Obra no Museu Paulista prejudica pesquisa

Segundo docente, acesso de pesquisadores aos documentos e peças da instituição ficou praticamente paralisado

Fechado para restauro desde o dia 3 de agosto do ano passado, o Museu Paulista, mais conhecido como Museu do Ipiranga, ainda não possui o cronograma das obras nem previsão de quando será a reabertura. “Dada a complexidade dos trabalhos que irão envolver o restauro e a modernização do edifício, bem como a necessidade de construção de um bloco técnico, um cronograma de obras e a decorrente reabertura do Museu poderão ser anunciados apenas depois de finalizados os projetos”, explica a diretora do Museu Paulista, Sheila Walbe Ornstein.

Museu Paulista está fechado desde o ano passado para restauração (Foto: Gabriela Silva)

Segundo a diretora, o edifício precisa de ações completas de restauro desde as fachadas, telhado e claraboias até o seu interior. Ações de modernização da infraestrutura e adequações de acessibilidade a pessoas com deficiência também são necessárias. A expansão para abrigar os milhares de itens de sua reserva técnica, acervos, laboratórios de conservação, setores educativo e administrativo, entre outros, também está nos planos da diretoria, já que o edifício Monumento será destinado apenas a exposições quando for reaberto.

Até agora, de acordo com Sheila, foram realizados escoramentos de diversas salas em função do desplacamento de forros, dentre elas uma sala expositiva do segundo piso situada na Torre Oeste, o salão Nobre e o auditório. Ainda no segundo semestre de 2013, a Superinterdência do Espaço Físico (SEF) da USP coordenou a realização de diagnósticos necessários para o restauro das fachadas, caixilharia em madeira, telhado e claraboias e coletores de águas pluviais.

Pesquisa

Mesmo com o fechamento, a equipe do Museu Paulista continua em suas atividades cotidianas. A pesquisa da professora Maria Aparecida de Menezes Borrego não precisou ser interrompida com o fechamento da instituição. Segundo a docente, “a pesquisa teve início em abril de 2011 e se encerrou esta semana, no prazo previsto”.

A docente explica que o acervo é peça-chave em sua investigação. “Partimos de uma centena de artefatos, notadamente móveis, datados do século XVII até a primeira metade do século XIX para refletir sobre as conjunturas vivenciadas pelos habitantes da cidade de São Paulo colonial”.

Por ser parte fundamental da pesquisa, o fechamento da instituição prejudicou os trabalhos da equipe. “O acesso dos pesquisadores ao Serviço de Documentação Textual e Iconografia e ao Serviço de Objetos do Museu Paulista ficou praticamente paralisado nesses primeiros meses, sendo atendidos apenas os consulentes com pesquisas acadêmicas em andamento, mediante a análise de cada caso.

Como temos um site criado para o trabalho da equipe, pudemos dar continuidade à investigação, mas tivemos que realizar as atividades fora da instituição, promovendo as reuniões periódicas com os bolsistas na casa em que o Museu funciona provisoriamente”, disse. Maria teve acesso ao Banco de Dados e Imagens da instituição e digitalizou os documentos escritos que eram interessantes à sua pesquisa, antes do fechamento.

Acervo

Sheila garante que os acervos do Museu Paulista encontram-se em condições adequadas de conservação. “A equipe de especialistas tem realizado os trabalhos de manutenção dos itens de forma cuidadosa e rotineira”, disse.

A equipe da instituição já apresentou à SEF e ao Vice-Reitor as alternativas de locais tecnicamente viáveis para receber os acervos, mas nem todas as peças serão removidas. Permanecerão no interior do Museu, protegidos contra impacto, os itens de acervo de grande porte e que foram indicados pelos especialistas para permaneceram em seu interior, evitando-se riscos de movimentações atípicas, como no caso do Quadro Independência ou Morte de Pedro Américo; os bandeirantes que compõem o saguão de entrada; a maquete da cidade e a maquete do edifício.

Orçamento

Como a equipe de projetistas responsável pelas obras de restauro não foi contratada, ainda não existe a previsão de custos da reforma, mas a direção do Museu Paulista entende que tanto a primeira etapa de transferência de acervos quanto projetos completos para restauro, modernização do edifício monumento e sua expansão deverá ser provida pela Reitoria. “É nossa compreensão que os Gestores Reitorais e a SEF poderão fornecer estimativas de custos após a contratação da equipe de projetistas”, disse Sheila.

Pesquisador tem acesso restrito ao acervo em função do fechamento (Foto: Gabriela Silva)

Sobre a crise orçamentária que atinge a Universidade, a diretora assume estar preocupada, assim como todos os Dirigentes da USP. Os atuais Gestores Reitorais, porém, indicam que a instituição deve necessariamente receber uma atenção especial. “O Museu Paulista é muito importante para a sociedade brasileira e há décadas estabelece um vínculo de grande relevância entre a população de todo o país e a USP”, afirma.