‘Para Virar a USP do Avesso’ é chapa vencedora

Adiada para este ano devido à greve de 2013, eleição da Diretoria do DCE teve quórum maior que anterior

Por Gregório Nakamotome

Com aproximadamente 48% de um total de 10.401 votos, a chapa ‘Para Virar a USP do Avesso’ venceu as eleições para a gestão 2014 da Diretoria do DCE Livre da USP. O resultado, divulgado na sexta-feira, 13 de abril, apontou ainda a ‘USPinova’ na segunda colocação, com 23,12%, e a ‘Compor e Ouvir’ na terceira, com 20,26%. As demais chapas – Maré Laranja, Território Livre, Para Fazer a Diferença, Frente Poder Estudantil e Autonomia Universitária – não atingiram, somadas, 10% dos votos.

A primeira reunião do DCE com mais de 60 estudantes. Divulgação/ Facebook

Comparada com a última eleição, na qual 6.451 alunos votaram, o pleito deste ano viu um aumento de quase 60% na participação dos estudantes. Gabriel Lindenbach, estudante de geografia e membro da chapa vencedora ‘Para Virar a USP do Avesso’, crê que isso se deve ao maior interesse político por parte dos estudantes após os protestos de junho do ano passado. “Desde aquelas manifestações, a juventude no geral tem participado mais dos processos de mobilização e deseja mais espaço de participação, para que ela seja sujeito das mudanças que quer ver acontecer”. No entanto, mesmo com o aumento, os números indicam pouca participação política na universidade: menos de um quinto dos estudantes de graduação aptos a votar o fizeram.

Processo Eleitoral
Devido às greves estudantis ocorridas em 2011 e no ano passado, o calendário eleitoral do DCE tem sido alterado: o ideal, segundo o Estatuto da Entidade, seria uma eleição no final de cada ano para eleger a gestão do ano seguinte. Com as greves, porém, os CAs das unidades da USP decidiram, em reunião do CCA (Conselho de Centros Acadêmicos) ocorrida em novembro de 2013, adiar o processo para este ano.

A gestão de 2014, portanto, foi eleita neste mês. Desde o início do ano, o DCE tem sido gerido por uma Comissão de Centros Acadêmicos.

Para Kyo Kobayashi, estudante de letras e membro da ‘Compor e Ouvir’, o calendário curto para as eleições foi um dos pontos que prejudicou os debates: “O pouco tempo de campanha e o processo eleitoral ocorrido no começo do ano – em que poucos calouros puderam avaliar criticamente a atuação de cada grupo que concorria – foram fatores que dificultaram a exposição e o embate de ideias”, pontua.

Votos por unidades
A ‘USPinova’, chapa que defendia uma função mais administrativa e hierarquizada do DCE, foi quase unânime na Escola Politécnica, atingindo 75% dos votos na elétrica, 81% na civil e 86% na mecânica. Teve ainda quase 70% dos votos da Faculdade de Medicina.

Já a ‘Compor e Ouvir’ foi maioria absoluta na Faculdade de Direito, com quase 60% dos votos, e nos cursos de Relações Internacionais e Psicologia. Ganhou também na FEA, com 45% dos votos.

A vencedora ‘Para Virar a USP do Avesso’ foi contundente em muitos campi do interior: atingiu mais de 75% dos votos em Lorena, Medicina-Ribeirão Preto, Bauru e Pirassununga, além de também ter ganhado em São Carlos e na Faculdade de Direito-RP. Além disso, obteve votos substancias nos cursos de Farmácia, Física, Biologia, Química, Filosofia, História, Geografia e na ECA.

Os alunos da EACH, que passam por problemas na volta às aulas e situação delicada em seu campus, também depositaram sua confiança na chapa vencedora – foram quase 400 votos (83% dos alunos que votaram na unidade). Lindenbach, da ‘Para Virar a USP do Avesso’, entende que a situação da unidade é uma das prioridades para a gestão. “Os estudantes dão, dia após dia, ano após ano, uma aula de resistência contra o descaso da Reitoria e do Governo em relação a sua existência. É preciso de cobranças para que se possa resolver o vergonhoso problema de contaminação no campus da EACH”.

Perspectivas da gestão
A chapa ‘Para Virar a USP do Avesso’ deve dar seguimento a alguns pontos da gestão de 2013 da ‘‘Não Vou Me Adaptar”. Ainda segundo Lindenbach, o maior objetivo neste ano é engajar os uspianos no movimento estudantil e incentivá-los a participar da vida na Universidade. “Somente através de sua participação e organização a partir de cada sala de aula, espaço estudantil, circular lotado, conseguiremos transformar a Universidade, democratizando sua estrutura de poder, seu acesso, com a implementação de cotas raciais, e em especial barrar os Cortes Orçamentários, exigindo mais investimento público na Educação e nas Universidades Estaduais Paulistas”, afirma.

Kobayashi, da ‘Compor e Ouvir’, teme apenas que as bandeiras da chapa vencedora se tornem vazias de conteúdo e mobilização, e defende que, para se construir um movimento estudantil mais sólido, a nova gestão procure se articular diretamente com todos os Centros Acadêmicos, Atléticas e Grupos de extensão dos institutos, independente de suas ligações políticas. “Esperamos que a nova gestão seja construída de modo mais participativo e horizontal e que possa vivenciar o dia-a-dia da Universidade e suas demandas junto aos estudantes ao longo de todo o ano”.

Procurada por meio de seus membros, a chapa ‘USPinova’ não havia se posicionado sobre a questão até o fechamento desta edição.