma universidade muito grande, com quase 90 mil alunos, então a Universidade de São Paulo tem que encontrar outros meios de contribuir para a formação de pessoas na sociedade. Ela pode, por exemplo, participar mais ativamente em cursos de especialização.
Eles devem ser cobrados? Idealmente não. Acho que a questão é ver se nós conseguiríamos viabilizar cursos como esses, que pudessem atender uma massa considerável, para os quais não fosse cobrado nada. Se fosse viável, esse é o ideal.”

Modelo de eleição
“Em 2009, quando ocorreu a eleição do atual reitor, eu, junto com seis outros docentes, escrevi um documento que se chamava “A USP precisa mudar”. Nesse documento nós apontávamos mudanças necessárias à Universidade de São Paulo, e no primeiro tópico, nós dizíamos que a eleição pra reitor precisava mudar pra ser tornar mais representativa. Apontávamos a eliminação do chamado segundo turno, o que finalmente aconteceu nessa reunião do Conselho Universitário.
Independentemente das visões que as pessoas tenham de como seria o processo ideal, a mudança que ocorreu já foi gigantesca em relação ao passado.
Agora, eu entendo que a chamada democratização da Universidade vai muito além do que do processo de eleição do reitor apenas. Eleger o reitor e o vice, numa chapa, já é um progresso enorme. Depois nós temos que rever o funcionamento do Conselho Universitário, que tratar do processo de eleição de diretores, no qual, temos que eliminar as listas tríplices, e outras iniciativas que devem contribuir para um poder menos concentrado na Universidade.”

Segurança
“Em relação à segurança, eu não acho que a universidade se distingue do restante da sociedade. Se nós temos problemas de segurança na cidade, nós temos também na Cidade Universitária.
Eu não acredito que nós temos que buscar um isolamento. Em todos os lugares do mundo que eu conheço, as universidades se mesclam com a vida da cidade, da comunidade, e muros não vão resolver nosso problema. Eu não vejo muita diferença no enfoque que nós temos que dar para a segurança nos campi universitários e no restante da cidade.”

Obras e graduação
“Eu diria que nós temos que ter responsabilidade com o dinheiro público, então a orientação nesses casos é procurar terminar aquilo que se começou.
Se eu vier a ser reitor, a prioridade é o ensino de graduação. Nós precisamos reformá-lo e transformá-lo no centro da vida da Universidade de São Paulo. Para isso, em termos de construções, nós temos que nos preocupar com salas de aula e laboratórios para métodos modernos de ensino. Nós não podemos ter uma sala de aula onde tenha bolor ou goteira.
Além do mais, nós temos que entender que a educação plena na Universidade de São Paulo não se resume àquilo que ocorre na aula. É intrínseca à vida universitária, a necessidade da vida comunitária, da socialização, então espaços que permitam isso são essenciais.”

Acesso à Universidade
“A USP tem a missão de criar e transferir conhecimento para a sociedade. Mas ela tem também uma missão de participar da reforma da sociedade, de modificar a sua estrutura para facilitar o acesso das pessoas através do conhecimento. Portanto temos que mudar essa situação em que as pessoas tem acesso à Universidade baseada na sua situação social.
Quando se discute o acesso à Universidade, as pessoas sempre falam que o acesso tem que ser por mérito. Nós estamos de acordo. Agora, como que você mede o mérito? A métrica tradicional tem sido através do desempenho no exame vestibular. Você faz um exame, e com base nisso diz “esses que estão acima são os que têm mais mérito do que esses”. Não acredito que isso seja verdadeiro. Esses foram os estudantes que responderam melhor o questionário. Não há garantia que eles, obrigatoriamente, são muito melhores dos que estão um pouco abaixo.
Como consequência da qualidade do do vestibular, os alunos que entram são bons. Não quer dizer que essa é a única maneira de selecionar os bons alunos. Existem outras. O que eu proponho é que nós devemos explorar, discutir e examinar eventualmente, sistemas de seleção adicionais ao exame vestibular.”