Para contramestre Pinguim, a capoeira nunca para

Atualmente, Pinguim é coordenador do Núcleo Artes Afrobrasileiras. Foto: Marina Salles

Luiz Antônio Nascimento Cardoso, mais conhecido entre os alunos como contramestre Pinguim, é baiano da periferia de Salvador e professor de capoeira na USP. Ele veio para São Paulo na adolescência, depois da morte do pai. Sua mãe tinha vindo antes, após a separação do casal, em busca de melhores condições de vida. Criado junto de seus cinco irmãos, Pinguim conta que sua história com a capoeira começou na época em que ele estava buscando uma atividade física que ocupasse não só seu corpo, mas sua cabeça: “Chegando aqui a gente foi estudar e começou a trabalhar, porque minha mãe era sozinha. Ela era boa quitutera, fazia bolo, a gente vendia. Colocou todos nós pra fazer atividade, ocupar a cabeça. Trabalhei um tempo na feira e não tinha muito o que fazer, estudava à noite e foi quando comecei a treinar capoeira”.

Luiz Antônio explica o porquê do “nome e sobrenome” capoeira: “Pinguim foi o apelido dado pelo meu primeiro mestre, porque dentro da capoeira ou você ganha um apelido ou traz de casa. Comecei na Avenida Rio Pequeno com o mestre Pato, e como entrei meio cismado, desconfiado, encolhido, sem saber o que eu ia achar… depois de um tempo, ele me batizou assim”. Sobre a denominação de “contramestre”, ele esclarece: “O aluno vem como observador, passa a orador, depois é aluno, daí discípulo e contramestre. Eu sou contramestre, sucessor do mestre, responsável pela oralidade que foi passada. Agora, quando vou ser chamado de mestre? Quem vai dar esse nome não sou eu não, são os alunos”.

Atual coordenador do Núcleo de Artes Afrobrasileiras da USP, ele lembra que no ano de 1997 foi convidado por um amigo para dar aulas na Universidade. “Eu dava aula no Instituto Butantã, fiz um trabalho com os alunos, com a comunidade e a coisa foi crescendo. Um tempo depois parei, mas aí o pessoal veio e disse que tinha achado outro espaço pra mim. Fui pra Química, no centro acadêmico, só que tiraram a gente de lá e fomos parar no bandejão. Os alunos sentiam que o nosso trabalho tinha importância”. Tendo mudado várias vezes de lugar por não ter vínculo direto com a USP, o grupo só foi reconhecido em 2007 como núcleo de cultura e extensão, o que permitiu que pudesse ter endereço fixo na Universidade.Hoje, o espaço de produção cultural fica localizado nas dependências dos antigos barracões da FEA, onde são oferecidas aulas gratuitas não só de capoeira, como também de dança afro, percussão e teatro.

O trabalho realizado no Núcleo já foi tema de trabalhos de TCC, mestrado e doutorado. Segundo Pinguim, os alunos estão sempre presentes. “Como é dentro da universidade tem aquela coisa: vem e vai. Mas são muitos alunos, mais de cem. Fora aqueles que procuram pra fazer pesquisa. Isso é a capoeira, nunca para”. Por isso, ele diz não poder se apresentar como mestre: “eu sou um aprendiz da capoeira, estou aprendendo toda hora”. Quando perguntado sobre quantos anos tem de experiência nessa vida, ele completa: “Fica o mistério, sou uma criança em desenvolvimento”.