A cidade sonhada em contraponto à vivida

Um papel branco dividido em duas partes: em um lado, deve-se desenhar a realidade vivida; no outro, a realidade sonhada. Por meio de uma atividade aparentemente simples, Eduardo Pimentel Pizarro pôde permitir que estudantes do CEU Paraisópolis expressassem seus pontos de vista sobre a realidade das cidades, as relações humanas e os sonhos infantis. A iniciativa, que envolveu crianças de 8 a 11 anos, faz parte da pesquisa de Eduardo para dissertação de mestrado a ser defendida na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) e resultou em um acervo de produções artísticas que será exposto a partir deste mês na Tenda Cultural Ortega y Gasset.

Ilustração: Isabela de Souza da Silva, participante do projeto

De 17 de maio a 7 de junho, quem for à Tenda poderá entrar em contato com o resultado da semana de trabalho de Pizarro com os meninos e meninas da comunidade. Durante o período em que esteve em contato com as crianças, o arquiteto, cuja dissertação de mestrado explora os conflitos e as potencialidades das favelas, afirma que encontrou desenhos que revelam a consciência das crianças a respeito da realidade sócio-econômica em que vivem, e, entre eles, vários chamam atenção.

Segundo Pizarro, “As favelas possuem muitas carências, mas também apresentam um grande potencial, e é preciso entender as comunidades para que seja possível atuar em prol de uma melhor qualidade de vida nessas áreas urbanas, que são uma realidade e não podem ser negligenciadas”.

A autora de um dos desenhos expostos, na parte do papel destinada à representação da cidade vivia, desenhou várias pessoas usando drogas, o que, segundo Pizarro, faz menção à boca de fumo localizada próxima à casa onde a aluna mora. No entanto, na área voltada para o desenho da cidade desejada, a mesma estudante, como contraponto, desenhou uma escola. Em outro desenho, o autor diferenciou a sua casa das demais moradias, deixando clara a noção de propriedade, enquanto outra peça se destaca por mostrar, na realidade vivida, uma discussão entre homens e mulheres, enquanto, na sonhada, todos vivem felizes.

Ilustração: Natália de Araújo, participante do projeto

Durante o período da exposição, além da mostra, nos dias 17, 24 e 31 de maio também serão promovidos debates a respeito das comunidades, sempre a partir das 14 horas. Entre os nomes confirmados, então especialistas no assunto de urbanismo e da realidade das periferias.