Acervo de figurinos da ECA não é catalogado

Segundo funcionárias, guarda-roupa das artes cênicas sofre
com a evasão de peças por falta de controle de empréstimos
Foto: Fernando Pivetti

A ausência de uma forma de controle dos figurinos do guarda-roupa da Escola de Comunicações e Artes (ECA) é um problema que atrapalha o empréstimo e facilita a evasão de peças. Além disso, não é possível manter uma organização sistemática dos itens.

O acervo de figurinos existe desde 1948 e teve início em uma pequena sala. Em 1993, foi transferido para o segundo piso do Teatro Laboratório da ECA para servir aos alunos de artes cênicas. Ele foi crescendo aos poucos principalmente com doações feitas por companhias de teatros, atores e até alunos.

“Agora também temos problema de espaço. Doações vêm para cá e é feita uma triagem do que dá para ser aproveitado. Temos que abrir espaço para o que pode ser utilizado aqui, mas já está tudo muito cheio, por isso todo ano precisamos fazer um levantamento do que está sendo usado ou não. O que não está sendo utilizado mandamos para doação”, explica Silvana de Carvalho, funcionária do acervo.

Thiago Cordero, aluno do primeiro ano de artes cênicas, é um dos usuários do guarda-roupa. Segundo ele, o acervo é bem amplo e sempre consegue encontrar o que precisa por lá. “Ele é bem completo. Só os acessórios, como chapéus e gravatas, que tem em grande quantidade, só que pouca variedade”, relata.

Atualmente, não se sabe qual é o número exato de peças do acervo. Estima-se que gira em torno de 10 mil, mas sem a catalogação adequada, não é possível comprovar se o número está certo. Também não se sabe precisamente os tipos de roupas que existem por lá, mesmo que estejam divididas por categorias nas araras. “Já foram feitas várias propostas para informatizar o acervo, mas nada foi concretizado ainda porque faltam recursos. Aqui no teatro é tudo muito improvisado, a gente tem que se virar com o que tem no local”, relata Silvana.

Empréstimo e Evasão

Como não há catalogação, o sistema de empréstimo é feito na confiança. As funcionárias do local fazem um controle próprio, por meio de fichas. Os itens são emprestados somente aos alunos do Departamento de Artes Cênicas e da Escola de Artes Dramáticas da USP. Para outros setores da ECA, o empréstimo é feito apenas de maneira formal, por meio de ofícios.

“Os alunos que pegam os figurinos devem devolvê-los limpos, porque não temos lavanderia aqui, apenas uma máquina de lavar improvisada para algumas emergências”, relata Ilza da Silva Santos, também funcionária do local. Os estudantes têm como função devolver as peças em pleno estado de conservação, lavadas e passadas.

O guarda-roupa conta com quatro funcionárias e são elas que cuidam de tudo. Elas costuram, ajustam, customizam e improvisam quando é necessário. É assim que o acervo dá conta da maior parte das necessidades.

“Enquanto não houver catalogação de um jeito mais seguro, sempre vai acontecer evasão”, afirma Ilza. Silvana completa: “Não tem como controlar a evasão de figurinos sem um sistema adequado de controle. É uma necessidade”. Segundo as figurinistas, muitos alunos concluem o curso e levam embora as peças que usaram. Então, elas não conseguem mais cobrar a devolução dos itens. Além de reduzir esse problema, a catalogação permitiria saber com mais precisão o que se encontra disponível para uso.

Falta de controle de empréstimos prejudica a manutenção do acervo (Foto: Lara Deus)

 

Importância

“Eu acho que isso aqui é mágico, é fundamental aqui no teatro, a importância é imensa”, diz Silvana. Segundo as funcionárias do acervo, é no guarda-roupa que a magia do teatro acontece, já que alguns atores só conseguem incorporar a personagem totalmente após vestir o figurino adequado. O aluno Thiago concorda: “[O acervo] é de suma importância. Ele ajuda a entrarmos de verdade na personagem e dar a concretude necessária para uma performance, por exemplo”.

A proximidade com os estudantes é grande, devido ao contato contínuo, principalmente nos dois últimos anos de curso. “A USP é privilegiada, nenhuma escola de teatro que a gente conhece tem um acervo como este. É um espaço muito procurado”, conclui Silvana.