Investigação se aprende na escola

A disciplina “Jornalismo Investigativo” deveria ser obrigatória em todas as faculdades de Comunicação. É preciso, desde a escola, acender no jovem jornalista o desejo de descobrir, de fuçar, de ser meio detetive. De ir além da burocracia do dia-a-dia de uma redação, que infelizmente tem feito os jornais parecerem todos iguais, clones uns dos outros.

Nem todo jornalista é investigativo. Nem todo jornalista vai desenvolver interesse em descobrir os podres da política, por exemplo. Mas a investigação não é algo restrito apenas a levantar o tapete e colocar para fora a sujeira que está embaixo. Investigar é também aprofundar-se, levantar outros aspectos que não o óbvio em qualquer reportagem, seja de cultura, de veículos ou no caderno infantil. Neste aspecto, sim, todo bom jornalista é investigativo.

No último dia 2 de outubro ficamos sabendo que a USP caiu pelo menos 68 casas no ranking universitário THE (Times Higher Education): em 2012, era a única universidade do Brasil entre as 200 melhores do mundo, mas passou do 158º lugar para o grupo de 226º a 250º lugar. Qual a razão disso? Entrevistado pela Folha de S.Paulo, o reitor João Grandino Rodas atribuiu à culpa pela queda, por incrível que pareça, aos estudantes que fazem manifestações “violentas e ilegais” –como ocupar a reitoria.

Um bom jornalista não aceitaria essa explicação como única –ou como verdadeira. Mesmo porque não parece justo culpar os alunos (uma parte deles, aliás) pelo déficit de uma universidade inteira. O que aconteceu? A qualidade do ensino oferecido pela USP caiu? Se caiu, por que? Um trabalho de jornalismo investigativo precisa ser feito para tentar chegar aos fatos. Ouvir professores, alunos, funcionários. Decanos da Universidade. Ex-professores. Esta é uma avaliação que interessa a toda a comunidade uspiana. E também a qualquer brasileiro preocupado com os rumos da educação no País.

Talvez, em vez de investigativo, o bom jornalismo seja, na verdade, elucidativo. Em algumas circunstâncias, mais do que as autoridades ou a polícia, só ele é capaz de oferecer respostas.