Labirinto leva público do moderno ao primitivo

Instalada no MAC em forma de labirinto, a exposição “Transarquitetônica” faz uma viagem ao passado da arquitetura

Aberta para visitação desde 26 de abril, no prédio Nova Sede do Museu de Arte Contemporânea (MAC) da USP, a exposição Transarquitetônica propõe uma discussão poética sobre a história da arquitetura. A obra, do artista Henrique Oliveira, é composta por uma instalação, e em forma de labirinto, que convida o público a caminhar – e até a se perder – em um espaço de 1600 m².

Henrique é bacharel em Pintura pela Escola de Comunicações e Artes (ECA), mas também possui uma grande produção em esculturas e instalações e é reconhecido internacionalmente por despertar as mais distintas sensações nos visitantes com suas obras. Em Transarquitetônica, o artista busca causar no público uma dúvida sobre a validade do pensamento racional. “Henri Bergson, um filósofo francês, questiona se a razão seria um instrumento adequado para entender a vida. Sempre lembro desta passagem quando penso nos ideais da modernidade e em como as cidades e a vida nelas, de fato, se desenvolveu. Apesar dos avanços na ciência e no pensamento contemporâneo, algumas questões tão simples ainda permanecem tão distantes de uma resposta, e penso que, talvez, quando esta resposta chegar – e se chegar – não será dada pela ciência, nem talvez pela filosofia e o pensamento racional”, diz o artista.

Do moderno ao primitivo

A exposição “tem início no espaço ‘ideal’ moderno”, conta Henrique. Esse começo é constituído por uma estrutura toda branca, que facilmente poderia ser confundida com um corredor de hospital. Ao passo que o espectador caminha pela instalação, as paredes, antes brancas e limpas, começam a descascarem. “Primeiro em uma construção regular de tijolos, que vai ficando cada vez mais parecida com casas populares, até surgirem paredes de taipa cobertas de sapé, passando a barracos de compensado que, progressivamente se arredondam em um espaço semelhante a uma caverna labiríntica”, descreve.

Foto: Bruna de Alencar

Ao longo da instalação, o público perde a dimensão do espaço do edifício, como se estivesse em um universo totalmente diferente. “Quando estamos numa ilha, mata ou, no caso, uma caverna, temos a sensação de quebra no cotidiano. No entanto, normalmente ela é amortecida pelo tempo que demoramos para chegar até um desses locais. Num trabalho como este, essa quebra na realidade é potencializada pela imediaticidade da passagem”, explica Henrique.

A saída desta “caverna” acontece em um espaço tomado por galhos de árvores, que na verdade são apenas extensões da obra. Assim, ao sair, o público nota que em uma extremidade da instalação está o espaço utópico moderno, na outra a natureza. “Num extremo está a geometria regular: clara, lógica, racional. No outro lado estão as formas tortuosas da natureza, a imprevisibilidade da vida”, diz.

Estrutura da instalação permite que visitantes caminhem por ela (Foto: Bruna de Alencar)

 

“Desarquitetura” de um símbolo modernista

Não à toa a instalação de Henrique se encontra no prédio da Nova Sede do MAC. Inaugurado em 1954, originalmente para abrigar o Palácio da Agricultura, o edifício foi projetado pelo renomado arquiteto modernista, falecido em 2012, Oscar Niemeyer. E como afirma Tadeu Chiarelli, curador da exposição, “não é possível vivenciar a experiência de penetrar no trabalho de Henrique sem levar em conta o diálogo que ele estabelece com aquela incrível arquitetura de Niemeyer”.

Nova Sede do Museu de Arte Contemporânea (Foto: Cecília Bastos/Jornal da USP)

Na instalação – construída com materiais usados normalmente para a construção de casas e edifícios – o visitante é incentivado a refletir, a partir de um processo de desconstrução, sobre as diversas transformações passadas pela Arquitetura desde o racionalismo modernista – que é a máxima que rege o edifício de Niemeyer – até as cavernas que serviam de abrigo ao homem e à mulher há milênios.

“O prédio é um dos locais mais emblemáticos do idealismo moderno. Sendo assim, Transarquitetônica se comporta como uma arquitetura dentro de outra arquitetura – ou melhor, como uma ‘desarquitetura’ dentro daquela que seria ‘o ideal de um Brasil moderno’. Obviamente este ideal está muito longe da realidade, e por isso as paredes branquinhas se corrompem na instalação até atingirem as formas mais precárias de habitação e, finalmente, as primeiras habitações humanas depois que o homem-macaco desceu dos galhos das árvores: as cavernas” explica.

Serviço

A exposição permanece até 30 de novembro, aberta ao público às terças-feiras das 10 às 21 horas e de quarta a domingo das 10 às 18 horas. A entrada é gratuita.