Estudante acusa USP de ter sido negligente

Após estupro em festa, aluna de Pirassununga afirma não ter recebido o apoio esperado da Universidade

A estudante de veterinária L. afirma ter sido estuprada por aluno intercambista durante uma festa de república em Pirassununga, no interior de São Paulo. Apesar do crime ter ocorrido fora do Campus da Universidade, a vítima aponta para o despreparo e preconceito de seguranças e assitentes sociais da instituição que a atenderam em busca de auxílio.
O crime aconteceu no dia 6 de julho do ano passado. L. diz que estava alcoolizada e foi se deitar em um dos quartos para descansar. O intercambista, que havia dado carona para ela e algumas amigas até a festa, a seguiu e insistiu para que eles fizessem sexo. Após negar por repetidas vezes, L. conta que adormeceu e só acordou no momento em que ele já abusava sexualmente dela. “Lembro de ter acordado assustada quando ele me colocou numa posição em que já estava quase nua. Tombei pro lado e repeti que não queria. Eu o empurrei, mas zonza e fraca, ele me virou e conseguiu me estuprar”, relata.

O que diz a Universidade?

Para a vítima, o despreparo da Universidade foi total. Justificando suas críticas à instituição, L. conta que após o crime, quando foi procurar ajuda na assistência social do campus antes de fazer o boletim de ocorrência (B.O.) na delegacia da cidade. Depois, quando a aluna fez o boletim interno da USP, conta que foi humilhada: “O segurança ficava falando que não era para eu ter bebido e nem ido ‘nessas festas’.
Outra decepção, segundo L., foram os comentários da assistente social que a atendeu. “Ouvi logo de cara coisas do tipo ‘mas a gente vive dizendo pras pessoas não irem às festas, não beberem, é complicado, vocês jovens ficam se colocando em situações de risco’”, relata. A vítima também denuncia que antes de falar com L. a funcionária afirmou ter conversado com o agressor.
Meses depois, quando intimado, o agressor foi ao quarto de L., às 2h30, acompanhado de outro estudante. A estudante acredita, que para ameaçá-la – mas ela não estava em casa. Uma amiga de L., que presenciou o fato, foi testemunhar o ocorrido na segurança do campus, mas a Universidade afirmou não encontrar o boletim interno que ela havia feito. “Na terceira vez em que fui perguntar se tinham encontrado o boletim e as fitas de segurança que eu precisava levar pro investigador, o segurança me perguntou se eu realmente achava que valia a pena ir adiante, porque ‘quem bebe e vai nesses lugares está procurando’”.
Nos alojamentos, todas as movimentações devem ser controlada pela segurança e homens, teoricamente, não podem circular pelos blocos femininos.
Em resposta ao Jornal do Campus, quando questionado sobre o ocorrido, o chefe de segurança do Campus de Pirassununga, Geraldo Porto, restringiu-se a afirmar que os processos estão acontecendo nas devidas instâncias de direito e não quis se manifestar sobre o boletim de ocorrência interno ou sobre às fitas do alojamento.
O vice-prefeito do Campus da USP em Pirassununga, Arlindo Saran Netto, afirmou que não existem documentos internos sobre este assunto -já que o caso ocorreu fora do campus -, o que existe é apenas conhecimento de um Boletim de Ocorrência na delegacia de polícia da cidade. “Consultei a segurança e não temos nenhum boletim de ocorrência interno feito pela aluna ou por outras alunas do alojamento”, afirmou Netto. “Não temos interesse algum de não passar informação, mas de fato a informação plausível que temos é o boletim de ocorrência relatado pela aluna na delegacia de polícia”, completa.