“Fábio foi alvo de uma grande injustiça”

O caso da prisão de Fábio Hideki Harano, 27, estudante de Jornalismo e funcionário da USP, gerou revolta em diversos setores da Universidade, principalmente entre os trabalhadores e alunos da ECA. Ele foi preso em um ato em 23 de junho, acusado de associação criminosa armada, desobediência e posse de artefato explosivo. Depois de passar mais de 40 dias em cárcere, Harano deixou a Penitenciária 2 de Tremembé, no interior de São Paulo, no dia 7 de agosto.

A decisão por sua libertação ocorreu após seu advogado e a Defensoria Pública protocolarem pedidos de reconsideração da prisão preventiva. Os advogados tomaram como base o laudo da Polícia Militar, que comprovou que o material encontrado com o estudante no momento da prisão não era explosivo. Agora, Harano busca se isolar: enquanto aguarda seu julgamento, evita se expor, falar ao telefone ou trocar mensagens pela internet.

ANTES, DURANTE E DEPOIS

A estudante de Artes Plásticas Renata Passos estava presente na manifestação do dia 23 de junho e contou um pouco do que viu: “Não estava lá no momento em que o Hideki foi preso, porque isso aconteceu depois da passeata. Sei que foi uma manifestação complicada, com um efetivo policial totalmente desproporcional ao número de manifestantes”, lembra. “Tínhamos combinado que iríamos até o fim da Avenida Paulista, daríamos a volta e acabaríamos no MASP. Quando chegamos no museu, porém, nos separamos. O Hideki foi preso depois de ter se dispersado totalmente da manifestação, quando estava sozinho no metrô. Isso é um ataque muito grave, não somente a ele, especificamente, mas também à possibilidade de mobilização da população”, opina Renata. Para ela, nada justifica a prisão de Harano: a ação foi totalmente arbitrária.

Giulia Confuorto, aluna do terceiro ano do curso de Artes Cênicas da ECA, partilha da mesma opinião. “Prenderam o Hideki sob a alegação de porte de explosivos, sendo que tem um vídeo na internet mostrando que isso é mentira”, defende. Para Giulia, as recorrentes atitudes da Polícia são uma prática plenamente consciente do atual governo para intimidar os ativistas. “Depois das manifestações do ano passado, o governo viu que a população percebeu que ela pode ir pra rua, lutar e vencer. A prisão do Hideki se encaixa nesse contexto de intimidação e, infelizmente, é natural que as pessoas fiquem com medo, mesmo”, lamenta.

O professor da ECA e jornalista Eugênio Bucci também comentou o fato: “A partir dos dados produzidos pela própria perícia, ficou provado que o Fábio foi alvo de uma grande injustiça. Não havia elementos suficientes que justificassem o tempo que ele ficou preso. Como qualquer outro cidadão, ele pode sofrer acusações, mas estas não podem ser arbitrárias. Mais ainda: ele tem o direito de responder a quaisquer acusações em liberdade, com excessão de alguns casos excepcionais previstos pela lei. Os elementos que constam no processo indicam que isso não se deu, tanto é que o próprio judiciário concluiu que o Fábio deveria ser solto”.

Sobre a postura da ECA e dos outros estudantes em relação ao caso, as alunas citadas anteriormente acreditam que houve omissão. Para Renata, a Escola falha em relação a tomadas de atitude, não apenas com o caso Harano, mas também com outros processados. Giulia acredita que a falta de posicionamento da unidade é problemática e deixa claro que muitas vezes a própria ECA se coloca contra os movimentos que acontecem dentro da USP. “O Hideki ficou mais de 40 dias em cárcere e não houve nenhuma postura efetiva da ECA em relação a isso. Talvez não seja apenas negligência, mas também um posicionamento político específico”, opina.

Já Bucci discorda. “Cerca de dez dias depois da prisão, eu e os outros professores do departamento [de Jornalismo e Editoração] aprovamos um documento que foi enviado para a defesa do Fábio. Da nossa parte, eu não vejo omissão. Sempre acreditei que, quando um aluno nosso passa por algum tipo de situação difícil, não necessariamente de natureza criminal, nós devemos oferecer algum tipo de apoio a ele”, afirma.

por ANAÍS MOTTA