“Hideki foi alvo de prisão encomendada”

Diretor do Sintusp afirma que explosivos supostamente encontrados com o estudante foram plantados por policiais

Manifestantes da USP marcham na Avenida Morumbi pela libertação de Fábio Hideki; passeata foi até o palácio dos bandeirates Foto: Luiza Leal

O estudante de Jornalismo da USP e funcionário do Centro de Saúde Escola do Butantã, Fábio Hideki Harano, 26, foi preso no último dia 23 de junho por supostos atos de vandalismo durante protesto contra os gastos públicos na Copa do Mundo. O professor de inglês e ex-policial Rafael Marques Lusvarghi, 29, também foi detido.

Os ativistas, que não se conheciam, estavam no metrô Consolação quando foram abordados por agentes do Departamento Estadual de Investigações Criminais (DEIC) e presos por associação criminosa e posse de explosivos.

Enquanto o secretário de Segurança Pública de São Paulo, Fernando Grella, afirma ter capturado os primeiros líderes do movimento Black Bloc, testemunhas relatam que os policiais revistaram a mochila de Hideki e não encontraram nada relevante que justificasse a sua detenção, contradizendo os agentes.

A prisão do estudante, que é membro do comando de greve da sua categoria, foi incorporada à pauta da greve e desencadeou uma série de protestos, dentre eles um ato no vão livre do Museu de Arte de São Paulo (Masp) e a marcha de servidores e estudantes da USP até o Palácio dos Bandeirantes, ambos realizados no dia 26 de junho, simultâneos a uma partida da Copa do Mundo na Arena Corinthians. Durante a caminhada em direção à residência do governador Geraldo Alckmin, os manifestantes gritavam as palavras de ordem: “Fábio é trabalhador! Terrorista é o governador!”. Na última terça-feira, cinco ativistas foram detidos durante protesto na Praça Roosevelt pela libertação de Hideki e Lusvarghi. Dois deles eram advogados e integrantes do grupo Advogados Ativistas.

O Fórum das Seis, que reúne as entidades sindicais e estudantis da Unesp, Unicamp, USP e do Centro Paula Souza (Ceeteps), divulgou uma moção de repúdio à prisão de Hideki e Lusvarghi, dizendo-se “convencidos de que se trata de uma tentativa do governo paulista de criminalizar os movimentos sociais”. No texto, é citado o vídeo que mostra os policiais revistando a mochila de Hideki na presença de outras pessoas, inclusive do Padre Júlio Lancelotti, que confirma a inexistência dos explosivos encontrados “em flagrante”, segundo os oficiais do DEIC.

Um estudante de Pedagogia da USP e funcionário da Faculdade de Veterinária, que preferiu não se identificar, comenta que a prisão dos manifestantes foi totalmente arbitrária e remete aos tempos da ditadura. “Sem mais nem menos, no metrô, o cara é algemado, preso, levado para o Cadeião de Pinheiros e no dia seguinte transferido para um presídio onde ficam as ‘personas non-gratas’. Parece que estamos regredindo anos atrás, quando as pessoas eram simplesmente presas, desapareciam da noite para o dia sem o direito de se defender e acusadas sem o menor cabimento.”

Para Magno de Carvalho, diretor do Sintusp, Hideki foi alvo de uma armação. “Esses explosivos que a polícia havia encontrado foram plantados pelo DEIC, e nós sabemos, a mando do secretário de Segurança Pública. Uma prisão encomendada, com calúnia e uma grande armação para incriminar o companheiro. Nós não vamos aceitar isso”, afirmou.

Com pedido de habeas corpus negado, Hideki aguarda seu julgamento no Centro de Detenção Provisória (CDP) de Tremembé, a 147 km de São Paulo, capital.