A cobertura da mídia e o conflito ideológico no conflito Israel-Palestina

Os jornais são produzidos por empresas privadas, que sobrevivem do lucro e possuem linha editorial (princípios que norteiam as posições do veículo). Esses fatores interferem, de maneira mais ou menos direta, na cobertura de determinados assuntos.

Geralmente, assuntos polêmicos despertam emoções, polarizações e tomadas de lado. Cada veículo, pautado em sua linha editorial, vai abordar o fato alinhado a um viés que lhe pareça justo. É importante entender que não existe certo ou errado quando se trata de posições. O problema é não jogar limpo em relação a essas posições e vender uma matéria  que se apresenta como imparcial, a princípio, mas que contém uma série de pressupostos e julgamentos de valores. Para Gabriel Toueg, jornalista judeu e árabe que cobriu conflitos no Oriente Médio durante sete anos, o jornalismo internacional praticado no Brasil ainda é muito superficial. “Fora daqui faz-se jornalismo mais informativo e formador”.

Segundo Toueg, Israel é uma das áreas mais bem cobertas pela mídia do mundo. Desde o início do conflito, 580 jornalistas já se cadastraram para cobertura. Esse número exclui, no entanto, os profissionais que não realizaram cadastro, uma vez que ele não é obrigatório. “Israel tem a maior concentração de jornalistas, mesmo em tempos de paz. A região pode ser considerada de fácil cobertura se comparada à Síria ou ao Iraque”. Apesar disso, o acompanhamento do conflito feito pelos jornais brasileiros ainda deixa muito a desejar. Mas, por quê? Para ele, a imprensa brasileira está repleta de “achismos equivocados” e falta real interesse de “formar e informar”.

O jornalista e editor de Países do Almanaque Abril, Fábio Sasaki, destaca a dependência das agências internacionais de notícias, o que acaba gerando uma cobertura mais homogênea e rasa. Segundo ele, a imprensa tem lados. “Como a abordagem cotidiana centrou-se fundamentalmente nos estragos à infraestrutura e nas mortes provocadas pelo conflito, o noticiário tornou mais evidente a desproporção da força empregada por Israel. Neste quesito, Israel parecia ter perdido a chamada ‘batalha de informação’”.

Para Sasaki, as empresas de comunicação que possuíam um alinhamento pró-Israel conseguiram balancear isso com as análises e artigos opinativos. Os espaços de opinião também servem para se diferenciar da homogeneidade gerada pela reprodução de materiais das agências. “A maioria dos colunistas dos grandes jornais são conservadores, refletindo a posição de seus patrões. Tem sido cada vez mais difícil encontrar vozes ponderadas e equilibradas. Muitos articulistas acabam caindo num ‘Fla-Flu ideológico’, se rendendo a uma polarização que ignora as nuances e as complexidades que um tema como a questão palestina exige”, esclareceu.

O jornalista José Arbex Júnior, professor da PUC-SP, crê numa demonização palestina por parte da mídia. “Em geral, é um comportamento ditado pelo preconceito orientalista. Na mídia europeia, você encontra alguns contrapontos importantes, principalmente por parte de correspondentes e articulistas que não cedem à pressão do preconceito”.

A contextualização é o primeiro passo para que se tenha uma cobertura mais justa. Durante o conflito, os jornais quase não abordaram os acontecimentos predecessores e imprescindíveis para uma compreensão ampla do problema.

por GABRIEL LELLIS e THAIS MATOS