TUSP realiza circuito de teatro com espetáculos “incendiários”

As atividades, gratuitas, são voltadas à formação de grupos teatrais e de espectadores

Cartaz de divulgação

Até o dia 1º de junho, o Teatro da Universidade de São Paulo (TUSP) realiza a décima primeira edição do Circuito TUSP de Teatro. A ação faz parte de um programa de amplo alcance do Teatro da USP – órgão da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão – e é voltada à formação de grupos teatrais, bem como de espectadores conscientes dos contextos da teatralidade contemporânea. “O nosso intuito é fomentar a prática teatral em duas vertentes: o ‘ver’ e o ‘fazer’ teatro”, explica Claudia Alves Fabiano, orientadora de arte dramática do TUSP em São Carlos.

Para isso, o circuito contém em sua programação produções teatrais realizadas por grupos de jovens artistas egressos da Universidade, ou que ainda são universitários, ou até aqueles que realizam pesquisas experimentais em artes cênicas. “Optamos por grupos e companhias jovens associadas a universidades com formação em artes cênicas, mas que já contam com o reconhecimento da qualidade de suas produções pela recepção crítica”, diz Claudia.

Este ano, o evento será realizado nas cidades de Bauru, Piracicaba, Ribeirão Preto e São Carlos. Essa divisão busca a difusão das artes cênicas nos campi da Universidade de São Paulo e nas comunidades próximas a eles.

Teatro incendiário

Cada Circuito TUSP de Teatro segue uma temática estabelecida em conjunto com a direção do TUSP. Sendo assim, já foram realizados circuitos baseados em grupos da periferia de São Paulo, grupos de formandos da Escola de Comunicações e Artes (ECA) e da Escola de Arte Dramática (EAD), entre outros grupos egressos da Universidade. Para o Circuito desse ano, foram escolhidos os espetáculos dos grupos nacionais que participaram da primeira Bienal de Teatro feita no TUSP de São Paulo em dezembro do ano passado.

A Bienal teve como tema “Realidades Incendiárias”, e nela estiveram presentes vários espetáculos que traziam à cena uma realidade considerada incendiária ou pelo contexto em que era criada ou pela radicalidade de linguagem empregada pelos artistas na cena. . “Vemos o tema da repressão militar e da busca da democracia como pontos recorrentes nos espetáculos. Há também a questão da mobilização do público, que é convidado a assistir os trabalhos dentro do palco, rompendo as regras tradicionais do teatro – dito – tradicional. Esses pontos foram importantes na escolha dos espetáculos: tema e forma tiveram um papel importante na seleção. Nosso foco não se restringe a espetáculos comerciais, e sim a processos que possam instigar o público a pensar o discurso teatral para além de um entretenimento. Pretendemos oferecer formas diversificadas de convívio com a experiência cênica, cultivando o hábito da fruição teatral entre a comunidade universitária e o público externo”, explica Francisco Serpa Peres, também orientador de arte dramática do TUSP em Bauru.

Os espetáculos

São quatro os espetáculos que compõem a programação do Circuito, sendo eles: Baden Baden, do “Coletivo Baal”; Arqueologias do Presente – A Batalha da Maria Antônia, do grupo “OPOVOEMPÉ”; Outro Lado e Get Out, ambos do grupo “Quatroloscinco – teatro do comum”.

Maria Tendlau, orientadora dramática do TUSP em Piracicaba, conta que Baden Baden é a encenação de um texto muito importante de Bertolt Brecht, chamado A Peça Didática de Baden Baden sobre o Acordo. “Mas, para quem irá assistir, que não se preocupe com o termo “didática” presente no nome. Não há nada de professoral ou de monótono nos textos de Brecht. Na verdade, eles são pequenos modelos de pensamento muito divertidos e incendiários” diz.

Cena da peça “Baden Baden” produzida pelo Coletivo Baal e baseada em um texto de Brecht (Foto: Lucas Heymanns)

Já o espetáculo Arqueologias do Presente – A Batalha da Maria Antônia trata da histórica luta contra a ditadura militar no Brasil. A peça será realizada junto ao público, em uma experiência não-convencional na qual o espectador será convidado a compartilhar memórias e a refletir sobre os vestígios da Ditadura em seu imaginário.

Em “Arqueologias do Presente” o público é convidado a participar da cena teatral (Foto: Élcio Silva)

Quanto às duas obras do grupo mineiro “Quatroloscinco – teatro do comum”, temos Get Out, que é um monólogo sobre os vários sentimentos contemporâneos do homem, e Outro Lado, que é uma peça que buscar convidar o espectador a uma vivência que sobrepõe ficção e realidade. Outro Lado usa uma fábula inicial como pretexto para questionar a aleatoriedade dos acontecimentos no mundo.

“Outra Lado” convida o espectador a uma vivência que sobrepõe ficção e realidade (Foto: LZ C. Frank)

Além dos espetáculos, o Circuito também realizará o workshop Criação de Composições, que será ministrado pelo grupo “OPOVOEMPÉ”. A oficina aborda o método de criação de composições a partir de exercícios utilizados no processo de criação da peça Arqueologias do Presente – A Batalha da Maria Antônia. “Sempre procuramos trazer, em cada Circuito de teatro, pelo menos um workshop sobre a linguagem cênica. Isso porque a ideia do workshop é trabalhar a formação do público e trazer informações tanto para os artistas amadores, quanto para os profissionais das cidades pelas quais o Circuito passa”, conta Maria.