Formato da greve é criticado por estudantes

Paralisação atinge docentes, funcionários e alunos, mas adesão ao movimento não é consenso dentro das categorias

Os professores e funcionários da USP estão em greve desde o dia 27 de maio, por tempo indeterminado. A paralisação é uma forma de manifestar descontentamento com a decisão do Conselho dos Reitores das Universidades Estaduais Paulistas (Cruesp) de adiar o reajuste dos salários dos servidores das universidades estaduais. A greve atinge também a Unicamp e a Unesp.

Este ano não houve o reajuste salarial, comumente concedido no mês de abril. Segundo a reitoria da Universidade, o Conselho de reitores não ofereceu reajuste porque o comprometimento orçamentário com a folha supera o índice de 85% estipulado pela entidade. Os funcionários em greve desejam 9,87% de reajuste salarial para repor a inflação, mais aumento real de 3%.

Entre os alunos presentes na assembleia estudantil foi decidido que a categoria iria apoiar a greve e paralisar suas atividades. Contudo, a aceitação ou não da greve das três categorias ainda divide opiniões dentro do Campus.

O problema em relação às greves, de acordo com o estudante Felipe Trentin, da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA), é que a população como um todo não tem meios de julgar (tirando no campo das ideias) se as reivindicações são justas ou não. “O que quero dizer com isso é que se as reivindicações fossem consideradas justas pela população, ou seja, as condições de trabalho fossem piores na USP do que no restante da cidade, não haveria demanda nos concursos públicos da universidade”, afirma.

Apesar disso, o estudante afirma não ser dogmático com relação aos objetivos das greves. “Algumas pautas realmente me parecem justas (principalmente com relação à autonomia universitária), mas o mecanismo pelo qual são pleiteadas resultam em um efeito líquido visivelmente negativo para a comunidade uspiana — em especial os setores em posição mais frágil, como os estudantes mais carentes — , e ainda pior para o resto da população paulista”.

Outro desagrado apontado pelos entrevistados foram o uso da força e a imposição de um mesmo ideal. Segundo, Daniel de Paula, estudante da Escola Politécnica, um dos fatores que ajudam a deslegitimar um movimento é priorizar a força às ideias, como trancamentos de sala de aula, pichação ou ameaças a quem quiser exercer seu direito legítimo de trabalhar e assistir aulas.

“Greve não pressupõe muitos prós, mas é particularmente complicado encontrar prós em uma greve como as recorrentes na USP. Os alunos são muito prejudicados, a carteira sente um baque fortíssimo, pois os gastos aumentam muito com alimentação, além de nossos problemas com a universidade terem suas soluções postergadas quase indefinidamente”, ressalta De Paula.

Questão Sindical

Além disso, outros fatores responsáveis por dividir opiniões e posições ideológicas na USP é associação compulsória dos trabalhadores.  “É necessário que haja competição entre sindicatos diferentes para que o trabalhador não tenha que aceitar ser subjugado por uma única instituição que se impõe à ele da mesma maneira que o governo faz”, critica o estudante da FEA.  Além das ressalvas voltadas ao monopólio exercido pelo atual diretório do Sintusp (Sindicato dos Trabalhadores da USP), a organização também é criticada por sua preferência em mostrar a intenção de greve muito acima da intenção de negociação.

“A paralisação não é mais um instrumento de pressão, é um instrumento pressuposto. Não se fala mais em ‘será que vai ter greve esse ano’, mas sim em quando, e isso já ocorre há muitos anos. Não é surpresa haver greves a cada dois anos, a surpresa é não ter acontecido na gestão Rodas”, afirma De Paula.

Apesar dos inconvenientes que possam decorrer das paralisações, o Jurista Trabalhista e professor da Faculdade de Direito Jorge Souto Maior defende o movimento. “Não é possível pensar em prejuízos pessoais e muito menos econômicos quando o que está em jogo é a construção coletiva da democracia e a oxigenação da instituição, por intermédio de participação direta e política de seus próprios atores.”