Precariedades dificultam ação da GU

Guarda Universitária faz primeira paralisação em razão das interferências da PM e das más condições de trabalho

A Guarda Universitária fez, em 26 de setembro, uma paralisação de um dia, a primeira em 30 anos de existência. O estopim foi a quase demolição da base de apoio dos guardas, que fica localizada no prédio da prefeitura do Campus. O espaço, que tem problemas como vazamentos, vasos sanitários quebrados e apenas dois chuveiros para um contingente de 85 pessoas, estava sendo atingido por uma reforma que acontecia ao lado sem que o profissionais fossem realocados.

A obra foi embargada, no entanto outros problemas da equipe de segurança seguem: mau planejamento das escalas, falta de plano de carreira e opressão por parte da Superintendência estão na lista dos assuntos que tem incomodado os guardas.
Desde 2011, quando o Reitor João Grandino Rodas assinou um convênio entre a Universidade e a Polícia Militar o trabalho da GU sofreu alterações. “Hoje se nós vemos uma ocorrência não podemos fazer nada além de chamar a PM, que demora uma hora para aparecer, quando aparece”, afirma um guarda que não quis se identificar. Ele e quatro colegas afirmam que a USP perdeu segurança com o novo protocolo. “As estatísticas caíram, mas só porque nós não podemos mais registrar tudo o que acontece”, afirma um deles.

Os guardas reclamam ainda que o contingente operacional, formado por profissionais concursados e contratados pela Reitoria, tem sido tratado com lógica militar. Um exemplo disso é a questão das escalas. O dia do servidor público, ponto facultativo concedido a todos os funcionários da USP, não foi dado à Guarda. “Nós não estamos sendo tratados como funcionários da Universidade, que é o que nós somos”. Além disso, eles alegam haver incoerência no planejamento das escalas. “Hoje quem faz a nossa escala é uma pessoa do administrativo que não tem contato nenhum com a equipe e não sabe como é o funcionamento da nossa rotina”, afirma um guarda.

Luís de Castro Júnior, oficial reformado que ocupa desde março de 2012 o cargo de superintendente de prevenção e proteção universitária, disse ao Jornal do Campus, em junho do ano passado, que estaria aberto ao diálogo. “Eu gostaria de deixar esse recado, que nós estamos totalmente abertos a receber críticas, sugestões e opiniões porque nós precisamos saber dessa percepção para fazer melhor”. Esse comportamento, no entanto, não é o observado pelos guardas. Considerado pouco acessível pelos profissionais, desde a sua posse, Castro e seus assessores só se reuniram com a Guarda 3 vezes, todas elas por pedido desta, que ainda assim não se sentiu ouvida. “Sobre a questão da escala, disseram que não aceitariam mais discutir, que deveríamos enviar propostas de novas escalas por escrito e elas seriam analisadas. Nós fizemos isso, e até agora não houve resposta”.

Além dos problemas da base operacional, os guardas afirmam que não recebem uniformes novos há meses. “Já solicitamos e eles dizem que não podem comprar uniformes iguais aos atuais porque o layout mudou, mas nós não temos previsão de ter os novos”. Há ainda, segundo eles, dificuldades em conseguir autorização para serviços básicos como troca de pneus ou higienização das viaturas. Sobre a justificativa dos superiores, um guarda completa: “eles dizem que a USP é lenta, mas sempre foi e nós nunca passamos por esse tipo de problema”.

Neli Paschoarelli Wada, diretora do Sintusp, afirma que o sindicato está acompanhando a situação. “O que eles não entendem é que aqui não é a corporação da PM”. Castro chegou a se reunir com o Sintusp em duas ocasiões, mas não apresentou nenhuma solução imediata. “Agora estamos esperando para conversar diretamente com o Reitor. Já pedimos uma reunião”, afirma Neli.

O Jornal do Campus encaminhou um pedido de esclarecimentos para a Superintêndencia por meio da assessoria de imprensa da reitoria, mas até o fechamento desta edição não houve resposta.

