Grupos estudantis dão ritmo ao campus

Bloco de baterias e grupo inspirado no maracatu são algumas das atividades culturais de iniciativa dos alunos
Dinâmica do Coro de Carcarás, que oferece oficinas de maracatu todas as quintas-feiras, ao meio dia, no gramado ao lado da FAU (Foto: Gabriela Fachin)
Dinâmica do Coro de Carcarás, que oferece oficinas de maracatu todas as quintas-feiras, ao meio dia, no gramado ao lado da FAU (Foto: Gabriela Fachin)

A avenida Luciano Gualberto se transforma num espaço de diferentes ritmos às quintas-feiras. No dia 20 de fevereiro, quem passou por ela no final da tarde, pode acompanhar os batuques vindos dos surdos de um cortejo de baterias. Quem costuma estar por ali na hora do almoço também ouve as batidas todas as semanas, mas dessa vez vindos das alfaias, tambores típicos do maracatu. Os sons, que destoam do barulho de ônibus e carros, são fruto de iniciativas culturais dos estudantes,  que vão de um bloco de baterias nascido numa competição esportiva a um grupo que se inspira no maracatu na busca de transformar a realidade.

Bate forte o tambor

O Bloco da USP, que reúne baterias de várias unidades, nasceu com um objetivo diferente da maioria das baterias universitárias. Estas geralmente surgem para animar a torcida da sua faculdade nos jogos universitários. No caso do bloco, “nosso negócio é agregar gente”, diz Marcelo Garcia, ex-mestre da BaterECA e integrante do grupo.
Chamado de Bloco de Baterias do BIFE, competição universitária entre algumas faculdade da USP, até o ano passado, foi criado em 2012 durante esse evento. “Em integrações entre as baterias que vão aos jogos, fora da quadra, viram que dava para fazer, juntos, algo mais organizado. Então foi criado o bloco, para juntar todos que gostam de tocar mas não têm oportunidade de fazer isso o ano inteiro”, conta Garcia. Desde 2013 o grupo passou a se chamar Bloco da USP, porque baterias de unidades que não competem no BIFE têm participado há algum tempo.
“Quando os ânimos se esquentam dentro da quadra, a rivalidade é natural. A bateria faz sua parte e ‘bota fogo’ na torcida. Nesses dois anos que estou no bloco, entendi que a competição é apenas isso e é só dentro de quadra. Fora dela temos interesses em comum. No bloco somos amigos, nunca rivais”, explica o integrante.
Para ingressar no grupo basta fazer parte de qualquer bateria e comparecer aos ensaios. “Não é necessária a presença da gestão da bateria para ela fazer parte do bloco. Nosso foco é trazer pessoas de cada canto”, diz o ex-mestre da BaterECA. Atualmente compõem o Bloco da USP a Bateria Manda Chuva (FFLCH), a Tubatuque (IQ), a Cherateria (IF e IAG), a BaterECA (ECA), a Farmatuque (FCF), a BAISF (FD), a Rateria (Poli), a Bandida (EACH), a Arritmia (EE), a IMEteria (IME) e a Unidos do Matão (IB).
O grupo começa a se organizar depois do BIFE. Os ensaios se iniciam na segunda quinzena de novembro e continuam até a realização do bloco, que esse ano aconteceu na semana de recepção aos calouros.

Maracatu Atômico

Apesar de se apropriar do maracatu tradicional, o Coro de Carcarás não tem a intenção de reproduzir formalmente, na USP ou na cidade de São Paulo, essa manifestação cultural típica de Pernambuco. Tanto que o grupo toca funk e baques criados por eles mesmos. “A nossa proposta é, em certo sentido, conservar o que a cultura popular tem de mais forte, que é a relação com a própria vida”, explica João Borghi, integrante desde 2007.
O grupo que deu origem ao que hoje se chama Coro de Carcarás nasceu “a partir de uma necessidade dos estudantes produzirem algo para além da grade curricular obrigatória”, conta Borghi. Há cerca de 11 anos, formou-se um grupo de maracatu na FAU, um dos vários núcleos de produção criados através do grêmio da faculdade (GFAU). No início, o grupo detinha-se ao maracatu tradicional, manifestação cultural organizada como um cortejo a um rei africano que envolve dança e percussão. Aos poucos, a iniciativa ganhou um outro caráter, até culminar na criação do Coro de Carcarás, em 2008.
O integrante explica que, em sua origem, o coro é de certo modo a fusão do grupo de maracatu com o núcleo de produção teatral. A nova cara do grupo parte também das discussões da revista contravento, outro núcleo de produção do GFAU, que contribuiu para a formação dos princípios estéticos e políticos do Coro de Carcarás. “Hoje em dia o centro da nossa atividade é o maracatu, só que mesmo nas oficinas e nos ensaios de maracatu, tentamos inserir outras possibilidades de linguagem”, esclarece Borghi.
O aspecto político do Coro de Carcarás está no desejo de expressar algo sobre o nosso momento histórico através de sua produção cultural, bem como de promover mudança. “Para nós, as nossas intervenções sempre impulsionam ou tendem a ações e transformações concretas na realidade em que vivemos”, diz o integrante. Além disso, o grupo tem um histórico de forte atuação nas greves estudantis, durante os atos dentro e fora da USP.
O Coro de Carcarás mistura estudantes de várias unidades. Desde a sua criação, na qual os alunos de Letras também participaram, há integração mais ampla de outros estudantes além dos da FAU. Qualquer pessoa pode ingressar no grupo. Basta participar das oficinas, que envolvem dinâmicas de preparação do corpo e da voz, para aprender a tocar. Elas acontecem toda quinta-feira ao meio dia.