Alunos e funcionários defendem direito à greve

Entrevistados consideram legítimas as paralisações por exporem as relações entre os governantes e os cidadãos que os elegem

Na última segunda-feira, estudantes do curso de Letras realizaram, no período noturno, uma assembleia para decidir sobre a possível adesão à greve de funcionários e docentes, anunciada na semana anterior. Enquanto pouco mais de 200 alunos decidiam sobre os rumos do curso na continuação do ano letivo, uma quantidade superior entrou no prédio e assistiu às aulas normalmente, não participando da reunião que acontecia na entrada do prédio. Por 211 votos a favor, uma abstenção e um voto contra, a assembleia decidiu que levaria o indicativo de greve do curso para a assembleia geral, marcada para o dia seguinte.

Para Neli Wada, uma das diretoras do Sindicato dos Trabalhadores da USP (Sintusp), os benefícios de uma greve não ficam restritos àqueles que reivindicam algo para a sua classe, mas se estendem inclusive para os contrários a paralisação. Neli cita como exemplo o funcionamento das universidades estaduais paulistas. Para ela, a manutenção do ensino gratuito e do controle, no caso da USP, dos hospitais universitários se deve, em parte, às pressões realizadas por meio das greves. Contudo, ressalta que as paralisações são realizadas quando se esgotam as tentativas de acordo. “A partir de então, a greve se torna o único elemento eficaz para que o trabalhador defenda seus interesses, mas não somente o seus, já que nós que somos servidores públicos temos o dever e a obrigação de defender o serviço público de qualidade e também que os benefícios destes serviços cheguem até a população”, ressalta.

Sulamita Matos, estudante do curso de Letras, que não participou da assembleia, também ressalta a importância deste movimento. “Acho que a greve é válida como ferramenta de luta e acho válido que quando uma classe se encontra estática em uma situação desfavorável, como os trabalhadores que não recebem seus salários, que eles se organizem, não só para conseguir os direitos imediatos, mas para que haja e se mantenha o diálogo, para que as condições continuem melhorando. É um momento em que os trabalhadores se unem para tentar melhorar o seu ambiente e as condições de trabalho e a greve só deve ser interrompida quando se consegue as reivindicações ou quando o grupo grevista acreditar que deve parar.”

O funcionário público e ex-aluno do Instituto de Matemática e Estatística, Tadeu Prado, também ressalta a importância das greves no regime democrático. “Acredito que as greves são legítimas e necessárias em função das falhas, distorções e abusos cometidos pelo Poder Público”. Porém, apresenta ressalvas em relação à percepção daqueles que não participam das reivindicações: “Como cidadão comum, eu seria contra estas manifestações, que também servem de instrumento para que poucos ganhem visibilidade”. Prado também faz ponderações em relação a intensidade das paralisações, considerando-as reflexos da conjuntura social: “Radicalismo nunca é bom, mas tamanha é a corrupção que somente radicalizando-se os movimentos para se tentar recuperar a democracia. Neste sentido, acredito que esta interrupção seja sintomática, ou seja, muitas das greves são proporcionais aos abusos que são cometidos por aqueles que deveriam zelar pelo regime democrático.”

Para o professor de Ciência Política da USP, André Vitor Singer, o direito a greve é algo imprescindível dentro de um sistema democrático, contudo, segundo ele, é necessário que se faça avaliações ponderadas de todo o contexto para que se possa minimizar os efeitos sobre aqueles que dependem do serviço paralisado.