Projeto para compatibilidade entre sistemas de TV Digital é desenvolvido na Universidade

Em uma parceria entre instituições brasileiras e europeias, realizam-se estudos para que uma televisão interativa possa funcionar em mais de um lugar

O Centro Interdisciplinar de Tecnologias Interativas (Citi) da USP lançou, dia 14, na Escola Politécnica, o projeto Global ITV, um trabalho conjunto entre pesquisadores brasileiros e europeus que vai possibilitar a conversação entre sistemas de televisões digitais de diversos lugares do mundo, incluindo sua programação interativa.

As televisões digitais possuem uma antena que não recebe mais sinal analógico, mas sim, digital. Isso quer dizer que determinada emissora pode reproduzir um software, alojado no computador embutido nesta TV, que permite ao ser humano interagir com a máquina. É possível navegar sobre um conteúdo novo, que não é reproduzido junto com o vídeo. Pode-se jogar jogos, ver a temperatura de diversos locais, e mesmo ter acesso a um boletim de notícias 24 horas por dia. Em suma, interagir. Todo esse conteúdo é produzido e enviado pela própria emissora.

A gente acha que falta muita criatividade nos meios de comunicação. O que normalmente é ensinado a fazer nas escolas é Comunicação e de Rádio e TV é televisão de fluxo, de audiência, e com a interatividade isso está sendo mudado”, diz o professor da Poli e coordenador do projeto do lado brasileiro Marcelo Knörich Zuffo.

O ponto está no funcionamento desse software estar restrito a um determinado local, como acontecia antigamente quando não era possível comprar um smartphone fora do país porque ele não funcionaria aqui. A questão com a transmissão e a recepção de sinal digital televisivo é muito parecida. Os sistemas digitais existentes não interoperam, ou seja, não adianta trazer uma televisão de Londres, por exemplo, porque ela não irá funcionar aqui por diversos motivos como linguagem e navegador. Mesmo no Brasil, quando se está conectado à TV a cabo, não se pode utilizar a interatividade da TV aberta e vice-versa, quem dirá de outros países. O professor explica: “No projeto, nós queremos criar padrões mundiais que permitam isso, que possibilitem, em específico, que a TV interativa funcione em qualquer lugar do mundo”.

Para ele, “com a aplicação dessa ideia no futuro, os programas que a TV Cultura exibe da BBC vão ser muito mais incrementados, porque ela é uma das empresas mais ricas em interatividade”. Mais uma vez, é como uma pessoa poder ver o mesmo conteúdo interativo onde quer que esteja. Traçando parâmetros, pode-se ver que essa não é uma realidade muito distante. Pelo contrário. Zuffo explica que, graças a normas estabelecidas pela W3C, órgão que regulamenta os padrões abertos e livres de royalties da internet, é possível que uma pessoa do Zimbábue leia um artigo online publicado de São Paulo, por exemplo.

Para trazer esta realidade globalizada para a televisão, para que se tenha esse acesso a um maior mercado de conteúdo com a interoperabilidade entre sistemas, o professor da Poli diz que o Global ITV surgirá com novas técnicas e novos tipos de software para a aplicação da ideia. Sua finalização está prevista para janeiro de 2015. O projeto é um dos contemplados pelo edital do Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq) – Programa de Cooperação Brasil – União Européia, direcionado para a área de Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC), e propôs que fossem elaboradas resoluções para grandes problemas da TV digital no mundo.