IQ reconhece erro e homenageia Ana Kucinski

Foi inaugurada, no dia 22 de abril, no Instituto de Química da USP (IQ), uma escultura em homenagem à ex-professora Ana Rosa Kucinski, desaparecida há exatos 40 anos. No último dia 17, a Congregação do Instituto de Química anulou a demissão por abandono de cargo, que havia sido decidida em 1975.
A Comissão da Verdade da USP foi a responsável por colocar a revogação da demissão por justa causa em pauta na Congregação do Instituto novamente. A anulação da decisão anterior foi, para Janice Camargo, presidente da Comissão da Verdade da USP, uma “tomada de consciência do que deveria ter acontecido naquela época.”

Monumento à Ana Kucicinski (Foto: Fernanda Maranha)

Janice Camargo, afirma que o responsável pela definição da situação na época foi a Comissão Processante que, ao não dar voz à família Kucinski, que tinha docu­mentos e evidên­cias do desapare­cimento de Ana Rosa, induziu a congregação ao erro: “O parecer da reunião não deveria ter sido conclusivo”.
O ex-professor da Química Sérgio Massaro, amigo de Kucinski e perso­nagem atuante no resgate à memó­ria da professora, disse estar feliz com o monumento. “Acho que esta nova direção do IQ é mais corajosa que a anterior para mexer com estas coisas”, conta Massaro.
Massaro, no entanto, fica inco­modado com a divulgação errô­nea da história, passando a im­pressão de que sua amiga vivia uma vida normal antes de desapa­recer. “Isso de que ela avisou que iria almoçar com o marido e sumiu, é mentira. Muitos dos amigos próxi­mos nem sabiam que ela era casa­da”, contou.
“Muitas vezes ela não aparecia na Universidade. Durante um tempo, uma aluna muito amiga dela recolhia os relatórios feitos pelos alunos, levava até a casa da Ana para ela corrigir, depois passava para nós (outros pro­fessores) que devolvíamos para os alunos”, conta o doutor em Química. A professora era casada com Wilson Silva, físico formado na USP, e, de acordo com Massaro, os dois tinham uma ligação muito forte com a Aliança Libertadora Nacional (ALN), organização que participou da luta armada contra a Ditadura Militar. “Eu conto estes episódios porque era nítido que ela tinha medo da repressão. Parece que ela tinha uma vida normal, mas não era assim.”
Sérgio Massaro lembra o caso do estudante Issami Nakamuro Oka­no, aluno e funcionário da USP que também está desaparecido desde 1974. “Existem muitas memórias uspianas perdidas por aí”, conclui.