Vahan propõe descentralizar o poder

Vahan Agopyan é Membro da Congregação da Escola Politécnica, professor da pós-graduação em Engenharia Civil e, também, atual PróReitor de Pós-Graduação.

por Filipe Delia

Continuidade e rupturas

“A gestão Rodas teve vários pontos importantes para o desenvolvimento da nossa universidade. Permitiu grandes avanços na parte das atividades fim, os quatro pró-reitores tiveram o apoio e a independência de levar avante os projetos. Tenho um perfil diferente [do reitor atual], mas respeito o de cada gestor. Discuto muito com meus colegas, o conselho de pós-graduação é muito ouvido e utilizado. Meu jeito de gerir é assim, os alunos sempre tiveram as portas abertas quando quiseram conversar comigo.”

Democracia na Universidade
“Sempre que você consegue dar mais legitimidade à escolha do reitor é ótimo. Mas fico muito preocupado que todo o foco esteja no reitor. Por isso sou favorável a uma descentralização mais radical, o que modifica o papel do reitor. Acho que hoje a nossa pós está mais dinâmica e os órgãos centrais não estão, por causa disso, menos importantes. Estão discutindo, tanto o conselho de pós-graduação quanto as câmaras, assuntos mais de fundo e menos burocráticos.”

Terceirização
“Se conseguirmos otimizar as atividades meio através de terceirização, eu não vejo nenhum problema. Meu único receio é não termos o controle. Ter certeza que a atividade que foi terceirizada será feita da maneira desejada. É complicado porque tem leis de licitações que nos limitam, dificultam pedir qualidade àquele preço. Mas não se terceiriza relações com o público. Quando era dirigente de unidade, fazia questão de os porteiros e recepcionistas serem funcionários da USP. É importante as pessoas que fazem contato com o público terem um comprometimento com as suas instituições.”

Estrutura descentralizada
“Na parte de gestão, o problema é sério porque somos grandes demais. Só de funcionários e professores, somos quase 25 mil e é impossível uma estrutura dessa ser centralizada. É lógico, além do tamanho, temos a burocracia e a legislação. Só se consegue melhorar a gestão se a compartilharmos. Minha ideia não é descentralização só das decisões e ações, mas também do orçamento. Se não, você não consegue dar o dinamismo que deseja. Temos uma estrutura centralizada e, tentando conseguir qualidade, acabamos aumentando a concentração. Confundimos que para conseguir qualidade temos que ter acompanhamento, e não execução. Foi essa a confusão que fizemos como universidade.”

Cursos pagos
“Todos os cursos são pagos. Cada aluno custa em média 40 mil reais por ano e quem paga é a sociedade. A minha pergunta é: é correto cobrar da sociedade a especialização ou a atualização de profissionais que estão trabalhando? Aí é uma decisão da comunidade.
Os cursos de formação da universidade pública são todos oferecidos aos alunos sem ônus. Mas há os de atualização, porque, hoje em dia, não é suficiente assistir a algumas palestras, participar de congressos ou ler alguns livros.
Obviamente a USP, quando os cursos têm um cunho social, já os oferece de graça: atualização de professores do ensino médio, atualização de profissionais da área da saúde. Porém, é correto treinarmos os funcionários de uma multinacional com o dinheiro do contribuinte?”

EACH
“O problema atual da EACH, na minha opinião, é não haver uma comunicação eficiente. Docentes, funcionários e alunos não entendem o que está acontecendo e as informações estão vindo de várias fontes. Minha sugestão é pegar um grupo de trabalho, coletar as informações disponíveis, propor uma solução se de fato há problemas, dos quais não sei a gravidade. temos departamentos que trabalham justamente em recuperar locais com problemas ambientais e teremos que usar nosso conhecimento para tentar reverter a situação. Meus colegas de lá me alertaram sobre outros contaminantes. Nós precisamos confirmar se existem outros, e em que proporção.
Com a entrada da Poli já está prevista a ampliação. O campus da zona leste está em expansão e isso obviamente exige mais construções e adequação.”

Segurança
“O campus do Butantã está inserido na cidade. Não consigo ver processos de segurança como nossas co-irmãs têm, em que precisa ter uma carteirinha para entrar. A cidade passa por dentro dele, então a realização da segurança é um pouco mais complexa.
Não sou especialista, mas acredito que ações maiores seriam muito duras, como não permitir que as pessoas entrem nos prédios. Eu defendo a interdisciplinaridade, por isso gostaria que um aluno de uma unidade entrasse em outra.
É melhor deixar nossos guardas desarmados e a polícia rondando. Você pode aumentar a ronda dos nossos guardas, colocar mais carros da superintendência de proteção. Nos campi do interior com menos pessoas, podemos exigir identificação de quem entra. O que me preocupa é fingirmos que não tem problema. O campus não é mais seguro, vivemos em São Paulo, temos até furtos contínuos nos prédios. Não tem o que fazer.”

Novas construções
“Sou uma pessoa que sempre defendeu a manutenção, aliás o item está no nosso orçamento. Quando eu era diretor de unidade convenci meus colegas que era imprescindível a manutenção predial e de laboratórios. Não é simples fazê-la, é algo profissional, então os dirigentes às vezes não sabem o que precisam fazer. Acredito que uma orientação possa ser dada a todos os diretores.
Mas estamos crescendo. Temos unidades que de fato precisam de espaço. Não podemos falar ‘vai ser só manutenção’, vai ter que construir mais prédios e teremos que balancear bem essas coisas. Curiosamente, não estamos exaurindo os recursos de manutenção. Gostaria que usássemos todo o dinheiro reservado para manutenção e mais um pouco e, com o que sobrar, vamos fazer mais prédios. Não é ufanismo, é necessidade.”