Aluno acusa segurança da SAS (antiga Coseas) de agressão

Além da agressão física, estudantes também denunciam assédio moral e conivência com crimes entre moradores

O mestrando da Geografia Daniel Vasconcelos, morador do CRUSP, afirma ter sido agredido com uma cabeçada por um Agente Comunitário de Segurança da SAS (Superintendência de Assistência Social) em frente a seu apartamento no final de março. Segundo Vasconcelos, o caso ocorreu quando o estudante se negou a dizer o nome para registro de uma ocorrência relativa a uma festa na noite anterior. O Superintendente da SAS afirma que foi aberta uma sindicância administrativa para investigar os fatos e que o funcionário se encontra temporariamente afastado de suas funções rotineiras. Após o caso, moradores do CRUSP decidiram criar um grupo de trabalho para discutir a segurança na moradia estudantil.

Vasconcelos conta que, na noite anterior à agressão, uma sexta-feira ele e um grupo de moradores do bloco C realizaram uma festa no corredor de seu apartamento. Houve uma intervenção artística, com pintura de corpos e paredes, com a intenção de que limpassem e pintassem o local no dia seguinte. Segundo ele, no outro de manhã, o Chefe de Segurança da SAS e dois agentes quiseram registar uma ocorrência em seu nome por conta das pinturas. “Eu me neguei. Não vou assumir responsabilidade por algo que foi construído coletivamente”.

Local da agressão. Foto: Bárbara D’Osualdo

O estudante conta que falou seu apelido e foi agredido por uma cabeçada e empurrado por um dos agentes. Segundo ele, o Chefe da Segurança afirmou que tomaria providências, mas que posteriormente se negou a registrar o caso no livro de ocorrências do CRUSP. “Não deu uma justificativa, disse que apenas não podia”.
Vasconcelos realizou exames de tomografia no HU, foi medicado e liberado após seis horas. O mestrando registrou ocorrência na Guarda Universitária e no 93° DP do Jaguaré. O Superintendente da SAS, Waldyr Jorge, abriu uma sindicância para investigar o caso. “Até que seja concluída a Sindicância, o funcionário foi afastado de suas funções rotineiras e continua cumprindo sua jornada de trabalho internamente. Após a apuração e conclusão, serão tomadas as providências legais cabíveis”.

Após o caso, Vasconcelos convocou uma Assembleia com moradores do CRUSP, em que formaram um grupo de trabalho para discutir a segurança na moradia estudantil. Ele e Adriano, outro membro do GT, e estudante do IME, afirmam que esse não é o único caso de violência conhecido, mas muitos não são registrados porque os funcionários os omitem ou porque as vítimas têm medo. “Na Assembleia, uma estudante relatou que um funcionário da SAS entrou dentro de um apartamento, sem autorização dos moradores, para usar cocaína”, afirma Vasconcelos. Segundo eles, a violência não é só entre funcionários e estudantes, mas também entre os próprios moradores.

Os alunos também denunciam outras questões de segurança, como vigilância da vida pessoal dos moradores, assédio moral – inclusive entre funcionário – e físico e conivência com crimes entre moradores. Segundo Adriano, foram expostos relatórios da assistência social sobre a vida privada dos moradores no processo de retomada do térreo do bloco G para a moradia estudantil, em que eram relatados, entre outros, reuniões e visitas aos moradores. “A segurança no crusp é contra o cruspiano. A sensação que passa é de um ambiente controlado, vigiado. Tanta vigia não serve, por exemplo, para que roubos deixem de acontecer”.

O GT pretende estudar casos já ocorridos para pensar uma reformulação da segurança. “A reformulação seria uma mudança de finalidade e de quem controla essa segurança”, afirma Adriano. Vasconcelos exemplifica: “Deveria haver uma assistência social para ver o que tem que se fazer na hora e não um segurança para chegar e já ‘meter a mão’ na cara de um ou de outro”.

Em resposta às alegações dos alunos o Superintendente afirmou “O Serviço de Atuação Comunitária e Segurança tem a única e exclusiva função de zelar pela segurança de todos os moradores do CRUSP. Qualquer ato irregular por parte de funcionários da SAS que venha ao conhecimento desta Superintendência é apurado imediatamente seguindo as normas legais e administrativas da Universidade. Quanto a uma reformulação da Segurança no CRUSP, é relevante dizer que a SAS, através de seu Superintendente, está atenta e constantemente está realizando reuniões com os servidores do Serviço de Atuação Comunitária e Segurança em busca de aprimoramento nas relações humanas com nosso alunato, seguindo as legislações vigentes, que atenda melhor os moradores do CRUSP”.

