Gastos excedem despesas na gestão Rodas

De acordo com assessora de imprensa da Reitoria, despesas da USP cresceram em ritmo maior que economia brasileira

Em janeiro do próximo ano, após quatro anos de gestão, João Grandino Rodas deixará o cargo de reitor da USP. Nomeado por José Serra, governador do estado de São Paulo na época, mesmo tendo sido o segundo na lista tríplice, Rodas acumulou diversas polêmicas. Na parte financeira, sai do cargo com um déficit nas contas, porém tendo implantado um novo plano de carreira para os funcionários.

Déficit
No último relatório divulgado pela Reitoria, relativo a 2012, a administração publicou que a universidade estava com um déficit de cerca de 572,1 milhões de reais. Comparando com o ano anterior, também da gestão de Rodas, a receita repassada pelo Estado foi pouco alterada, mas em 2011 o saldo foi positivo, de cerca de 72 milhões de reais.
“O orçamento da USP para 2013 foi fixado em R$ 4,3 bilhões e a Universidade trabalha com a estimativa de gasto com pessoal de R$ 4,37 bilhões e gastos com custeio e investimentos de R$ 629 milhões”, afirma Adriana Cruz, assessora de imprensa da Reitoria, sobre o assunto. Segundo ela, o déficit está sendo coberto com reservas financeiras. Uma das razões para o aumento dos gastos, conforme a reitoria informou, foi o comprometimento com pessoal temporariamente mais elevado que o normal, devido ao ajustamento da carreira.
De acordo com dados do Fórum das Seis (entidade que reúne os sindicatos de funcionários e docentes da USP, Unesp e Unicamp), a USP gasta, em porcentagem, mais com salários do que as outras duas estaduais paulistas. Em julho de 2013, enquanto Unesp e Unicamp comprometeram cerca de 91% das liberações financeiras do estado, a USP empenhou por volta de 102%.
Esse número estaria relacionado, segundo a assessora, à valorização da carreira dos servidores da USP e à relativa estagnação da economia brasileira, o que “resultou num descompasso entre o crescimento da despesa da Universidade e dos repasses do Tesouro do Estado, atrelados ao percentual de 5,0295% do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS)”. Contudo, para Neli, diretora do Sindicato dos Trabalhadores da USP (Sintusp), esses valores não podem ser atribuídos à implementação do plano de carreira.
A Reitoria espera que “a economia brasileira retome uma taxa de crescimento mais robusta e, assim, a Universidade possa equacionar o descompasso entre receitas e despesas”. Nesse intervalo de tempo, de acordo com Adriana, as reservas da Universidade, complementadas por outras políticas de racionalização dos gastos, estão sendo utilizadas para garantir a manutenção dos serviços.

Plano de Carreira
Um dos objetivos do plano de carreira implantado na gestão Rodas, segundo Adriana Cruz, era aumentar a concentração dos trabalhadores nas faixas intermediárias por meio da criação de “mecanismos contínuos de progressão e critérios sistematizados” para que fosse possível alterar o cenário do momento, no qual a concentração dos servidores se dava nas faixas iniciais. Segundo Neli Wada, o plano é resultado de um acordo com a Reitoria no fim da greve de 2010, que estabelecia que a nova carreira seria discutida em comissões paritárias de funcionários e indicados pela Reitoria. Além disso, a volta da isonomia salarial também seria analisada.
Implementada em 2011, a carreira trouxe ganhos consideráveis para os funcionários, afirma a diretora do Sintusp. “Nós recuperamos os 5% [equiparando o salário, na época, com as universidades estaduais paulistas] e conseguimos subir os pisos salariais do grupo básico, técnico e superior”. Porém, na segunda fase do plano, servidores das funções de motorista, cozinheiro e alguns técnicos de manutenção, que haviam sido contratados no nível II da carreira, voltaram para o nível I, declara Neli. Segundo ela, esse erro não foi corrigido. Outro ponto colocado como prejudicial por ela foi o fato de que os comitês que avaliaram a progressão na carreira não foram paritários e que “não houve equidade”. “Muita gente que já tinha progredido, subiu outra vez”, declara.
Outro problema na segunda fase foi a verba limitada destinada à progressão. De acordo com Neli, o valor fixado (6% da unidade), era menor do que o valor necessário para progredir todos que mereciam. As duas grandes reivindicações atuais no tema são para que a progressão não seja limitada pela verba disponível e que os critérios de avaliação sejam mais objetivos e uniformes para todas as unidades. Atualmente, cada instituto adota parâmetros específicos. Apesar disso, a diretora do Sintusp declara que o plano de carreira “valeu a pena”.
A nova fase do plano de carreira estava inicialmente marcada para outubro desse ano, porém, com os atrasos da segunda fase, ela será iniciada em janeiro do ano que vem, segundo Neli.