Mais uma denúncia de racismo na USP

Aluna negra de Saúde Pública foi barrada por seguranças ao tentar ingressar no prédio da Faculdade de Medicina

No dia 30 de abril, Mônica Gonçalves, aluna da Faculdade de Saúde Pública (FSP) tentou entrar no Centro Acadêmico do prédio da Faculdade de Medicina (FMUSP) e tentaram impedi-la na porta do local. Segundo ela, os seguranças afirmaram que apenas alunos do curso de medicina poderiam ter acesso ao espaço naquela noite. Depois de insistir em dizer que seus amigos da FSP estavam no local, mesmo também não estudando na FMUSP, um funcionário a acompanhou até lá e, juntos, puderam constatar que eles se encontravam no espaço estudantil. Mônica, que é negra, considerou a atitude como racista. O chefe da segurança, porém, alega que o procedimento foi o mesmo a todos não-alunos que tentaram entrar no prédio. A FMUSP abriu uma sindicância para apurar o caso. “O preconceito racial é assim, se inscreve invisivelmente nas nossas relações sociais”, opina Mônica, em artigo publicado no site Blogueiras Negras. Lá, ela atribui o ocorrido ao fato de ser negra e ainda conta que seus amigos foram abordados na entrada, mas nenhum deles teve o acesso impedido. Além disto, a aluna conta que presenciou outra pessoa passar sem sofrer abordagem enquanto ela tentava entrar. “Apesar de todas as tentativas de negar, apaziguar e escamotear o que é evidente, a interdição se deu por um fato que não pode ser ignorado: sou negra”, avalia Mônica.

Episódio traz à tona discussões sobre racismo na universidade. (Foto: Gregório Nakamotome)
Episódio traz à tona discussões sobre racismo na universidade. (Foto: Gregório Nakamotome)
Versão divergente

Segundo Roberto Chagas, chefe da seção de portaria e recepção da unidade, naquela noite só estavam autorizados a entrar no prédio alunos da FMUSP e Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) (que têm aula no local). Isto porque havia a informação de que uma festa não-autorizada ocorreria naquele espaço. Para que a comemoração não acontecesse de fato, os seguranças foram instruídos a restringir ainda mais o acesso ao prédio, que costuma ser aberto a todos da comunidade USP. Chagas acredita que, logo que deu aos funcionários a ordem de restrição do acesso, já havia pessoas dentro do prédio. “Jamais alguém da minha equipe trataria ela com racismo. A gente foi mais rígido por estar preocupado com o evento que poderia tomar grandes proporções”, justifica. Segundo ele, mais de 50 pessoas já haviam tentado entrar para essa festa, anunciada pela internet.

Apuração do caso

Murilo Germano, presidente do Centro Acadêmico Oswaldo Cruz (CAOC), de Medicina, diz que a entidade levou o caso para a diretoria da faculdade, que, por sua vez abriu uma sindicância, espécie de investigação interna, para apurar a acusação de racismo sofrido por Mônica. Germano explica que o CAOC já vinha idealizando um projeto de políticas que visa a integração e o bem estar da comunidade universitária. Agora, este incluiu o tema do racismo para que haja uma discussão mais profunda. Devido ao ocorrido, o Centro Acadêmico Emílio Ribas (CAER), da FSP, promoveu um ato em frente ao prédio do curso de Medicina no dia 13 de maio, data em que se completou 126 anos da Lei Áurea, que aboliu a escravidão no Brasil.