Denúncia de racismo cria tensão na Geografia

FFLCH

Uma polêmica se levantou na terça-feira passada (18) no Departamento de Geografia (FFLCH) quando alunos denunciaram o professor André Martin, chefe do Departamento, por suposto comentário racista. O caso ocorreu durante a aula de Regionalização do Espaço Mundial quando o professor falava sobre a presença das tropas brasileiras no Haiti. Segundo os alunos Martin teria dito: “Se o exército brasileiro não estiver lá [no Haiti], quem vai por ordem na macacada?”. Questionado, o docente teria se justificado afirmando que era o que o diria imperialismo norte-americano. Com a insatisfação dos alunos diante da justificativa, ele disse que o termo era utilizado “na sua época” para dizer “povão”.
O caso dividiu a opinião dos estudantes do curso. Alunos não identificados picharam a porta da sala do professor com palavras como “racista” e “otário”.
Martin emitiu uma carta aberta, em que se disse “consternado” e “na obrigação de esclarecer a todos o que realmente aconteceu” e negou a frase que está circulando nas redes sociais. Na carta ele expôs seu ponto de vista sobre a polêmica e finalizou com um pedido de desculpas: “Não tenho nenhum problema em pedir desculpas pessoalmente ao aluno que se sentiu ofendido, pois jamais tive qualquer intenção de fazê-lo. Espero honestamente que este episódio infeliz sirva ao menos como pretexto para que coloquemos o debate acerca das sobrevivências do preconceito racial no Brasil em um novo patamar”.
Os alunos presentes na aula emitiram também uma nota de esclarecimento. Nela, eles afirmam que o termo empregado pelo professor teve conotação racista. No entanto, apontam que “o enfoque e objetivo da questão não é estigmatizar um Professor ou Chefe de Departamento, e sim colocar em debate o racismo materializado estruturalmente e institucionalmente em nossa sociedade e Universidade”. Por fim, eles afirmam a necessidade de uma retratação pública e não individual, como afirmou Martin. “Não se trata de uma ofensa particular de um aluno que se indignou e se retirou da sala, pois o racismo não é algo personificado”.