MAC recebe quatro telas de Alfredo Volpi

Com acréscimo de obras a sua coleção, museu se torna o maior acervo de quadros do artista em exposição permanente

Quatro telas pintadas por Alfredo Volpi (1896-1988), que não eram vistas desde sua morte, estão expostas pela primeira vez na nova sede do Museu de Arte Contemporânea (MAC), em frente ao parque Ibirapuera. As obras ficaram guardadas por 25 anos na antiga casa do pintor, onde atualmente reside sua neta, devido a disputas pela herança do artista.

Apreendidas pela Justiça no final do ano passado, a pedido do Instituto Alfredo Volpi de Arte Moderna, que alegou que as obras estavam em uma localidade sem seguro e sem a preservação adequados, as pinturas estão avaliadas em R$ 12 milhões e foram depositadas em comodato no museu. A instituição poderá exibi-las e estudá-las por um período de cinco anos. Nu de Judite (1940), Retrato de Hilde Weber (1940), Dom Bosco (1960) e outra obra sem título da década de 1970 podem ser vistos no terceiro e no quinto andar do prédio do Museu.

“As duas obras dos anos 1940 são emblemáticas da produção volpiana. Elas registram o momento em que o artista demonstra sua capacidade para realizar diversos trabalhos absolutamente originais, embora imantados pela tradição da pintura ocidental. Já as outras duas pinturas apresentam um Volpi maduro, no apogeu de sua obra”, diz Tadeu Chiarelli, diretor do MAC. Retrato e Nu são consideradas obras-primas e valem cerca de R$ 5 milhões cada uma. Já Dom Bosco é um estudo para um painel que o pintor fez posteriormente e que hoje está na sede do Itamaraty, em Brasília.

Além dos novos quadros, o museu tem mais 18 obras de Volpi – atualmente todas em exposição. Com isso, ele se torna a instituição brasileira com o maior acervo do artista em exibição permanente. “Isso é fundamental, pois ele é um dos pintores brasileiros que mais causa interesse no público”, diz Chiarelli. O diretor ressalta que, além de expostas, as telas também serão objeto de estudo. “Mas ainda não elaboramos o cronograma.”

É justamente por isso que o Instituto Alfredo Volpi decidiu escolher o MAC como a instituição que receberia os quadros apreendidos. “Antes, as obras estavam mal conservadas e sem a segurança adequada. Para não colocar em risco a integridade delas, decidimos encaminhá-las a um museu. O caminho natural foi o MAC. Além da história com a obra do Volpi e a consciência da importância do artista, o museu também pode produzir pesquisas de mestrado e doutorado com as telas”, afirma Pedro Mastrobuono, diretor jurídico da instituição.

Após chegarem ao museu, foi verificado que os quatro quadros apresentavam pó de cupim e tiveram que passar por um processo de higienização. “Felizmente, os cupins não causaram nenhum dano às obras”, conta Chiarelli.

Disputa na Justiça

Alfredo Volpi nasceu em Lucca, na Itália, em 1896. Veio para o Brasil no ano seguinte com os pais, que emigraram para São Paulo, e se tornou um dos principais pintores brasileiros. Suas obras seriam dominadas pelas cores e pelo estilo abstrato geométrico. Exemplo disso são suas bandeirinhas multicoloridas, que se tornaram uma marca registrada.

Quando Volpi morreu, em 1988, a Justiça determinou que uma de suas filhas, Maria Eugênia Volpi, fizesse o levantamento dos bens totais do artista, para dividi-los entre os quatro filhos do pintor que têm direito à herança. Contudo, Maria Eugênia não colocou no inventário a coleção pessoal de Volpi. O conjunto está avaliado em cerca de R$ 30 milhões. Das 47 obras da coleção, 38 estão atualmente desaparecidas e apenas nove foram localizadas. Entre elas, as quatro telas encaminhadas ao MAC. Outras quatro foram encontradas com colecionadores particulares, e uma última está com Patrícia Volpi, neta do pintor.

“São quadros de que ele gostava muito. Representavam a nata da produção e as várias fases do Volpi. A qualidade é imbatível, por isso a coleção é muito cobiçada por colecionadores”, diz Mastrobuono.

Por não ter colocado a valiosa coleção no inventário (e também por causa do sumiço das obras), Maria Eugênia foi destituída pela Justiça do cargo de inventariante e responde a dois processos. Somente após o fim dessas ações é que os quatro quadros do MAC –assim como toda a coleção pessoal, se encontrada – serão divididos entre os herdeiros ou leiloados.

Entre os quadros desaparecidos, estão três Madonas e uma pintura de São Benedito, produzida na década de 1960. “A suspeita é que estejam com colecionadores particulares. Algumas obras são muito valiosas, como as da fase concreta de Volpi, que durou apenas dois ou três anos. É um prejuízo enorme, sobretudo para a população, que está impedida do convívio e do desfrute do acervo do artista”, acredita o diretor do Instituto.

 

Nu de Judite, década de 1940
Retrato de Wilde Weber, década de 1940