Crusp. Foto: Bárbara D’Osualdo

Veja abaixo a entrevista com Adriano sobre a segurança no CRUSP e a resposta da SAS sobre o caso e as reclamações dos alunos.

Jornal do Campus: Qual é o objetivo do grupo de trabalho?
Adriano: O GT foi tirado em assembleia para responder as agressões sofridas pelos moradores. Começou com a divulgação do caso de agressão sofrida pelo Daniel, que tomou uma cabeçada de um agente da SAS, através de um abaixo assinado pedindo sua exoneração e uma reformulação da segurança baseada em assembleia de moradores. Além disso tem objetivo de levantar os vários casos de agressão que são abafados pela assistência social.

JC: Entre as questões que motivaram o grupo de trabalho sobre a segurança estão vigilância pessoal dos alunos-moradores, assédio moral e físico e conivência com crimes entre alunos-moradores. Você pode contar mais sobre essas questões?
Adriano: Muitos dos casos são omitidos. Mas um caso que se ressalta é o de uma agressão de um morador sobre uma moradora do mesmo apartamento. Quando o caso chegou a comissão mista (órgão máximo de decisão sobre o crusp, que é controlado pela assistência social) ao invés de se discutir o que fazer com o agressor, se colocou a culpa na menina por estar morando ali de maneira irregular: um absurdo diante de uma agressão física.
Sobre a vigilância, foram expostos vários relatórios da assistência social sobre a vida privada dos moradores no processo de retomada do térreo do bloco G para a moradia estudantil (conhecida como “moradia retomada”). Onde reuniões eram relatadas, visitas aos moradores, festas (que não tinham reclamações) com nomes de participantes, dentre outros.

JC: Você já sofreu algum caso de violência, assédio ou crime no CRUSP?
Adriano: Não sofri casos de violência. Porém o assedio no CRUSP começa já nas entrevistas de seleção para moradia, onde você deve ter o “perfil” (o que te obriga a “agradar” as assistentes sociais). E continua com os relatórios de nossa vida privada, constantemente vigiada, principalmente daqueles que tem participação politica.

JC: Como você se sente com relação à segurança na residência estudantil?
Adriano: A segurança no crusp é a segurança contra o cruspiano. A sensação que passa é de um ambiente controlado, vigiado. Tanta vigia não serve, por exemplo, para que roubos deixem de acontecer.

JC: Como seria uma reformulação da segurança no CRUSP?
Adriano: Acredito que a reformulação na verdade seria uma mudança de finalidade, uma mudança de quem controla essa segurança. A reivindicação de que a reformulação se dê em assembleia dos moradores é justamente para que os moradores controlem o que será feito ou não de acordo com nossos interesses, e não de acordo com o interesse da assistência social de nos controlar e vigiar.

Confira agora a resposta da SAS sobre o caso e as reclamações dos alunos.

Jornal do Campus: O senhor poderia comentar a ocorrência (da agressão)?
Waldyr Jorge: Foi aberta uma Sindicância Administrativa em 22/03/14, para apurar os fatos ocorridos durante uma festa no Bloco C do CRUSP, onde há relato de agressão a um morador por Agente Comunitário de Segurança da SAS.

JC: O funcionário sofreu algum tipo de retaliação?
WJ: Até que seja concluída a Sindicância, o funcionário foi afastado de suas funções rotineiras e continua cumprindo sua jornada de trabalho internamente. Após a apuração e conclusão da Sindicância, serão tomadas as providências legais cabíveis.

JC: Por que os agentes de segurança se negaram a anotar o caso no livro de ocorrências?
WJ: A ocorrência foi devidamente registrada no Livro de Ocorrências do Serviço de Atuação Comunitária e Segurança, inclusive em duas versões: a dos Agentes Comunitários e a dos alunos.

JC: Entre as reclamações dos alunos do grupo de trabalho sobre a segurança estão vigilância pessoal dos alunos-moradores, assédio moral e físico e conivência com crimes entre alunos-moradores. Eles também desejam uma reformulação da segurança no CRUSP. O que o senhor tem a dizer sobre isso?
WJ: O Serviço de Atuação Comunitária e Segurança tem a única e exclusiva função de zelar pela segurança de todos os moradores do CRUSP. Qualquer ato irregular por parte de funcionários da SAS que venha ao conhecimento desta Superintendência é apurado imediatamente seguindo as normas legais e administrativas da Universidade. Quanto a uma reformulação da Segurança no CRUSP, é relevante dizer que a SAS, através de seu Superintendente, está atenta e constantemente está realizando reuniões com os servidores do Serviço de Atuação Comunitária e Segurança em busca de aprimoramento nas relações humanas com nosso alunato, seguindo as legislações vigentes, que atenda melhor os moradores do CRUSP.