Coletivo feminista produz poesia erótica

Integrantes do “Circular de Poesia Livre” defendem a liberdade sexual e comportamental das mulheres por meio da arte

Poemas intimistas sobre a mulher e a sexualidade são a linha de frente da produção literária do Circular de Poesia Livre (CPL), coletivo criado por ex-alunas da Escola de Comunicações e Artes (ECA). Por meio de seus poemas, alguns dos quais estão no site do Circular e em livros escritos por duas integrantes do grupo – as escritoras Suzana Longo e Bruna Escaleira –, o CPL luta pela causa feminista, e engana-se quem imagina se tratar de uma reunião de mulheres radicais que pregam a superioridade do sexo feminino.
“Feminista que é feminista luta pela igualdade entre os sexos, e não pela superioridade de um em relação ao outro”, afirma Suzana Longo, integrante do Circular. No esforço pela conquista da igualdade empreendido pelo grupo, está a luta pelo fato de que as mulheres, assim como os homens, também possam ter o direito e a liberdade de falar sobre sua relação com o sexo, seus desejos e vontades, e o caminho encontrado pelo grupo para atuar pela causa foi a poesia. A atuação já deu origem a dois livros, ambos publicados pela Editora Patuá: Senta direito, querida, de autoria de Suzana Longo e publicado em junho de 2013, e Entranhamento, escrito por Bruna Escaleira e lançado no dia 27 de março de 2014.

Novo jeito de ver o mundo

Em entrevista com o coletivo, as integrantes contaram que o tema da poesia erótica surgiu da coincidência de que, na época da criação do CPL, em 2011, todas encontravam-se envolvidas na produção de textos relacionados ao assunto. No entanto, o material era guardado em confidência, não era publicado. A partir do momento em que se reuniram, houve uma relação de empatia, ao perceberem que estavam vivendo o mesmo momento de reflexões e questionamentos.
Bruna conta que a convivência com o grupo lhe permitiu desenvolver novas maneiras de compreender a si mesma e ao mundo. Entre as possibilidades de reflexão, está o fato de que o grupo reúne mulheres de diversas orientações sexuais, e a troca das várias experiências individuais, a partir da poesia, permite que cada uma conheça uma nova maneira de compreender a sexualidade.
Outro ponto ressaltado pelo grupo é a questão da quebra de tabus íntimos. Para Mariana Queen, também integrante do grupo, a produção dos poemas vai ao encontro da luta pela não repressão. Segundo Mariana, muitos textos produzidos pelo Circular abordam os pudores que temos em relação ao nosso próprio corpo e ao comportamento. “Por que é considerado incômodo falar sobre a menstruação ou sobre os desejos femininos?”, questionam as integrantes do CPL.

O ato público mais íntimo

Entre as integrantes do grupo, estão poetisas que atuam nas artes plásticas e no audiovisual. No entanto, apesar de conviverem com outras formas de linguagem cultural, as integrantes contam que encontram nas palavras o caminho mais agradável para se expressarem. Para elas, isso se deve ao fato de que o texto poético apresenta um caráter intimista muito forte, o qual quando lido por outras pessoas, gera uma grande relação de identificação e de aproximação com aqueles que leem os textos. “Quando a gente expõe os nossos questionamentos em um poema, é muito mais fácil para que uma outra pessoa leia e pense ‘Eu também sinto a mesma coisa’”, conta  a escritora Suzana Longo.

Credo
creio na menstruação, toda poderosa
criadora do vazio que me preenche
e na autonomia sobre meu destino
só meu

creio na contracepção
nas santas barreiras elásticas
na responsabilidade compartilhada
na autodeterminação
na igualdade conquistada
no gozo livre

porém,

em nome do anticoncepcional masculino, lutaremos

e que seja feita nossa justiça
por todos os séculos e séculos

Bia Ska

Meninas do CPL já produziam textos eróticos antes de se conhecerem. Foto: Ana Paula Souza