Hélio defende novo modelo de gestão

por Filipe Delia

Hélio Nogueira da Cruz é professor titular da FEA-USP e vice reitor da administração de João Grandino Rodas. Desde 1992, estuda o campo da educação superior e da gestão universitária.

Continuidade e rupturas
“A USP tem apresentado resultados bastante favoráveis nos últimos anos quando se observa os rankings e outras atividades fim, como alunos formados, iniciação científica e teses. Tudo isso leva a uma avaliação positiva. Além disso, a Universidade teve ganhos na área de recursos humanos, de carreiras novas e também na área de moradia estudantil.
No entanto, temos dois desafios importantes para enfrentar. O primeiro deles é o compromisso de crescimento da inclusão social. Chegar em 2018, com 50% de alunos formados em escolas públicas, sendo 17% deles pretos, pardos e indígenas (PPI). Estamos tomando medidas de apoio via cursinho novo, embaixadores, bônus, mas eu tenho a convicção de que isso não basta.
Outro desafio refere-se ao equilíbrio econômico financeiro da Universidade. Gastamos bastante, fizemos avanços em obras, investimentos, políticas de recursos humanos, agora é o momento de rever essa questão. Isso aponta para um novo modelo de gestão em que haja espaço não só para manter o que vinha sendo feito, como também, para ter controles mais precisos sobre algumas esferas de atuação.”

Relação com os estudantes
“O diálogo e a democracia são elementos indispensáveis. Não dá para ter uma Universidade como a nossa, forte em Humanidades e Artes, além das outras ciências aplicadas ou básicas, sem ter um convívio democrático, civilizado. É preciso criar consensos, um estilo democrático de planejar e implementar as nossas decisões.”

Terceirização
“A terceirização se justifica basicamente porque a Universidade é muito grande e muito complexa nas suas atividades fim: ensino, pesquisa, extensão; com toda a desejável diversidade que nós temos. Dentro dessa complexidade, terceirizar algumas atividades meio, como limpeza e segurança, é algo que vem sendo adotado pela Universidade e por muitas organizações no país e em outras partes do mundo.”
A USP tem experiência de mais de 10 ou 15 anos na área de terceirização. Está na hora de fazer um balanço das vantagens e desvantagens que essa experiência mostrou, em termos de custo, qualidade dos serviços e até de problemas operacionais. Entendo também que algumas atividades a gente pode fazer com o nosso pessoal, com vantagens, mas outras talvez não.”

Modelo de eleição
“A nossa Universidade é demasiado fechada em termos do seu processo eleitoral, quando se compara com as outras universidades estaduais paulistas. Os Órgãos Colegiados estão atrofiados pela regulamentação que nós estabelecemos. É preciso ter mais abertura, flexibilidade e mais democracia. O que não puder ser feito esse ano, deverá ser feito no primeiro ano da próxima gestão, mais tarde fica difícil.”

Cursos pagos
“Sobre os cursos de extensão, nós temos tradição de oferecer esse serviço à sociedade. Por exemplo, cursos de especialização tiveram um impacto enorme na formação dos médicos do país e essas atividades não devem ser coibidas.
É um tema delicado, porque na Constituição se fala que o ensino tem que ser completamente gratuito, mas isso exige recursos extras, por exemplo, para os professores que dão essas aulas adicionalmente. A solução é estabelecer um controle para que a USP receba uma contribuição pela utilização do seu patrimônio.”

EACH
“Eu tenho certeza de que a USP Leste oferece para nós desafios acadêmicos importantes, não só ambientais, como cointeração com aquela região. O perfil acadêmico e a forma de ensino também são pioneiras. Talvez a rapidez com que foi feito aquele campus tenha causado alguns problemas que na época não eram claros, mas que vamos consertar. Não tem nada que impeça o equacionamento completo da situação de forma democrática, participativa, com os alunos, professores, funcionários e a comunidade local.”

Graduação
“Avançamos muito na graduação, o número de alunos formados cresceu, houve avanços na parte curricular. A Poli, por exemplo, fez uma reestruturação curricular importante e propôs um modelo com mais disciplinas optativas livres na grade horária dos alunos. Houve investimentos importantes em reequipamentos de laboratório, melhoria de salas de aula, investimentos superiores a 50 milhões de reais, mas isso é pouco ainda.
Temos que avançar muito usando novas práticas pedagógicas, o que significa treinamento dos professores, implantação de novos métodos de ensino e estímulos à mudança originada pelo progresso da tecnologia de informação.
A ideia de que os professores são os detentores do conhecimento e os alunos passivamente receberiam esse conhecimento já não se sustenta mais. Hoje há um comportamento mais ativo, entre iguais, de parceria, colaboração, projetos conjuntos, esse é o caminho para se fazer uma graduação melhor. É muito ingênua a ideia de que a graduação vai melhorar porque a Reitoria quer, não é assim, ela depende sobretudo do que vier das unidades.”

Segurança
“Acredito muito em investimentos como recuperar áreas degradadas, que estimulam comportamentos inadequados e fazer um grande movimento de educação para que as pessoas tenham a cultura da segurança. Acredito também que seja importante planejar os campi para que o tema de segurança esteja sempre presente.”

Obras
“O dinheiro investido nisso não pode ficar parado, porque os prédios se degradam com a simples passagem do tempo. Concluir o que tem que ser feito será uma prioridade. Outros recursos foram doados para as unidades para que elas façam os seus projetos e realizem as suas obras. Esses investimentos talvez exijam um novo projeto político-financeiro, mas não devem impedir esse tipo de atividade, que faz parte do crescimento da Universidade. O crescimento do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) permite que sigamos nessa trajetória.”