USP ajuda a formar técnicos olímpicos

Apesar da participação da Universidade, a realidade do esporte brasileiro e a sua influência estão longe do ideal 

Neste mês de novembro foi iniciada a contagem regressiva de mil dias para os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, cuja abertura está marcada para o dia 5 de agosto de 2016. A data foi considerada comemorativa, mas ainda há muito o que ser feito para melhorar o desempenho esportivo brasileiro nas quase 30 modalidades que serão disputadas. É justamente com objetivo de impulsionar o esporte nacional que a USP está envolvida na formação de treinadores.

Com a intenção de, segundo os idealizadores, amadurecer o esporte no país, o Comitê Olímpico Brasileiro (COI), através de seu departamento de educação, o Instituto Olímpico Brasileiro (IOB), está desenvolvendo um projeto de especialização de técnicos, com previsão de cursos, seminários, congressos, entre outros. A iniciativa conta com participação de pelo menos três professores da Escola de Educação Física e Esportes  (EEFE).

Docente da disciplina “Treinamento a Longo Prazo e Talento Esportivo”, da EEFE, e envolvida no programa olímpico, Maria Tereza Silveira Böhme afirma que, por meio da Academia Brasileira de Treinadores (ABT), haverá oferta de “cursos para formação de técnicos para o desenvolvimento esportivo a longo prazo e para o alto rendimento”.

SPLISS

A educadora física também é pesquisadora do SLISS (sigla que, em inglês, significa “fatores da política desportiva que conduzem ao sucesso esportivo internacional”), um estudo que determina uma espécie de “IDH esportivo”. Das 15 nações cujos perfis já foram traçados, o Brasil aparece com um dos piores desempenhos. No que diz respeito à valorização aos técnicos, o país recebe nota de 2,5 (de um máximo de 7), ficando abaixo da média de 5,5.

Maria Tereza explica a realidade do Brasil no esporte através dos “pilares” que formam os parâmetros para análises do SPLISS. São eles: suporte financeiro, organização e estrutura de políticas para o esporte, participação esportiva, identificação e desenvolvimento de talentos, apoio à carreira atlética, estrutura de treinamento, educação e suporte sobre treinadores, competição (inter)nacional e inovação científicas.

“Estamos abaixo da média para todos os pilares do modelo, com exceção dos pilares 1 e 8, que estamos um pouco acima. Os demais pilares precisam ser melhorados na realidade brasileira, principalmente o 3, o 4 e o 6”, diz a docente, alertando para o baixo nível de participação nacional no esporte, os problemas na “peneira” de novos atletas e a precária estrutura para treinamentos.

Apesar de ser professora do projeto que une a USP com o esporte olímpico brasileiro, Maria Tereza ainda questiona o real papel desempenhado pelas universidades no âmbito esportivo nacional. A comparação com os Estados Unidos acaba se tornando inevitável. O basquete universitário, por exemplo, era a base dos times olímpicos estadunidenses até os Jogos de 1992, em Barcelona, antes da ascensão do dream team, o que prova o valor dado aos esportistas das principais faculdades do país.

“A resposta de como a universidade pode participar é complexa, porque está relacionada com o aspecto cultural. Veja o papel da universidade para o esporte de alto rendimento americano e compare com o nosso. São realidades diferentes”, conclui ela.

Docente da disciplina Jornalismo Esportivo na Escola de Comunicações e Artes  (ECA), Luciano Maluly vê a USP com olhos otimistas no que diz respeito à influência com as práticas esportivas. Os quase 7,5 milhões de metros quadrados do campus foram lembrados pelo professor.

“A USP possui um espaço formal destinado às práticas físicas e esportivas, como o Cepeusp, e outro informal, que é a própria Cidade Universidade, ocupada pelos cidadãos para diversas atividades, como a caminhada e o ciclismo, o que devemos comemorar”, explicou Maluly.

O docente, no entanto, tem conhecimento de que há o que ser melhorado para transformar a universidade em um “trampolim” para o esporte olímpico do país. A distribuição de bolsas a atletas (prática comum nos Estados Unidos) seria algo positivo, conforme explicado pelo professor.

Esse espaço pode ser ampliado pela Prefeitura do Campus com a organização de ciclovias e passarelas. Além disso, o esporte universitário poderia ser estimulado com bolsas aos esportistas, por meio do mesmo planejamento utilizado para a Iniciação Científica e Pós-Graduação”, conclui ele.

Infográfico: divulgação da SPLISS CONFERENCE.