Crise atinge projetos desenvolvidos na USP

Editais suspensos, verbas restritas e greve afetam o funcionamento de atividades de Cultura e Extensão da Universidade

Em comunicado do dia 25 de março, a Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária (PRCEU) da USP anunciou que não haverá nova edição do seu Programa de Editais em 2014. O motivo, segundo o informe, é que durante este ano o Programa será acompanhado e avaliado, para aprimorar as edições futuras.

Natália Lima de Araujo, representante discente no Conselho de Cultura e Extensão Universitária (CoCEx), conta que os projetos inscritos no Programa de Editais foram suspensos. “A justificativa que nos foi apresentada foi a necessidade de avaliação e aperfeiçoamento das políticas de qualificação, e não os cortes orçamentários que vêm ocorrendo em toda a Universidade”, diz. “Creio que não seja mera coincidência o cancelamento do programa para avaliação enquanto a USP passa por sérios problemas financeiros”, pontua.

A PRCEU conta com mais cinco programas: Aprender com Cultura e Extensão, A USP e as Profissões, Comissão de Estudos de Problemas Ambientais, Giro Cultural USP e Nascente. Segundo Natália, eles continuam trabalhando com seu orçamento completo.

No dia 8 de abril, aconteceu a reunião para análise dos projetos que requisitaram recursos à Pró-Reitoria. A decisão foi que as bolsas remanescentes seriam distribuídas para atender a todos os solicitantes, informa a representante discente. “Como havia um número limitado de bolsas, muitos projetos receberam uma quantidade inferior à solicitada. Vários conseguiram apenas uma”, explica Natália.

Corte de verbas em projetos

O MusiMAC, parceria entre o Departamento de Música da Escola de Comunicações e Artes (ECA) e o Museu de Arte Contemporânea, promoveu no ano passado uma série de concertos de música erudita dos séculos 20 e 21. O projeto, que recebeu apoio financeiro da PRCEU, não terá continuidade este ano, porque não conseguiu verbas. O professor Amilcar Zani, coordenador do MusiMAC, diz que é uma pena, pois os concertos obtiveram uma boa resposta do público.

O projeto Redigir é um projeto de extensão universitária da ECA e aberto ao público externo à Universidade. Seu objetivo é permitir aos alunos, através de aulas de língua portuguesa, que utilizem-na como ferramenta de comunicação e transformação. Como explica Paula Peres, membro do Redigir, até então, o projeto era mantido com auxílio da PRCEU, porém, para este ano a Pró-Reitoria ainda não liberou verba alguma. De acordo com Paula, com a ausência de apoio financeiro, o grupo precisa pensar em soluções para manter o projeto. “Nas despesas mais emergentes, esperamos contar com alguma ajuda do Departamento de Jornalismo e Editoração (CJE). […] Para as outras despesas do projeto, estamos pensando em alternativas, como venda de rifa, Quinta i Breja, venda de livros, entre outras coisas”.

Da mesma maneira, a Semana de Fotojornalismo, evento realizado todos os anos pela Empresa Júnior do CJE da ECA, também sofreu com o corte de verbas. Como contam as diretoras de evento Stella Bonici e Amanda Manara, o auxílio disponibilizado em 2014 não chegou a 15% do que fora oferecido nos outros anos. “É triste ver os projetos de alunos, que já têm dificuldades naturais por serem estudantis, encontrarem mais obstáculos ainda por falta de apoio universitário”, lamentam as diretoras.

Eventos e órgãos da PRCEU

Com a greve dos funcionários da USP, que teve início no dia 27 de maio, alguns órgãos ligados à PRCEU estão fechados. É o caso do Centro de Preservação Cultural, do Centro Universitário Maria Antonia e da Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin, que tiveram inúmeros projetos e atividades que envolvem atendimento ao público interrompidos.

As atividades no Cinusp estão parcialmente pausadas, contudo está prevista uma programação de greve ainda não definida. A mostra Gordon Willis, por exemplo, que estaria em cartaz do dia 2 ao dia 13 de junho, foi interrompida. “Parte das nossas atividades e mostras dependem de transportes e outros serviços da USP, não tem como continuar”, afirmou Maria Aparecida Santos, auxiliar administrativa do Cinusp.

Dentre os órgãos que não alteraram sua programação e estão funcionando normalmente durante a greve estão o Museu de Ciências, o Parque Cientec, o Coral da USP e o Monumento Nacional Ruínas Engenho São Jorge dos Erasmos.

Quanto à Semana de Arte e Cultura, que já está na sua 19ª edição, apesar de um atraso para a definição das datas do evento, vai acontecer. “Por tratar-se de uma ação protagonizada por docentes, funcionários ou alunos, normalmente não requer o empenho de recursos financeiros vultuosos, na medida em que são estruturadas para utilizar os equipamentos disponíveis na própria Universidade”, explica Juliana Maria Costa, Chefe da Divisão de Ação Cultural.

Antes da crise

Mesmo antes dos cortes no orçamento da Universidade, os projetos de cultura e extensão enfrentavam dificuldades para dar continuidade a suas atividades. “Apesar da atenção às atividades de pesquisa e extensão ter aumentado nos últimos anos, existe o problema de não haver financiamento permanente para os projetos em si”, diz Natália. “Bolsas para as pessoas que trabalham nos projetos são essenciais, porque a extensão exige tanto quanto um estágio ou uma pesquisa, porém, existem outros gastos que são do projeto como um todo, e não dos participantes”, continua.

O projeto de extensão Educar para o Mundo, do Instituto de Relações Internacionais e do qual a estudante faz parte, dependia de verbas da PRCEU, mas atualmente busca fontes de financiamento não institucionais, como venda de comida.