Grupo indígena faz apresentação na USP

Projeto traz comunidade Pater Suruí para espetáculo teatral, a iniciativa busca intercâmbio entre alunos e índios

A Tenda Cultural Ortega y Gasset trouxe, entre os dias 11 e 13 de novembro, os indígenas da comunidade dos Pater Suruí para a Cidade Universitária. O grupo de indígenas fez apresentações teatrais que mesclavam canto, música e rodas de conversas com os espectadores. O evento foi possível pela iniciativa Perspectivas intercambiáveis: o teatro na Aldeia Gapgir, concebido como projeto de extensão.

Coordenado pelo Departamento de Artes Cênicas (CAC) da Escola de Comunicações e Artes (ECA), o projeto tem como objetivo fazer um intercâmbio cultural entre a comunidade dos Pater Suruí e a Universidade. Os membros da aldeia Gapgir são os participantes mais envolvidos nesta troca de perspectivas.

De acordo com a professora e coordenadora da experiência, Maria Thais Lima Santos, o projeto vem realizando encontros com a aldeia desde abril deste ano, após a ponte feita pela musicista Marlui Miranda, estudiosa há 25 anos da aldeia Gapgir. “Fazemos ações de troca e influências culturais entre os indígenas e a comunidade universitária, que conta com alunos e professores, além de artistas paulistas convidados”, relata a coordenadora.

Por ser efetivamente um intercâmbio, a professora ressalta que a intenção é ceder espaço e suporte às apresentações, que são inteiramente produzidas e coordenadas pela comunidade Gapgir. “Nossa intenção é auxiliá-los a transportar o espetáculo do ambiente natural para um palco. Ajudamos com itens como iluminação, som, coisas que não fazem parte do cotidiano artístico dessas apresentações. Além disso, tentamos usar os materiais que eles têm para compor essa estrutura física”, afirma Maria Thais.

Dessa forma, a apresentação ocorrida na Tenda Cultural Ortega y Gasset buscou mostrar à comunidade acadêmica de maneira breve o que tem sido feito no projeto. De acordo com Maria Thais, os alunos, professores e artistas tanto vão à aldeia quanto recebem os membros da aldeia na Universidade. Após a passagem pela Tenda Cultural, a próxima etapa será desenvolvida em abril de 2014, uma primeira versão do espetáculo Recusa, que vem sendo trabalhada e produzida em conjunto ao longo do ano e que será realizada na própria aldeia.

Para Maria Thais, a iniciativa é importante por ser um modo de “revitalizar” a cultura da comunidade. “O teatro e a música estão inseridos na vida cotidiana deste povo. Para eles, é uma maneira de expressão, unicamente, não separada em uma categoria exclusiva de ‘arte’, como comumente fazemos. É a forma que eles têm, também, de repassar as tradições orais e relatar mitos e lendas aos próximos”, afirma.

Além disso, o projeto acaba contribuindo de maneira significativa para que o preconceito social contra o povo indígena seja revisto. Para a professora, a produção de arte indígena é comumente confundida com “simples artesanato”, e a partir daí rebaixada a uma categoria inferior na concepção artística comum.

“O que é preciso lembrar é que os indígenas são pessoas também, que produzem arte, conhecimento e sabedoria como todos os outros povos. Ninguém questiona essa concepção se ela provém de um francês, por exemplo. Mas é comum que, se uma expressão artística for proveniente de um indígena, esse questionamento qualitativo seja feito. A arte e o conhecimento indígenas são ricos, elaborados e complexos como quaisquer outros”, ressalta a coordenadora do projeto.