Reforma da base operacional da Guarda Universitária prejudica rotina de trabalho

 Após o fechamento da edição 417, o Jornal do Campus recebeu as respostas de Luís de Castro Júnior. Confira o texto na íntegra:

Jornal do Campus: A base operacional da Guarda está em péssimas condições e por isso os profissionais já fizeram inclusive uma paralisação. Existe previsão para melhoria do espaço ou realocação dos funcionários?

Luiz de Castro Júnior: A Universidade passa por uma adequação de espaços físicos, incluindo a Superintendência de Segurança, que está sendo realocada no prédio da Administração Central. As mudanças estão acontecendo de acordo com as adequações de espaços, parte da administração já foi mudada e aguardamos a desocupação de outra parte das instalações para finalizarmos com a vinda completa da administração e dependências operacionais. No referido às Bases Operacionais e Guaritas, o projeto executivo está sendo finalizado pela Superintendência do Espaço Físico, sendo certo que todas as dependências serão construídas ou adequadas no mais breve espaço de tempo possível. Todos os projetos atenderam os Campi do Interior e Unidades USP.

 JC: Muitos profissionais da Guarda relataram estar enfrentando problemas com as escalas, que seriam mal planejadas. Eles alegam ter perdido o direito ao recesso de fim de ano e o dia do servidor público, concedido a todos os funcionários da USP e que já expuseram essa situação diversas vezes mas não encontram abertura para discutir esse assunto com os superiores. Há o plano de reestruturar as escalas?

LCJ: As escalas operacionais dos Agentes de Vigilância são elaboradas pelos Líderes de Turno, por solicitação dos próprios Agentes, porém todas as necessidades operacionais devem ser contempladas, sendo observadas as jornadas de trabalho e folgas, conforme legislação vigente,  40 hs semanais, em turnos de revezamento, escalonadas em dias úteis, finais de semana, feriados e pontos facultativos. Os assuntos referentes aos serviços e outros aspectos que envolvem a Superintendência de Segurança são discutidos pelo próprio Superintendente com os servidores, inclusive a presente pauta foi alvo de reuniões. A Superintendência aguarda alguns estudos sobre regime de escalas, salientando que todas as expectativas, desde que, dentro da legalidade e razoabilidade, sempre serão atendidas pela Universidade.

JC: Os guardas dizem que não estão mais autorizados a atender ocorrências, mas que quando chamam a PM ela demora muito e os casos acabam não sendo registrados. O que tem sido feito para agilizar esses atendimentos?

LCJ: Nunca a Guarda Universitária atendeu ocorrências policiais, pois não detemos o Poder Pleno de Polícia, nem o preparo para tais ações, porém salientamos que sempre demos e daremos o primeiro atendimento a qualquer solicitação em que sejamos acionados, ou que observarmos durante a vigilância.

JC: Quando a Guarda receberá uniformes novos? Funcionários relataram encontrar dificuldades também para conseguir verba para outros serviços básicos como troca de pneu de viaturas, algo que não acontecia antes. Por que isso tem ocorrido?

LCJ: A Superintendência passa por um processo de reformulação, dentre os aspectos trabalhados, citamos a identidade visual, incluindo design dos veículos, das edificações e dos uniformes. Os estudos foram concluídos, foram lançados no sistema de compras as peças de uniforme definidas, encontrando-se na fase de elaboração de descritivo das peças, para inclusão no processo licitatório e consequente aquisições. Esperamos concluir as compras ainda neste trimestre. Salienta-se que os trâmites legais atendidos, os requisitos e prazos estabelecidos, são semelhantes à todos os órgãos públicos. Algumas rotinas em relação à frota de veículos foram alteradas, pois saímos de uma frota própria pra uma frota locada, inclusive agilizando algumas rotinas, pois no caso de avaria em veículos, há a substituição imediata por parte da locadora, fato que anteriormente não existia.