Ombudsman

Nesta última coluna como ombudsman do Jornal do Campus, gostaria de deixar uma sugestão: uma seção fixa com clássicos obrigatórios para todo jornalista, um por edição. Jornalistas lêem pouco, o que é uma lástima, porque só escreve bem quem lê muito. É a leitura que nos proporciona vocabulário e repertório, dois itens imprescindíveis para um bom texto.

Observem os colunistas e repórteres dos jornais. Comparem-nos. Por que alguns articulistas, mesmo que a gente discorde deles, possuem raciocínios que nos despertam curiosidade, e outros, mesmo que a gente concorde, têm um texto sofrível? Por que algumas reportagens nos capturam desde a primeira linha? E por que outras são tão flagrantemente chatas?

Porque faltou leitura a estes profissionais. Para escrever um texto de opinião é preciso ter referências. Para escrever uma boa reportagem é preciso ter o domínio da palavra. É disso que vivemos, da palavra. Somos operários da palavra. Temos que saber construir um texto com elas, tijolo por tijolo.

Li e leio sempre. Os meus livros favoritos sempre foram os romances, e digo: leiam ficção, o máximo que vocês puderem. Os grandes escritores são os maiores especialistas em texto que existem. Leiam também os clássicos do jornalismo. Preparei uma pequena lista com livros que considero essenciais:

1. Os meios de comunicação como extensão do homem, de Marshall McLuhan. Li na faculdade e nunca esqueci. Quer algo mais visionário que o conceito de “aldeia global” de McLuhan?

2. Qualquer biografia escrita por Fernando Morais. Olga, Chatô ou até mesmo aquele sobre Paulo Coelho vale a pena, porque Morais é um craque. Tem um texto absolutamente sedutor e muito a ensinar a qualquer estudante de jornalismo, profissional iniciante e a todo mundo.

3. Fama & Anonimato, de Gay Talese. Os perfis escritos pelo jornalista norte-americano, como o de Frank Sinatra, são inspiradores para qualquer repórter.

4. A Sangue Frio, de Truman Capote. Um clássico do new journalism, tenho certeza que já deve estar na lista de todos vocês.

5. Na Pior em Londres e Paris, de George Orwell. Em 1928, muito antes de Talese e Capote, Orwell se colocou na pele de mendigo para ver como viviam os moradores de rua nestas duas capitais européias. É genial.

6. A aventura de Miguel Littín Clandestino no Chile, de Gabriel García Márquez. O Nobel colombiano também é um grande jornalista, e neste livro-reportagem narra a viagem secreta, em 1985, do cineasta exilado Miguel Littín a seu país natal, durante a ditadura de Pinochet.