Teatro para todos na Cidade Universitária

Alguns estudantes buscam grupos de teatro para descobrir o poder de comunicação da arte e superar seus limites
Participantes do Grupo de Teatro da Poli em dinâmica de atuação experimental durante encontro. Foto: Giovanna Gheller

Ensaios de teatro independente acontecem em várias faculdades da Universidade. Com dinâmicas de grupo e montagem de peças, os encontros propiciam aos interessados momentos de contato com o outro e consigo próprio, e reafirmam a importância da valorização da arte dos palcos.
Mariana de Chirico é estudante de artes cênicas na Escola de Comunicações e Artes (ECA) e coordena desde 2013 o grupo teatral das Ciências Sociais. Como explica, “coordenar” não significa tomar o lugar de diretor, mas sim investigar quais são os papéis fundamentais da linguagem teatral, como direção, dramaturgia, atuação e cenografia. “O meu papel, em específico, se resume a levar proposições e provocações, mas a construção de ‘cargos’ ou funções se dá no decorrer do próprio processo, pelo interesse de cada um”, diz.
Para ela, a busca pelo teatro dentro da Universidade tem dois focos mais comuns: novos espaços e relações, que façam perder o medo e estimulem o autoconhecimento e a superação de limites; e o encontro com a arte e seu poder de comunicação.
Rodrigo Galvão, que cursa História na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), diz que viu no grupo de teatro da ECA um desejo e uma saudade de infância. Fez teatro quando pequeno, mas depois parou. “Até que conheci pessoas que estudavam em grupos organizados por alunos e quis voltar. Uma amiga disse que ensaiava com um pessoal da ECA e me chamou para ver como era. Fui e gostei”, relata.
O grupo da ECA tem à sua frente alunos também de artes cênicas, a quem a experiência é igualmente de aprendizagem: eles próprios passam por um processo pedagógico fundamental para o ensino da arte. Carolina Braga, que coordenou este grupo em 2013, acredita que o fato de ele não estar vinculado a um sistema determinado permite aos integrantes fazerem vários tipos de experimentações. “É muito diferente a maneira como se lida com um curso de artes cênicas e com um grupo de teatro para iniciantes. No grupo, pelo pouco tempo que temos, trabalhamos mais com o desenvolvimento pessoal”, explica.
A Escola Politécnica também tem sua turma. O Grupo de Teatro da Poli (GTP) nasceu em 1945, o que faz dele um dos mais antigos grupos de teatro universitário do Brasil. Subsidiado pelo Grêmio Politécnico, é feito para alunos e não-alunos da unidade, e conta anualmente com 60 integrantes divididos em três níveis. “O interessante desse trabalho é que os politécnicos, em especial, são mais fechados e têm mais dificuldade para se relacionar. Com o teatro, podem relaxar, socializar e participar desse processo de humanização que a rotina não viabiliza diariamente”, diz Néia Barbosa, coordenadora de artes cênicas. O GTP já realizou apresentações nos estados da Paraíba e de Minas Gerais, e no mês de maio irá se apresentar na Tenda Cultural.
Mas nem tudo são flores. Segundo os coordenadores, a falta de comprometimento de alguns participantes e a escassez de verba são alguns dos impasses que podem limitar o desenvolvimento dos grupos.
Carolina, da ECA, conta que, pelo fato de não estarem atrelados a nenhuma obrigação acadêmica, há quem encare os encontros apenas como um hobby. Essa frequência inconstante é uma característica do teatro universitário aberto a todos. Na troca de ano letivo, pessoas se formam e ingressam na faculdade enquanto os grupos se renovam. Exatamente por isso, eles tendem a ser fechados passado algum tempo, para que possam ser montadas apresentações com um núcleo mais fixo.
Algumas apresentações, por sua vez, não têm uma periodicidade definida. “Ano passado fizemos um experimento cênico de meia hora, e depois abrimos para debate. Mas nem sempre estamos ou nos sentimos prontos para produzir algo, e não existe a obrigatoriedade de apresentar um produto”, explica Mariana. “De qualquer modo, é sempre bom procurar por olhares externos. A ideia não é nos fecharmos em um mundo terapêutico ou de experimentação pessoal apenas, mas sim desenvolver discursos e poder fazer esse tensionamento com o ‘mundo’”. Assim, do mesmo modo que as artes, os resultados do desenvolvimento pessoal construído em conjunto também devem ser democratizados.

Manifeste sua arte

Estão abertas as inscrições para a 22ª edição do Programa Nascente, uma iniciativa da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária.

Com o intuito de promover e estimular a produção cultural dos alunos artistas da Universidade, ao final de cada ano, o programa premia em dinheiro estudantes que se destaquem nas áreas de direção, interpretação, desenho, escultura, fotografia, gravura, instalação, multimídia, performance, pintura, projeto e finalização audiovisual, design, música e texto.

Inscrições e mais informações em :
wwww.prceu.usp.br/nascente